quarta-feira, 30 de abril de 2014

Reflexões no Salmo 119

Não há como o cristão se debruçar sobre o Salmo 119 e não render honras, louvores e glórias a Deus pela sua santa lei. O salmista mostra a beleza, a santidade, a pureza e perfeição desta lei para  orientar, guiar e mantê-lo no caminhos do Senhor. Como num romper de forças o salmista desata a dizer que tem suspirado pelos preceitos de Deus (v. 40), desejando o encontro com os preceitos de Deus, pois sabe que através deles será vivificado.

O folgar do salmista, isto é, o seu descanso, o seu prazer está na lei do Senhor, com a qual ele se alegra mais do que todas as riquezas do mundo. Isto nos deve fazer refletir sobre a riqueza que temos em Cristo Jesus. Riqueza esta que ladrão não rouba, traça não destrói e nada nos fará separar do amor de Deus em Cristo. E recebemos este tesouro pela pregação da Palavra (da lei do Senhor), que testemunha de Cristo, sua obra e salvação para todo aquele que nele crê. E nisto passamos a testemunhar desta santa lei. No verso 46, o salmista canta que falará dos testemunhos do Senhor perante os reis. E deve ser assim nossa vida, cantando a lei do Senhor aonde formos com nossas vidas.

Na Lei do Senhor há refrigério para nossas almas, quando passamos pelo vale da sombra da morte, no sofrimento, nas perdas, no pecar, no ser disciplinado por Deus e na lei do Senhor também encontramos a promessa de restauração. (verso 28)

Qual o verdadeiro caminho para a felicidade? Mais uma vez o salmista nos fala. No verso 30 ele diz "Escolhi o caminho da felicidade e decidi-me pelos teus juízos". Felicidade? Só na Lei do Senhor. Só em Cristo. E isto não significa vida mansa ou livre de tribulação, mas a certeza de paz e contentamento em toda e qualquer situação, pois o nosso coração descansa na Lei do Senhor.

Presb. Cicero da Silva Pereira

segunda-feira, 28 de abril de 2014

3 Maneiras que Noé Resume a Grande História da Bíblia

Todo mundo conhece a história de Noé e a Arca, certo?
Afinal, qual é a casa na América (com crianças pequenas) sem alguma representação de um bicho de pelúcia da arca bonito acompanhado por um arco-íris e uma, com a aparência de um velho barbudo? Os meus filhos adoraram os brinquedos de banho da arca de Noé. Depois, há os livros de histórias, desenhos animados e os "documentários" aparentemente onipresentes alegando "prova" ou que a história é mito, ou que os restos da real arca foram descobertos.

Pode-se também mencionar a minisséries de TV de 1999, ou a comédia de Hollywood 2007 Evan Almighty. Agora, há um novo filme de Hollywood (o que eu não vi), estrelado por nomes como Russell Crowe, Anthony Hopkins e Emma Watson.
Claro, os cristãos biblicamente fiéis seriam rápidos em apontar que essas representações populares inevitavelmente perdem o ponto inteiramente.
Qual é então o ponto?
Muitos cristãos seriam rápidos para dizer que o dilúvio é a respeito do pecado, da justiça e da ira de Deus. E, enquanto que é, pelo menos, parcialmente verdade. As verdades parciais podem ser as mais enganosas de todos. O verdadeiro ponto está no fato de que esta história apresenta alguns dos temas centrais das Escrituras pela primeira vez dentro da narrativa da revelação de Deus.
Deixe-me mostrar-lhe o que quero dizer.

1. NOÉ MOSTRA QUE O PECADO ENTRISTECE DEUS
Para começar, Gênesis 6:6-7 nos dá a primeira visão registrada da resposta de Deus ao pecado um nível emocional. Eu acredito que esta é de importância enorme. E, curiosamente, a primeira resposta de Deus  não é a ira ou raiva. Pelo contrário, o que vemos é tristeza tingida com pesar, como nos é dito que Deus é literalmente entristecido de coração.

Muitas vezes pensamos em pecado em termos meramente transacionais, como a desobediência aos mandamentos ou lei. A infração, então, cria culpa e provoca a ira justa de um Deus santo. Embora tecnicamente verdade, essa visão é inerentemente impessoal e quase mecânica.

A história de Noé apresenta alguns dos temas centrais das Escrituras pela primeira vez dentro da narrativa da revelação de Deus.
O que vemos claramente, primeiramente na história de Noé é que o pecado é essencialmente relacional. Para Deus, o nosso pecado é profundamente pessoal. O que vemos aqui é algo semelhante às emoções de um pai amoroso dolorido e triste ao coração sobre o pecado persistente de um filho ou filha rebelde. Sim, a raiva está na mistura, mas a ênfase principal é profunda dor e decepção transmitidas através de muitos anos de amor paciente.
A história de Noé destrói completamente a venda dos olhos que muitas vezes usamos pelo efeito de nossas escolhas pecaminosas sobre o coração do nosso Pai no céu. Meu pecado faz com que a maior dor em primeiro lugar ao meu Pai no céu. O Rei David tinha razão (Sl. 51:4 ).

