sábado, 4 de outubro de 2014

Quem é o autor da regeneração? Com a Palavra, Heber Campos e Wellerson Duarte

Todas as opera ad extra, isto é, as obras de Deus que terminam na criação, são feitas pelas três Pessoas da Trindade, com exceção apenas da encarnação e morte do Redentor, que é exclusiva da Segunda Pessoa encarnada. De todas as outras obras, como a criação, providência e redenção, as três Pessoas da Trindade participam ativamente, embora haja maior ênfase em uma das pessoas dependendo da obra a ser feita. 

Nenhum grupo genuinamente cristão-evangélico nega que as pessoas da Trindade, e mais particularmente o Espírito Santo, seja o autor da regeneração. Todavia, as diferenças entre eles aparecem quando tratamos da regeneração como um ato exclusivo de Deus, no que os calvinistas são contestados pelos arminianos. Ambos os grupos — calvinista e arminiano — são conhecidos como monergismo e sinergismo, respectivamente. Eles possuem concepções diferentes a respeito da autoria da regeneração. 

Os dois termos — monergismo e sinergismo — possuem obviamente na sua raiz a mesma palavra grega “ergo” que significa uma unidade de trabalho. Os dois termos que se distinguem são “mon” (que significa “um”)e syn (que significa “dois”). Portanto, as palavras por si só se explicam. A primeira significa uma só pessoa trabalha; a segunda significa que duas pessoas trabalham em cooperação. 

A regeneração (assim como o novo nascimento), portanto, é uma obra totalmente monergista. O Espírito Santo trabalha sozinho, e nós somos absolutamente passivos. Somente um trabalha, e este é o Espírito de nosso Deus. Ele simplesmente implanta o princípio vital no pecador e o torna vivo, desperto, ressurreto. Somente respondem à chamada do evangelho aqueles que são tornados vivos pela obra monergista de Deus. O exercício da fé e do arrependimento são conseqüências dessa obra monergista anterior feita por Deus, não a causa dela. Todos os regenerados que vão desfrutar a vida cristã neste mundo certamente responderão em fé e arrependimento.

Excerto da apostila sobre Soteriologia do Curso de Especialização em Estudos Teológicos do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper

Presb. Cícero da Silva Pereira

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Não Negligencie a Provisão de Deus

Qualquer menção da geração do deserto, quase imediatamente chama a atenção para as 
queixas das pessoas e falta de confiança no Senhor. De fato, como o apóstolo Paulo
escreveu aos Coríntios: "No entanto, Deus não se agradou da maior parte deles, 
por isso foram prostrados no deserto. " ( 1 Cor 10. 5 ). Libertados do Egito, mas ainda 
não trazidos para a Terra Prometida, a vida de Israel no deserto não era apenas sobre 
um lugar, mas um um tempo, caracterizado pela transição e testes, uma vez exigindo 
confiança e perseverança.

Agora, quando nos damos conta de que o Novo Testamento, em vez de forma 
consistente retratar a vida da Igreja na presente época como sendo "no deserto", 
então a dura realidade de um deserto coberto com os cadáveres de pessoas de Deus 
(embora apóstata) torna-se profundamente preocupante. O que deu errado que 
tantos milhares de israelitas  que tinham sido libertados do cativeiro egípcio, 
no entanto, não conseguiram entrar na terra que mana leite e mel? Que esta questão 
seja relevante para nós, como o povo de Deus na nova aliança é inevitável para os 
apóstolos, longe de dispensar ou diminuir a ameaça de um fracasso em perseverar, 
pressione a possibilidade com urgência. Na verdade, Paulo, que acabamos de citar, 
estava advertindo à igreja de Corinto contra a presunção 
da graça de Deus, explicando que os israelitas do passado, assim como eles, também 
tinha sido batizado e também tinha comido pão espiritual, mas eles ainda acabaram 
espalhados pelo deserto em juízo e estes "se tornaram nossos exemplos" 
(1 Cor 10. 1-6., ver também Heb 2: 1-3; 4:11; 10:29). Então, mais uma vez, o que deu
errado? Como podemos, pela graça de Deus, ser diligentes a perseverar através desta 
era de deserto?

