Russell D. Moore
Fomos avisados que mídia
social pode nos distrair diminuir nossa atenção, nos desligar de
relacionamentos da vida real. Agora um novo estudo sugere que o Facebook também
pode tornar-nos infeliz. Eu suspeito que há alguma medida de razão nisto, e não
é apenas sobre o Facebook. Trata-se de nossas igrejas.
A revista Slate cita um artigo em uma revista de
psicologia social que iniciava com uma observação sobre como os estudantes
universitários se sentiam mais desanimados após fazerem logon no Facebook.
Havia algo que os entristecia ao “percorrer outros perfis e fotos legais,
biografias vencedoras, e atualizações de status.” Os alunos tiveram o humor
obscurecido porque acreditavam que todo mundo era mais feliz que eles.
A jornalista Libby
Copeland especula que o Facebook pode “ter um poder especial de nos fazer mais
tristes e solitários.” Como pode acontecer isso, no entanto, quando o Facebook
geralmente é assim… bem, feliz, cheio de rostos sorridentes e famílias bonitas?
Bom, esse é justamente o ponto.
“Ao apresentar a parte
mais espirituosa, alegre de vidas tão bonitas, e convidar as pessoas a
constantes comparações em que tendemos a nos ver como os perdedores, o Facebook
parece explorar o calcanhar de Aquiles da natureza humana”, escreve Copeland.
“E as mulheres, um grupo especialmente infeliz, podem tornar-se especialmente vulneráveis
ao se informarem sobre o que imaginam ser a felicidade dos vizinhos.”
Sim, Copeland escreve, o
Facebook pode registrar crianças bonitinhas e momentos agradáveis, mas isso
nunca é o todo, ou mesmo a maior parte, da história de vida de qualquer pessoa.
“Lágrimas e acessos de raiva raramente são registrados, nem os surtos de
maluquices”, escreve ela.
Agora, em um sentido,
quero falar com quem realmente se preocupa com o Facebook. Se você é aquele que
se compara aos outros, desligue a tela do computador e faça uma desintoxicação
do brilho azul dela. Mas ao mesmo tempo, me parece, o mesmo fenômeno está
presente nos bancos de nossas igrejas cristãs.
Nossos “bem sucedidos”
pastores e líderes sabem sorrir. Alguns deles fizeram escovinhas e usam
abotuaduras, outros são grunges e usam cabelo bagunçado. Mas eles estão aqui
para nos “empolgar” sobre “o que Deus está fazendo em nossa igreja.”
Nossas músicas de
adoração são tipicamente celebrativas, tanto nas letras quanto na expressão
musical. Na última geração, uma canção triste sobre a crucificação foi animada
com um coro bem alegre: “Foi ali pela fé que um dia eu vi, e agora estou feliz
o dia todo!”
Este não é apenas um
problema da grande geração reavivalista. Mesmo as músicas de adoração
contemporâneas que vêm diretamente dos Salmos tendem a se concentrar em salmos
de crescimento ou de exuberância alegre, não salmos de lamento (e certamente
não em salmos imprecatórios!).
Podemos facilmente
cantar com o profeta Jeremias: “grande é a tua fidelidade” (Lm 3:23). Mas quem
pode se imaginar cantando, na igreja, com Jeremias: “Cobriste-te de ira, e nos
perseguiste; mataste, não perdoaste. Cobriste-te de nuvens, para que não passe
a nossa oração. Como escória e refugo nos puseste no meio dos povos.”(Lm
3:43-45).
Essa sensação de
jovialidade forçada é visto nas “liturgias” ad hoc¹ da maioria das
igrejas evangélicas na saudação e na despedida. Ao começar o culto temos um
pastor sorrindo ou um líder de louvor empolgado: “É ótimo ver você hoje!” Ou
“Estamos felizes por você estar aqui!”. Ao terminar o culto o mesmo semblante
sorridente e cheio de dentes diz: “Vejo vocês no próximo domingo! Tenham uma
ótima semana!”
Claro que teremos. O que
mais poderíamos fazer? Estamos alegres no Senhor, não estamos? Queremos
incentivar as pessoas, não é? E, no entanto, o que estamos tentando fazer não
está funcionando, mesmo nos termos que estabelecemos para nós mesmos. Suspeito
que muitas pessoas em nossos bancos olham ao redor e acham que os outros têm
a felicidade que continuamos prometemos, e se perguntam por que ela
passou por elas sem avisar.
Ao não falar, quando a
Bíblia fala, sobre toda a gama de emoções humanas, incluindo a solidão, a
culpa, a desolação, raiva, medo, desespero, apenas deixamos o nosso povo
perguntando por que eles simplesmente não podem ser “cristãos” o suficiente
para, afinal de contas, sorrir.
O evangelho fala uma
“língua” diferente, no entanto. Jesus diz: “Felizes os que choram, porque serão
consolados” (Mt 5:4). No reino, recebemos o conforto de uma forma muito diferente
do que somos ensinados em nossa cultura. Recebemos o conforto não por, de um
lado, chorar por nossos direitos ou, por outro lado, fingir nossa felicidade.
Somos consolados quando vemos o nosso pecado, nossa fragilidade, nossa situação
desesperadora, e lamentamos, choramos, clamamos por libertação.
É por isso que Tiago,
irmão de nosso Senhor, parece tão fora de sintonia com o ethos contemporâneo
evangélico. “Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai”, ele escreve.
“Converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza” (Tiago 4.9). O
que aconteceria a um líder de igreja que terminasse o culto dizendo ao seu
povo: “Tenha um dia infeliz!” Ou “Espero que todos chorem bastante esta
semana!” Soaria como louco. Jesus sempre parece louco para nós, à
primeira vista (Jo 7.15, 20).
Ninguém é tão feliz
quanto parece no Facebook. E ninguém é tão “espiritual” quanto parece com
o que julgamos como “espiritual” o bastante para o culto cristão. Talvez o que
precisamos em nossas igrejas são mais lágrimas, mais falhas, mais confissão de
pecados, mais orações de desespero que são profundas demais para palavras.
Talvez, então, os
solitários, culpados e os desesperados entre nós verão que o evangelho não
chegou para o feliz, mas para os contritos de coração, não para o saudável, mas
para o doente, não para os achados, mas para os perdidos.
Portanto, não se
preocupe com as pessoas felizes e deslumbrantes do Facebook. Elas precisam de
conforto e libertação tanto quanto você. E, mais importante, vamos deixar de
ser essas pessoas felizes e deslumbrantes quando nos reunimos em adoração. Não
tenhamos vergonha de gritar de alegria e não tenhamos vergonha de chorar de
tristeza. Vamos nos educar, não para fazer publicidade, mas, para a oração, por
arrependimento e por alegria.
¹ Ad hoc = que tem uma
finalidade especifica
LARYSSA LOBO