2. NOÉ MOSTRA QUE DEUS DÁ GRAÇA
Também importante, e talvez surpreendentemente, a história de Noé nos dá a primeira menção de graça na Bíblia.
Pergunta: Por que Deus salva Noé e sua família?
Anos atrás, quando perguntei, eu imediatamente puxei a minha resposta de Gênesis 6:9: “Noé era um homem justo e íntegro em sua geração." O que eu perdi e que muitos de nós falta-é o verso anterior, que nos diz: “mas Noé achou graça [literalmente graça] aos olhos do Senhor “( Gênesis 06:08 ).
Curiosamente, a primeira resposta de Deus para o pecado não é a ira ou raiva.
Sim, Noé era um homem justo, mas pela graça e não pelas obras. Isso é muito claro por outro conjunto de referências bíblicas na história de Noé: a saber, que crescem uma vinha, fazendo o vinho, ficando bêbado, e que passam a nu (Gn 9:20-23). Noé foi definitivamente justo somente pela graça! A esperança começa a aparecer.

3. NOÉ MOSTRA QUE DEUS FAZ UMA ALIANÇA CONOSCO
A nota mais esperançosa de tudo, no entanto, vem com a primeira ocorrência nas Escrituras da palavra "aliança". Esta é a história de um Pai amoroso e paciente cujos filhos, criados à sua imagem, trazer-lhe dor, angústia, e dor através da rebelião.
A resposta de Deus é o julgamento, trazendo morte universal através do dilúvio. Mas o dilúvio, embora merecido, é impotente para acabar com o pecado e dar um novo começo para uma humanidade justa em um novo jardim. O estado da humanidade não é diferente, depois do dilúvio do que era antes (24:37-39 Matt.). O horror do pecado continua. A intenção de cada coração humano permanece mal (Gen. 6:05). Julgamento e morte continua a ser justa e universalmente merecida hoje.
Sim, Noé era um homem justo, mas pela graça e não pelas obras.
Por um lado, portanto, o dilúvio parece fútil e inútil, mas é aí que reside o ponto principal. O dilúvio não leva a nada (em última instância), mas antecipa tudo. Noé e sua família foram salvos pela graça. Deus estabeleceu um pacto por um só homem pelo qual a raça humana foi preservada.
Esta história verdadeira, de autoria do Espírito Santo através da pena de Moisés, aponta para frente, antecipando um melhor pacto estabelecido de uma vez por todas por um só homem, Jesus.
Ele revela nosso pecado, mostra-nos o coração de Deus, e alerta para o julgamento merecido. Ele antecipa a oferta genuína de uma nova identidade, sendo justificados pela fé em Cristo, que sofreu a morte e o julgamento em nosso lugar. Como resultado, somos adotados em uma nova família sob o Filho justo. Nele conhecemos a alegria da salvação e da promessa de um novo começo em uma nova criatura, livre da presença do pecado.
Pense na história de Noé como sendo como uma mordida de um aperitivo envolto em bacon. Não é satisfatório em si, mas deve levar-nos a salivar em antecipação do banquete por vir. Não vamos perder o ponto principal.


Publicado em:


Tradução e Edição

Jéssica Figueiredo

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Como Encontrar Descanso na Fidelidade de Deus? Com a Palavra A. W. Pink

 A infidelidade é um dos pecados mais proeminente nestes maus dias. Com raríssimas exceções, a palavra de um homem não é mais a sua fiança, nos negócios deste mundo. No mundo social, a infidelidade conjugal ocorre por todo lado, sendo que os laços matrimoniais são desfeitos com a mesma facilidade com que uma roupa velha é rejeitada. Na esfera eclesiástica, milhares que se comprometeram solenemente a pregar a verdade, sem nenhum escrúpulo a negam e a atacam. Nem o autor, como tampouco o leitor, podem arrogar-se completa imunidade deste pecado terrível: de quantas maneiras temos sido infiéis a Cristo, e à luz e aos privilégios que Deus nos confiou! Como é animador então, que indizível benção é erguer os olhos acima desta ruinosa cena e contemplar Aquele que, só Ele, é fiel, fiel em tudo, fiel o tempo todo.

      Deus é verdadeiro. Sua Palavra de promessa é certa. Em todas as Suas relações com o Seu povo. Deus é fiel. Pode-se confiar nEle, com segurança. Nunca houve alguém que tivesse confiado nEle em vão. Vemos esta preciosa verdade expressa em quase toda parte nas Escrituras, pois o Seu povo precisa saber que a fidelidade é uma parte essencial do caráter divino. Esta é a base da nossa confiança nEle. Mas, uma coisa é aceitar a fidelidade de Deus como uma verdade divina, e outra coisa, muito diferente, é agir com base nisso. Deus “nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas”, mas nós contamos realmente com o seu cumprimento por Deus? Esperamos de fato que Ele vai fazer por nós tudo que disse que fará? Descansamos com implícita segurança nestas palavras: “... fiel é o que prometeu” (Hb 10:23)?