Parte da resposta,  creio eu, é encontrado na observação surpreendente de Paulo sobre 
a rocha da qual os israelitas obtiveram água no deserto: “Aquela pedra era Cristo”
( 1 Cor 10: 4. ). Em outras palavras, todas as provisões de Deus para os israelitas no 
deserto foram mediadas por Cristo, sinais de Cristo. Isto significa que qualquer falha 
em progredir para a Terra Prometida foi devido à negligência de provisão de Deus 
para o deserto, isto é, Cristo. Assim entendido, quão trágico suas reclamações soam 
agora: "nossa alma abomina este pão sem valor" (Números 21: 5 NVI; ver João 6.) 
sem Admirar, então, Paulo passa a tratar da Ceia do Senhor de modo metódico 
nos capítulos seguir.

O ponto para nós é o de considerarmos ps "meios da graça" de Deus como precioso e 
vital. A pregação da Palavra, o batismo, a Ceia do Senhor, a comunhão divina, estes são 
meios "normais", com certeza, muitas vezes desprezados e deslocados na vida da Igreja, 
mas não se enganem, eles são totalmente insubstituíveis: estes são os meios que Deus
providenciou para nós a progredirmos; estes são os meios pelos quais Deus nos dá cada 
vez mais de Cristo. E através de Cristo, certamente vai perseverar para a 
Terra Prometida.

Dr. Michael L. Morales 
Publicado em: http://www.ligonier.org/blog/dont-neglect-gods-provision/
Traduzido por Jéssica Figueredo

Como saber se Estamos Realmente Pregando o Evangelho? Com a Palavra, Martin Lloyd-Jones

É verdade que, onde abundou o pecado, superabundou a graça; então, permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? A genuína pregação do evangelho da salvação somente pela graça sempre leva à possibilidade desta censura ser lançada contra a graça. Não existe melhor teste
para sabermos se um homem está realmente pregando o evangelho do Novo Testamento: algumas pessoas o entendem mal e o interpretam de maneira errada, de modo que chegam à seguinte conclusão: visto que fomos salvos apenas pela graça, realmente não importa tudo que fazemos, podemos continuar pecando como queremos, pois isto redundará em mais glória da graça de Deus.

Este é um excelente teste para avaliarmos a pregação do evangelho. Se minha pregação deixa de expor o evangelho ao ponto de gerar este mal-entendido, realmente não estou proclamando o evangelho. Pretendo explicar o que estou afirmando. Se um homem anuncia a justificação por meio de obras, jamais teremos aquele entendimento errado. Se ele diz: Você deseja ir ao céu? Então precisa parar de cometer pecados, viver um vida repleta de boas obras e observar certas coisas até à sua morte, deste modo será um cristão e irá ao céu, quando morrer. O pregador da mensagem acima não será acusado de ter dito: Continuemos a pecar, para que a graça seja abundante. Mas todo fiel pregador que anuncia o evangelho tem sido acusado de anunciar uma mensagem que estimula a pecar! Todos eles têm sido acusados de antinomianismo (estar contra a lei). Eu poderia falar a todos
os ministros do evangelho: SE A SUA PREGAÇÃO DO EVANGELHO NÃO TEM SIDO ENTENDIDA DAQUELA MANEIRA ERRADA, VOCÊ DEVE EXAMINAR SEUS SERMÕES NOVAMENTE; é melhor certificar-se de que está realmente proclamando a salvação anunciada no Novo Testamento aos ímpios, pecadores, mortos em seus delitos e pecados, inimigos de Deus. Existe um certo elemento de perigo na apresentação da doutrina da salvação.

Publicado originalmente na Revista Fé para Hoje n° 4 da Editora Fiel

Com a palavra feita por Rodrigo Ribeiro

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A Reforma e a Missão

Após participar de um encontro de igrejas no nordeste da França tive a oportunidade de dar uma palavra também aos adolescentes de uma escola cristã. Na entrada da escola a réplica de um mapa de 1573 chamou a minha atenção. Era o mapa do império francês do fim do século 16 com centenas e centenas de marcas, em forma de uma cruz, espalhadas por toda a sua extensão. O diretor da escola se aproximou explicando que as marcas indicavam a localização de cada escola cristã na França da época, cerca de duas mil! Com voz melancólica completou que “hoje não passam de vinte”. A forte presença de escolas cristãs era um resultado direto da Reforma Protestante sob a influência de Lutero, Calvino, Zwínglio, Farel e Knox que defendiam a pregação da Palavra, uma escola cristã em cada igreja cristã e um culto centrado em Cristo e não na Igreja.
 