      Há ocasiões na vida de todos em que não é fácil, nem mesmo para os cristãos, crer que Deus é fiel. Nossa fé é provada dolorosamente, nossos olhos ficam toldados pelas lágrimas, e não conseguimos mais encontrar o rumo dos baluartes do Seu amor. Os nossos ouvidos se distraem com os ruídos do mundo, arruinados pelos sussurros ateísticos de Satanás, e não conseguimos mais ouvir a doce entonação da voz mansa e delicada do Senhor. Sonhos alimentados foram frustrados, amigos em quem confiávamos falharam conosco, um falso irmão ou irmã em Cristo nos traiu. Vacilamos. Procuramos ser fiéis a Deus, e agora uma trevosa nuvem O esconde de nós. Achamos difícil, impossível mesmo, à razão carnal harmonizar a Sua sombria providência com as promessas de Sua graça. Ah, alma titubeante, companheiro de peregrinação provado com tanto rigor, procure graça para ouvir Isaías 50:10: “Quem há entre vós que tema a Jeová, e ouça a voz do seu servo? Quando andar em trevas, e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus”.


“Não julgues o Senhor por tua mente,
Porém, confia nEle por Sua graça.
Por trás de uma severa providência
Ele oculta um semblante sorridente.
Animai-vos, ó santos temerosos!
As nuvens que temíveis vos parecem,
Ricas são de mercês, e irromperão
“Em benção derramadas sobre vós.”

      A percepção desta bendita verdade calará as nossas murmurações. O Senhor sabe o que é melhor para cada um de nós, e um efeito da confiança nesta verdade será o silenciar das nossas petulantes reclamações. Deus é grandemente honrado quando, sob provação e castigo, temos bons pensamentos sobre Ele, vindicamos a Sua sabedoria e justiça, e reconhecemos o Seu amor mesmo em Suas repreensões.



PINK, A. W. Os Atributos de Deus. Trad. Odayr Olivetti, S.Paulo, PES, 1990. Cáp.: 10.

Lídia Santos
Facebook: https://www.facebook.com/lidiasantoss

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A Espera de um Desesperado

Sim, somos desesperados desde sempre. Desesperados porque a hora passa de forma rápida e não dá tempo para fazer tudo e desesperados porque a hora não passa e aqueles momentos esperados não chegam rápido.

Exercitar a espera e adquirir a paciência são exercícios que exigem muito e nem sempre estamos dispostos a pelejar por isso. "Poxa, não tenho paciência suficiente para ser uma pessoa que sabe esperar". (Bem assim não é?).

Essa é a história de Jairo: Marcos: 5. 22. Chegou um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo e, logo que viu a Jesus, lançou-se lhe aos pés. 23. E lhe rogava com instância, dizendo: Minha filhinha está nas últimas; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos para que sare e viva. 24. Jesus foi com ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava.

Sua filha estava morrendo e ele correu ao saber que Jesus estava por perto, correu, implorando-O que fosse até sua filha para curá-la.

No meio do caminho de Jairo apareceu a mulher com fluxo de sangue, que tocando as vestes de Cristo, desejando a cura, fez acender nEle o desejo de saber quem havia tocá-lo, pois sentia grande fraqueza após a cura.

"Imagina a ansiedade de Jairo com tudo isso; a irritação dos discípulos; a paciência e a calma de Jesus. Aquela mulher que sofria de uma doença crônica que estava recebendo atenção, em vez da garotinha que sofria de uma doença fatal." (A cruz do Rei - Tim Keller).

Podemos pensar que como pode Jesus deixar a garotinha padecendo em sua casa, dando atenção à outra pessoa, ao invés de ir logo cuidar dela. Mas essa é uma das lições da passagem. O tempo de Deus é diferente do nosso. A execução dos planos Soberanos cabem somente ao Pai e nós, como desesperados, queremos tudo logo e agora, nada de daqui a pouco nos satisfaz.

"Ele se fez fraco para que possamos ser fortes. Não há nada mais aterrorizante para uma criança do que soltar a mão dos pais quando está no meio de uma multidão ou no escuro, mas isso não é nada, se comparado com a perda do próprio Jesus. A mão dele escapou da mão do Pai na cruz. Ele foi para o sepulcro para que pudéssemos ser tirados de lá, ressurretos. Jesus soltou a mão do Pai para que soubéssemos que, uma vez que estivesse segurando nossa mão, ele jamais nos abandonaria." (A cruz do Rei - Tim Keller).