A Reforma Protestante - desencadeada com as 95 teses de Lutero divulgadas em 31 de outubro de 1517 – foi, sobretudo, eclesiástica em um momento que todos os olhares se voltavam para a reestruturação daquilo que a Igreja cria e vivia. Renasceram assim os dogmas evangélicos. 
 
Sola Scriptura defendia uma Igreja centrada nas Escrituras, Palavra de Deus; a Sola Gratia reconhecia a salvação e vida cristã fundamentadas na Graça do Senhor e não nas obras humanas; a Sola Fide evocava a fé e o compromisso de fidelidade com o Senhor Jesus; a Solus Christus anunciava que o próprio Cristo estava construindo Sua Igreja na terra sendo seu único Senhor e a Soli Deo Gloria enfatizava que a finalidade maior da Igreja era glorificar a Deus. 
 
A missão da Igreja, sua Vox Clamantis, não fez parte dos temas defendidos e pregados na Reforma Protestante de forma direta. Isso por um motivo óbvio: os reformadores possuíam em suas mãos o grande desafio de reconduzir a Igreja à Palavra de Deus e, assim, todos os escritos e esforços foram revestidos por uma forte convicção eclesiológica e sem preocupação imediata com a missiologia. Isso não dilui, entretanto, a profunda ligação entre a reforma e a missão como veremos a seguir. 
 
A Reforma e as Escrituras na língua do povo
 
A Reforma levou a Igreja a crer que o curso de sua vida e razão de existir deveriam ser conduzidos pela Palavra de Deus, submetendo o próprio sacerdócio a esse crivo bíblico. Foi justamente essa ênfase escriturística que despertou Lutero para a tradução da Palavra na língua do povo e inspirou posteriormente centenas de traduções populares em diversos idiomas, fomentando movimentos como aWycliffeBibleTranslators com a visão da tradução das Escrituras para todas as línguas entre todos os povos da terra. 
 
Hoje contamos com a Palavra do Senhor traduzida para mais de duas mil línguas vivas. João Calvino enfatizava que “... onde quer que vejamos a Palavra de Deus pregada e ouvida em toda a sua pureza... não há dúvida de que existe uma igreja de Deus”. O grande esforço missionário para a tradução bíblica resulta diretamente deste conceito resgatado na Reforma Protestante. 
 
A Reforma e o culto participativo
 
A Reforma reavivou o culto em que todos os salvos, e não apenas o sacerdote, podem louvar e buscar a Deus. E Lutero, como uma de suas primeiras atitudes, colocou em linguagem comum os hinos entoados nos cultos. Esta convicção de que é possível ao homem comum louvar a Deus incorporou na Igreja pós-reforma o pensamento multiétnico através do qual “o desejo de levar o culto a todos os homens”, como disse Zuínglio, não demorou a ressoar na Igreja, culminando com o envio de missionários para o Ceilão pela igreja Reformada holandesa no século 17. Isso, então, disparou um progressivo envio missionário e expansão da fé Cristã nos séculos que viriam. 
Um culto vivo ao Deus vivo foi um dos pressupostos reformados que induziu a obra missionária a levar esse culto a todos os homens transpondo barreiras linguísticas, culturais e geográficas.
 
A Reforma e a expansão da fé cristã
 
A Reforma destacou a Glória de Deus como motivo de existência da Igreja e isso definiu o curso de todo o movimento missionário pós-reforma no qual o estandarte de Cristo, e não da Igreja, era levado com a Palavra proclamada entre outros povos. Os morávios já testificavam sobre isto, no século 18, quando o conde Zinzendorf, ao ser questionado sobre seu real motivo para tão expressivo e sacrificial movimento missionário, respondeu: “estamos indo buscar para o Cordeiro o galardão do Seu sacrifício”. John Knox, na segunda metade do século 16, escreveu que, como resultado da Reforma, o Evangelho era exposto em toda parte, perto e longe. O centro das atenções, portanto, era Cristo e nascia ali um modelo cristocêntrico de pregação do Evangelho que marcaria o curso da história missionária nos séculos posteriores.
 
A Reforma Protestante passou a Igreja pelo crivo da Palavra e isto revelou a nossa identidade bíblica segundo o coração de Deus. Seguindo o esboço da eclesiologia reformada, poderemos concluir que somos uma comunidade chamada e salva pelo Senhor e com uma finalidade na terra. Zwínglio, logo após manifestar sua intenção de passar a pregar apenas sermões expositivos, em janeiro de 1519 afirmou em sua primeira prédica que “a salvação põe sobre nós a responsabilidade de obediência”. Não era suficiente apenas ouvir e compreender. Era preciso obedecer e seguir.
 
A Reforma e a motivação para o serviço e a missão
 
A Reforma também destacou o assunto do nosso propósito de vida e elucidou que a finalidade maior da nossa existência não é servir à Igreja ou a nós mesmos. A exposição de Calvino da carta aos Romanos, com especial destaque no último capítulo, deixa bem clara a evidência bíblica e convicção reformada de que vivemos e trabalhamos para a glória de Deus. A obra missionária, assim, passou a ser realizada não para expandir uma instituição, uma ideia ou um clero, mas para glorificar ao Supremo Criador e esta foi uma das grandes contribuições da Reforma para a missiologia protestante e para as ações missionárias.
 
Em Romanos16, versos 25 a 27, lemos: “Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu Evangelho” (fala de Deus), “conforme a revelação do mistério” (o “mistério” é o Messias prometido a todos os povos), "e foi dado a conhecer por meio das Escrituras Proféticas" (aponta para o meio de revelação), "segundo o mandamento do Deus eterno" (aponta para o desejo fomentador da nossa salvação), "para a obediência por fé"(aponta para o meio de salvação), "entre todas as nações” (esta é a extensão do plano salvífico de Deus).
 
Que lindo texto! Nele, Paulo resume a teologia da missão e expõe o propósito de Deus em resgatar pessoas de perto e de longe, em Cristo Jesus.
 
Mas qual o motivo maior para esse plano divino que visa a redenção de todos os povos? Ele completa no verso 27: “Ao Deus único e sábio seja dada glória ...”. É a glória de Deus! E esse é também o maior e mais importante motivo para nos envolvermos com o propósito de fazer Jesus conhecido até a última fronteira do país mais distante, ou da família na casa vizinha. 
 
Martinho Lutero, em um sermão expositivo em 1513, baseado no Salmo 91, afirmou que “a glória de Deus precede a glória da igreja”. É momento de renovar nosso compromisso com as Escrituras, reconhecer que existimos como Igreja pela graça de Deus, orar ardentemente por fidelidade de vidas e entender que o próprio Jesus está construindo a Sua igreja na terra. 
 
A Reforma e a busca por um coração pronto e sincero
 
O símbolo de Calvino passou a ser um coração seguro por uma mão e apresentado bem alto. Ao redor, escrito em latim, se lia Cor Meum Tibi Offero Domine Prompte et Sincere – “meu coração a ti ofereço Senhor, pronto e sincero”. Calvino, usado por Deus em sua geração e tantas outras entendia que, além de todo o conhecimento teológico e humano, havia a grave necessidade de um coração quebrantado e pronto.
 
John Knox, na busca por um coração aquecido e avivado no Senhor Jesus proclamava que a ponte entre o conhecimento e a transformação era o quebrantamento. Dizia em outras palavras que, sem um coração quebrantado, nenhum conhecimento teológico ou humano produziria uma vida transformada. 
 
Concluo citando uma vez mais as palavras do reformador Lutero no livro GlorytoGlory em que ele nos ensina a dar passos e nos mostra que nossa vida em Cristo, como também a nossa missão na terra, são uma caminhada.
 
“Esta vida, portanto, não é justiça, mas crescimento em justiça. Não é saúde, mas cura. Não é ser, mas se tornar. Não é descansar, mas exercitar. Ainda não somos o que seremos, mas estamos crescendo nesta direção. O processo ainda não está terminado, mas vai prosseguindo. Não é o final, mas é a estrada. Todas as coisas ainda não brilham em glória, mas todas as coisas vão sendo purificadas”.
 