Laryssa Lobo

quarta-feira, 23 de abril de 2014

A Igreja é a sua Cara

Muitos criticam a igreja local, o ambiente onde os cristãos se reúnem. E falam bem da Igreja invisível. Contudo, ninguém vê a igreja invisível, e dela fazem parte pessoas visíveis. Jesus nunca disse para não congregarmos, antes nos alertou que teríamos na igreja visível tanto ovelhas como bodes. Tanto joio como trigo. E não caberia a nós separar. O que muitos fazem é apontar os defeitos da igreja local. Contudo, todos temos defeitos.
Uma igreja com a nossa cara será totalmente imperfeita. O problema está quando olhamos para as pessoas imperfeitas ao nosso redor sem ter graça e misericórdia. Então condenamos. Criticamos. Nos afastamos. A igreja, por mais pecadora que seja, é o melhor lugar do mundo. É o lugar onde, apesar de ter joio e trigo juntos, apesar da falta de misericórdia e graça muitas vezes, lá é o lugar onde também poderemos encontrar graça e misericórdia. Onde também encontraremos pessoas tentando ser parecidas com Jesus e aprender com elas. Aprenderemos até com aqueles que não se parecem com Jesus. Aprenderemos a amar, exercitar a paciência, ter coração para com a miséria.
Não busque se afastar das pessoas. Busque estar junto com pecadores que querem ser parecidos com Jesus. Você é igreja. E a igreja é a sua cara. Hoje ela é julgadora, egoísta e prepotente? Talvez seja porque nós somos assim. Graças a Deus porque Ele nos transforma. Eu constantemente me vejo egoísta, julgador e prepotente. E constantemente preciso dobrar meus joelhos e pedir misericórdia. A igreja local é o melhor lugar do mundo onde você pode dedicar sua vida.

Daniel Vasconcelos
Publicado em: http://www.somenteagraca.com/2014/01/a-igreja-e-a-sua-cara.html/

Intercâmbio feito por Jhonatas Araújo

terça-feira, 22 de abril de 2014

O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Cair em Falsas Doutrinas

"Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal. Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus." 
                                                                                  (2 Pe 1:20,21)


          Depois de acolhermos essas palavras proferidas pelo apóstolo Pedro, tendo ele tratado nesse texto a respeito da origem divina e da confiabilidade das Escrituras Sagradas, podemos fazer algumas breves observações sobre questões pertinentes à sadia interpretação dos Textos Sagrados e também considerações a respeito do que temos vivenciado nos nossos dias com relação à má interpretação bíblica e suas drásticas consequências para a Igreja.

1) A BÍBLIA E SUA DIVISÃO

            Quando abrimos nossa Bíblia logo vemos todos os seus livros divididos em capítulos e versículos. Essa divisão é um recurso bastante interessante que nos permite facilitar a leitura nas igrejas, bem como o encontro de uma citação bíblica, a comparação entre um texto e outro, etc; entretanto, mesmo em meio a tantos benefícios, temos que ter em mente que esse desmembramento do texto é um elemento que foi adicionado, não fazendo parte dos manuscritos originais, pois todos os livros foram escritos em forma de texto corrido. 

            Por que saber disso é importante? Porque embora tal divisão tenha sido um método que veio para nos ajudar, ela também teve e tem uma contribuição danosa para nós por conta de alguns que fizeram e fazem mal uso dela. Vejamos o porquê no decorrer do texto.


2) A BÍBLIA E SEU CONTEXTO

            Outro fator que merece nossa atenção que cada livro da Bíblia possui suas particularidades. Embora todos eles estejam centrados na pessoa de Cristo e não se contradigam entre si, todos eles têm seu assunto principal, seu propósito, público-alvo; e é o conjunto de todo o livro que trará a correta interpretação e aplicação de cada versículo contido nele.
            Louis Berkhof, em seu livro "Princípios de interpretação Bíblica" [1] discorre sobre os três principais pontos relacionados à interpretação bíblica, sendo eles: A interpretação gramatical, a histórica e a teológica. Falemos rapidamente sobre eles:

                     a) Gramatical: A interpretação gramatical está intimamente ligada ao estilo literário do texto. Um exemplo básico disso é o notável uso de figuras de linguagem em muitos livros das Escrituras, sejam elas metáforas, metonímias, ironias, etc. Isso é um dos pormenores não podem ser deixados de lado se quisermos entender o sentido do texto. Além de atentar para o estilo literário, Berkhof ainda dá importância à interpretação do pensamento ou a interpretação lógica, afirmando que "ela baseia-se na suposição de que a linguagem da Bíblia é, como em qualquer outra linguagem, um produto do espírito humano, desenvolvida sob direção providencial." [2]

                     b) Histórico: Mesmo sendo muitas vezes ignorado, o aspecto histórico desempenha um papel valoroso na correta interpretação bíblica. As circunstâncias sociais do autor, seu propósito, o público original influenciam de forma direta na compreensão correta do texto.

                     c) Interpretação teológica: Embora a interpretação lógica e histórica sejam necessárias, por vezes, não são suficientes. Uma afirmação que entra nesse princípio de interpretação, por exemplo, é de que "a Bíblia é a Palavra de Deus". Aqui é necessário mais que conhecimento gramatical ou histórico. O fato é que não se chega a conclusões como essa de todo o coração sem a ação do Espírito Santo iluminando os olhos do entendimento.

3) A BÍBLIA E SUA SUFICIÊNCIA E INFALIBILIDADE

          "Quanto a você, porém, permaneça nas coisas que aprendeu e das quais tem convicção, pois você sabe de quem o aprendeu. Porque desde criança você conhece as sagradas letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus." (2 Tm 3:14-15)

       Temos uma profunda necessidade das Escrituras. Em Hebreus 1:1 vemos que Deus, outrora, se revelou verbalmente, tendo falado por meio de profetas. Essa revelação (que compreende o Antigo Testamento) foi esporádica, progressiva e incompleta, embora tenha sido genuína. Foi em Jesus, o Filho do Homem, que Deus foi plenamente revelado (Cl 2:9; Hb 1:1-3). Cristo é a completa e perfeita Revelação de Deus! Essa revelação também foi escrita e compreende o Novo Testamento. "Isso torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar a Deus e a sua vontade ao seu povo" (CFW, I.I) [4]

         A Bíblia deve ser a nossa única regra de fé e prática. Além de ser a revelação de Deus, é a forma que Ele usa para mostrar à Igreja a sua vontade. Ela nos é completamente suficiente, sendo toda inspirada por Deus e útil para ensinar, repreender, corrigir e nos educar na justiça (2 Tm 3: 16).

          Partindo disto e vendo que muitos movimentos religiosos que se dizem cristãos negam a suficiência das Escrituras e acrescentam seus próprios pensamentos aos ensinamentos bíblicos, é de suma importância que nos apeguemos confiadamente às Verdades já reveladas. Como disse o reformador Lutero: "Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias”. Porque grandes sinais e prodígios podem ser realizados até mesmo por falsos cristos e falsos profetas (Mt 24:24), mas Aquele que pode não somente fazer grandes milagres e prodígios materiais, mas que pode convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8), a saber, o Espírito Santo de Deus, o faz, e faz por meio da Palavra de Deus (Rm 10:17).

          Ao entendermos que as Escrituras são a verbalização da vontade de Deus para nós, podemos descansar e saber que Ele sempre falará conosco e nos responderá quando estivermos afogados em dúvidas. A Palavra de Deus em sua forma escrita e imutável, é tão completa que podemos, sem qualquer receio, depositar nela toda nossa confiança e esperança. Deus falou; cabe a cada um dizer, confiadamente: "Amém. Eu creio". [3]


CONCLUSÃO

          Em suma, precisamos tomar muito cuidado para não basearmos nossas convicções em textos ou versículos isolados. Uma frase bastante conhecida diz: "Texto sem contexto é pretexto para heresia." E é! Muitos falsos profetas têm usado da própria Escritura para criar e trazer ensinamentos que a Bíblia não traz. Usam de versos e textos isolados sem dar atenção a todos os outros que vêm antes e depois, criando interpretações que muitas vezes ultrapassam o que pode se chamar de erro doutrinário, dando origem às heresias. Com sagacidade, ludibriam toda uma gente a acreditar nas fábulas engenhosamente inventadas, como a própria Escritura as caracteriza. Fujamos desses! Corramos para Jesus Cristo!

Antes de terminar, VAMOS PROPOR UM EXERCÍCIO RÁPIDO:
Primeiro, observe esses dois versos abaixo apresentados de maneira isolada, e pense na interpretação que você já tem ou terá deles. Depois disso, encontre o texto completo na Bíblia (2 Coríntios 3) e faça a leitura. O objetivo disso é mostrar o quanto somos, muitas vezes, levados por interpretações errôneas e após isso deixar o texto explicar a si mesmo. Vamos aos textos:

Texto 1) "Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica."
(2 Coríntios 3:6)


Texto 2) "Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade."
(2 Coríntios 3:17)


Você chegou a uma interpretação? 

         O propósito de ter escolhido esses dois textos foi este: Esses versículos isolados têm sido amplamente utilizados por muitos com um sentido totalmente equivocado pra justificar ações incoerentes com a Palavra de Deus. Vejamos como esses textos são geralmente interpretados:

Texto 1) "A letra mata, mas o Espírito vivifica" já virou um jargão daqueles que condenam o estudo teológico. Interpretam de forma totalmente equivocada esse texto afirmando que a teologia é a "letra", que devemos ser guiados "apenas pelo Espírito". Mas o que Paulo realmente quis dizer?  A verdade é que ele estava condenando o legalismo judaico. Os judeus cuidadosamente observavam Lei, mas não atentavam para o Cristo que é o único suficiente para nos salvar do pecado. Eles eram mais interessados na "letra" que representa o "ministério da morte, gravado com letras em pedras" que através de Moisés foi dado aos israelitas (3:7) do que no “Espírito”, a nova aliança de Cristo com a Sua Igreja, que foi revelada e escrita nos corações através do Espírito Santo (3:3-8).

Texto 2) "Onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade". Essa frase também tem sido inúmeras vezes usada hoje em dia, dessa vez para justificar comportamentos reprováveis no culto ao Senhor. Há tentativa de encobrir a falta de reverência quando afirmam: "Temos liberdade para fazer estas coisas, pois... Onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade". Não preciso nem discorrer muito sobre isso, nem você fará muito esforço pra entender esse texto. Apenas voltaremos para um versículo antes desse. Começaremos a ler a partir do v.16, que diz: "Mas quando alguém se converte ao Senhor, o véu é retirado." E a continuação... "Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade." Não é difícil entender que liberdade o apóstolo Paulo fala. Está longe de ser uma licença apostólica para gritarias e correrias no culto! A liberdade, nesse caso, é relacionada à conversão, nada, além disso.

            Diante de tudo o que foi lido, agora pare um pouco e pense nas coisas as quais você tem convicção. Qual a razão da sua fé? O que você crê tem fundamento em todo o Livro Sagrado ou apenas em textos e versos isolados? Seja sincero com você e responda: As suas interpretações sobre determinados textos vão de encontro aos demais livros das Escrituras? Se assim for, que o Espírito Santo te leve ao reconhecimento. E, ao reconhecer, que Ele te revele a Verdade. E que, depois disso, você se dobre a essa Verdade, viva por ela todos os dias e a defenda, também, sempre que necessário. 

             Que o Senhor coloque em nós o desejo de aprender mais sobre Ele, de estudar Sua Palavra e aplicá-la na nossa vida para o louvor da Sua glória! Somente dessa forma é que não cairemos na lábia dos falsos profetas.

Graça e Paz a todos os meus irmãos em Cristo.

Letícia Lima


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[1]BERKHOF, Louis. Princípios de Interpretação Bíblica. 3 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. 142 p.
[2] p.68
[3] ROSS, Ivan. Curso preparatório para a pública profissão de fé. Parte I. Lição 2. 2 ed. São Paulo: Cultura Cristã. p.9.
[4] A Confissão de Fé de Westminster, Capítulo I. Da Escritura Sagrada. I.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Em Defesa da Fé

Texto: Jd. 1: 1-4: “1Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago, aos chamados, amados em Deus Pai e guardados em Jesus Cristo, 2a misericórdia, a paz e o amor vos sejam multiplicados. 3Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos. 4Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.

Introdução
Judas tinha originalmente planejado escrever uma carta celebrando as grandes verdades da "comum salvação" que ele compartilhava com seus leitores (v. 3). Mas a notícia alarmante de que falsos mestres tinham invadido as congregações, ameaçando a ortodoxia (v. 4), o obrigou a mudar seus planos. Assim, ele escreveu denunciando os falsos mestres e seu estilo de vida sem Deus, advertindo seus leitores e chamando-os para "batalhar pela fé", de modo a proteger a verdade do evangelho (v. 3). O Novo Testamento repetidamente nos adverte do perigo que os falsos mestres apóstatas representam para a igreja. Tanto Jesus (Mt 7:15) como Paulo (At. 20:29) comparou estas pessoas com lobos ferozes. "Muitos falsos profetas surgirão", advertiu Jesus, e “enganarão a muitos" (Mt 24:11). Paulo advertiu a Timóteo: "Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos, alguns abandonaram a fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios" (1 Tm. 4:1). Pedro e João também alertaram para esses pretendentes espirituais (2Pe. 2, 3; 1Jo. 4:1-3; 2Jo. 7), assim como Judas relata em sua breve epistola de um capitulo. Judas condena com muito vigor – como deveríamos fazer hoje – os falsos mestres que estavam infiltrados na igreja em sua época, e, por consequência, todos os que ainda estavam por vir.  Em nossa cultura pós-moderna, em que a verdade é considerada relativa e a tolerância é valorizada acima de tudo, o apelo de Judas para a pureza doutrinária é urgente e inegociável. Como observa Thomas R. Schreiner:  “A mensagem de Judas fala sobre julgamento e é especialmente relevante para as pessoas de hoje, para as nossas igrejas que são propensas ao sentimentalismo, que sofrem de colapso moral, e muitas vezes deixam de pronunciar uma palavra definitiva do julgamento por causa de uma definição inadequada de amor.” Sem dúvida, a maior ameaça para a igreja sempre foi e sempre será o falso ensino, um outro “evangelho”. A sutileza desse falso ensino torna-se uma espécie de veneno espiritual que causa grandes danos e produzem muitas vitimas espirituais e as consequências são eternas.  Em sua exortação aos presbíteros de Éfeso, o apóstolo Paulo ecoou a admoestação do Senhor: “Eu sei que, depois da minha partida, lobos vorazes, penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos.” (At. 20:29–31). O resto das advertências que se encontra no Novo Testamento contém registros semelhantes, instruindo os crentes a se protegerem contra a natureza enganosa do falso ensino (Mt 24:10-14; 2 Ts. 2: 3-12; 1Tm. 4:1 -3; 2Tm. 3:1-9, 2 Pe. 2:1; 3:7; 1 Jo. 2:18-19; 4:1-3; 2Jo. 7-10; Tg. 5:1-6).

A mensagem desta epístola nos fala do comprometimento e da defesa da "fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (v. 3). A batalha aqui é pela pureza do evangelho, é o resgate da verdadeira ortodoxia.

Primeiro precisamos entender como Judas agiu em defesa da verdadeira ortodoxia nos seus dias. A preocupação de Judas aqui é sincera e pastoral por seus leitores. Essa preocupação longe de ser um sentimentalismo raso, nasceu da convicção profunda e crucial de defender a verdade de Deus. É bem verdade que a exortação não era a intenção inicial de Judas. Ele escreveria acerca da “salvação comum” que ele compartilhava com seus leitores. A exortação foi motivada por uma obrigação diante dos fatos que estavam trazendo prejuízo para o desenvolvimento da igreja naquela época. Vejam a exortação: “Exorto-vos a batalhardes diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos”.

Batalhar diligentemente significa defender a verdade sempre e vigorosamente. É justamente aquilo que Paulo fala a Timóteo: “Este é o dever de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom combate” (1Tm. 1: 18). A fé aqui é a própria ortodoxia cristã que estava sob ataque e precisava ser defendida.  A doutrina dos apóstolos, o bom deposito sagrado da verdade cristã estava sob ataque e os inimigos já procuravam solapar as grandes doutrinas fundamentais, a verdade objetiva de Deus (isto é, tudo o que pertence a nossa comum salvação). Semelhantemente Paulo admoestou Timóteo para proteger a fé (2Tm 1:13-14): “Mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste com fé e com o amor que está em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós. Paulo também disse aos Gálatas (Gl. 1:9): “Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema. O apóstolo João semelhantemente escreveu: “Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más. (2Jo. 1: 9-11).

A exortação de Judas tinha um grupo especifico: os falsos mestres – v. 4a –“Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação”. A presença dos falsos mestres já era evidente nos dias de Judas,  não era meramente hipotético, já estavam presentes na igreja. A palavra traduzida aqui por introduziram com dissimulação (pareisduō) aparece somente uma vez no Novo Testamento. Ela tem a conotação de escorregar em secreto com uma má intenção. No grego clássico significa a astúcia de um advogado que, através da argumentação inteligente, infiltra-se nas mentes dos funcionários nos tribunais e corrompem o seu pensamento. Eles se infiltram na igreja clandestinamente com o objetivo de propagar o engano. Essa infiltração mina a comunhão, a adoração, o evangelismo.

A igreja sucumbe aos erros tanto na doutrina (ortodoxia) como na pratica (ortopraxia). Na igreja de hoje, tal infiltração tem permeado muitos setores e assumido muitas formas. Os falsos mestres escrevem livros, falam no rádio, na televisão, ensinam em seminários (liberais), pregam nos púlpitos (falsos apóstolos), e têm sites na Internet. Eles se disfarçam como mensageiros da verdade (2Co. 11: 14), mas são ambiciosos que se preocupam com seu próprio ventre e o enriquecimento é seu alvo principal. Judas nos dá um retrato desses falsos mestres. Seu caráter – “homens ímpios” – Não temiam a Deus; eram desprovidos de qualquer tipo de reverencia a Deus; não adoravam a Deus corretamente. Sua conduta – “transforma em libertinagem a graça de nosso Deus” - Distorciam a liberdade em licenciosidade e transformam-na em permissão para pecar.

Esses falsos mestres se entregavam a luxuria, aos seus desejos carnais e se desculpavam dizendo que o que acontecia na carne não afetaria o espiritual. Era justamente esse ensino herético que Paulo combate em Romanos, o antinomianismo. “Pequem porque a graça ficara mais evidente”. Paulo diz: “Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Esse ensino pervertia a graça do nosso Deus. A graça de Deus se manifestou com um propósito muito diferente, ou seja, “educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente (Tt. 2: 12)". Qualquer insinuação de que a graça dá aos cristãos a liberdade para atuar de forma carnal é heresia. Suas crenças – “negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”. Eles negavam o governo absoluto e justo do Senhor Jesus. Eles negavam sua divindade. Eles negavam sua morte vicária e ressurreição. Eles negavam todas as doutrinas essências acerca de sua Pessoa e obra. Eles se opunham de forma dogmática e ferrenha ao evangelho, ao valor do sangue precioso de Cristo e ao fato de Ele ser o único caminho para salvação, como está descrito nas Escrituras. 

Judas diz que haverá uma sentença para os falsos mestres. Serão punidos como foram os falsos mestres de Israel (v. 5) , os anjos que não guardaram seu principado (v. 6), os gentios (v. 7). O pretérito perfeito sugere que a uma longa condenação pronunciada por Deus há todos os apóstatas.  Observem os versos 14-15: “Para estes também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor com os seus milhares de santos, para executar juízo sobre todos e convencer a todos os ímpios de todas as obras de impiedade, que impiamente cometeram, e de todas as duras palavras que ímpios pecadores contra ele proferiram”.

Segundo, como a igreja hoje deve se posicionar com o proposito de resgatar a verdadeira ortodoxia?
Antes de qualquer coisa, precisamos voltar para as Escrituras. Só a Escritura é a regra inerrante da vida da igreja. Mas infelizmente, a igreja evangélica atual é uma igreja guiada, por vezes, pela cultura; é uma igreja secularizada e guiada por aquilo que chamamos de pragmatismo religioso. À medida que a autoridade bíblica é abandonada, suas verdades se enfraquecerão na consciência cristã, suas doutrinas perderam sua proeminência, e a igreja vai ser cada vez mais esvaziada de sua integridade, autoridade moral e discernimento.

Temos que entender que a Escritura nos conduz além de nossas necessidades percebidas para nossas necessidades reais, e libertar-nos do hábito de nos enxergar por meio das imagens sedutoras, clichês, promessas e prioridades da cultura massificada. É só à luz da verdade de Deus que nós nos entendemos corretamente e abrimos os olhos para a provisão de Deus para a nossa sociedade. A Bíblia, portanto, precisa ser ensinada e pregada na igreja. Os sermões precisam ser exposições da Bíblia e de seus ensinos, não a expressão de opinião ou de ideias da época. Não devemos aceitar menos do que aquilo que Deus nos tem dado.

O povo de Deus precisa estar preparado doutrinariamente falando, para combater as heresias ou os falsos mestres. O dever de batalhar pela fé não pertence exclusivamente aos pastores consagrados ao ministério da Palavra, embora eles tenham uma responsabilidade especial. Batalhar pela fé é o dever de todo crente verdadeiro. “Precisamos obter um sentimento completamente novo da preciosidade da doutrina bíblica. Como igreja, precisamos conhecer a profundidade, a beleza e o valor da verdade doutrinária. Existe uma fé digna de contendermos por ela... A melhor coisa que podemos fazer para que sejamos uma igreja eficaz em batalhar pela fé é nos tornarmos uma igreja bem fundamentada na fé — “Edificando-vos na vossa fé santíssima”. Estudem! Meditem! Edifiquem! Cresçam! Há muitas verdades maravilhosas a aprendermos sobre Deus. E a melhor defesa da fé é conhecer tais verdades e amá-las.” - John Piper

Precisamos batalhar pela fé - Tal como os Pais da Igreja Primitiva repudiaram aqueles ensinos e reivindicações confiando e apelando exclusivamente para as Sagradas Escrituras, assim também devemos fazer. Desde o primeiro dia de Judas, até agora, os verdadeiros crentes sempre batalharam pela pureza do evangelho e nós que estamos aqui precisamos seguir nessa mesma perspectiva ortodoxa. Vigorosos e corajosos em defender a ortodoxia cristã, mesmo que isso custe a nossa própria vida.  A fé que hoje nutrimos foi preservada para nós à custa do sangue de centenas de reformadores (JOHN HUSS; JERÔNIMO SAVONAROLA; JERÔNIMO DE PRAGA; JONH HOOPER; WILLIAM TYNDALE). De 1555 a 1558, a ra­inha Maria, a católica que reinou na Inglaterra, queimou na fogueira 288 reformadores protestantes — homens como John Rogers, John Hooper, Rowland Taylor, Robert Ferrar, John Bradford, Nicholas Ridley, Hugh Latimer e Thomas Cranmer. E por que eles foram queimados? Porque permaneceram firmes em favor de uma verdade — a verdade de que a presença real do corpo de Jesus não está na eucaristia, e sim no céu, à direita do Pai. Por essa verdade, eles suportaram o agonizante sofrimento de serem queimados vivos. O sangue dos mártires é um poderoso testemunho de que a fé “uma vez por todas” entregue aos santos é digna de batalharmos por ela. Não podemos ser tímidos diante de tão grande tarefa que temos pela frente. Somos detentores das verdades pelas quais os homens podem ser salvos.

Como dizia Lutero: “Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias”. Ou como afirmava Francis Schaeffer: “Se não tornarmos clara nossa posição, com palavras e obras, em favor da verdade e contra as falsas doutrinas, estaremos edificando um muro entre a próxima geração e o evangelho”. E nas belas palavras do Dr. Rienk Bouke Kuiper (Antigo presbiteriano do século  XVIII): “A igreja de hoje não tem dever mais solene do que conservar a pureza da doutrina”.

Que Deus nos encoraje para que honremos seu Santo Nome e saíamos em defesa da "fé que uma vez por todas foi entregue aos santos". E que possamos estar dispostos á irmos até as últimas consequências pela verdade do evangelho.


Rev. Edvaldo Miranda (Pastor da Igreja Presbiteriana de Lagoa Seca - PB)