Que o Senhor nos quebrante, converta, abençoe e use para a Sua glória.

Ronaldo Lindório

Original: http://www.ultimato.com.br/conteudo/a-reforma-e-a-missao#reforma+protestante

Intercâmbio feito por Cícero da Silva Pereira

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

“Me Ama” (How He Loves): Um Hino à Graça

Tem ciúmes de mim
O Seu amor é como um furacão
E eu me rendo ao vento de Sua misericórdia
Então de repente não vejo mais minhas aflições
Eu só vejo a glória
E percebo o quanto maravilhoso Ele é
E o tanto que Ele me quer

Oh, Ele me amou
Oh, Ele me ama
Ele me amou

Somos Sua herança e Ele o nosso galardão
Seu olhar de graça nos atrai à redenção
Se a graça é um oceano, estamos afogando
O céu se une a terra como um beijo apaixonado
Meu coração dispara em meu peito acelerado
Não tenho tempo pra perder com ressentimentos
Quando penso que Ele

Me ama,
Ele me ama
Ele me ama
Ele me ama

Como o Marcos Almeida do Palavrantiga sempre costuma dizer, cada música tem o significado que a pessoa que a escuta lhe atribui e foi pensando nisso que decidi escrever esse texto sobre a música “Me Ama” (How He Loves), principalmente após a polêmica envolvendo meu texto sobre o Diante do Trono. Assim, decidi explicar porque essa música que ficou tão popular por causa do DT, é tão importante para mim e me lembra grandes verdades do Evangelho.

Essa canção foi escrita por um músico cristão americano chamado John Mark Mcmillan após a morte de um grande amigo seu que era pastor de jovens e certo dia orou a Deus dizendo que estava disposto a dar a sua própria vida para que Deus avivasse a juventude americana. No dia seguinte, ele morreu de forma brutal em um acidente automobilístico. O John Mark fala que a música surgiu a partir desse momento de dor e reflete exatamente o que ele estava vivendo no momento, por isso relutou muito antes de decidir mostra-la ao público ou sequer gravar. O fato é que anos depois, em uma conferência de jovens ele não tinha o que tocar e decidiu cantar “How He Loves” pela primeira vez. Desde então, milhares de jovens americanos foram de certa forma sendo tocados pela música que logo se transformou em uma música de “adoração”, mesmo não sendo, como o John Mark sempre ressalta.

Lembro-me de ter ouvido essa música pela primeira vez em 2010, na versão da Kim Walker, do Jesus Culture e confesso que fiquei extasiado! A intensidade e a paixão da Kim ao cantá-la me impressiona até hoje, mas ainda assim, não compreendi a grandeza dessa música logo de primeira. Por mais irônico que pareça, isso só se deu no ano seguinte, durante a gravação do Diante do Trono 14 em Natal, na Praia do Meio. Quando a Ana fez uma excelente tradução, bastante fiel ao sentido original, por isso, quando ela começou a cantar a música foi que percebi as verdades bíblicas aparentemente escondidas entre as metáforas da canção. Foi aí que me dei conta da profunda carga emocional que essa poesia contém, e não pude mais permanecer indiferente à ela. Logo a música deixou de ser para mim mais um simples hit gospel de auto ajuda e se tornou um lembrete constante das minhas fraquezas e depravação frente à imensa graça de Deus.

A música pode até parecer estranha à primeira vista por começar afirmando que Deus tem ciúmes de nós. Entretanto, essa é uma verdade bastante bíblica. É isso o que Deus diz ao longo de todo o Antigo Testamento. Tanto na Lei de Moisés, como através dos profetas, fica claro que Deus é um Deus zeloso e que tem ciúmes do Seu povo. Sei que a palavra “ciúmes” tem uma conotação muito ruim para nós e por isso podemos ter dificuldades em imaginar um Deus ciumento, mas vale ressaltar que o ciúme que Deus sente por Seu povo é diferente do nosso ciúme pecaminoso. É interessante que na versão original dessa música em inglês, a palavra utilizada “jealous” é exatamente a mesma utilizada em praticamente todas as traduções da Bíblia para o inglês para se referir a Deus como zeloso. Exemplo disso é Deuteronômio 4.24  na ESV, “For the Lord your God is a consuming fire, a jealous God.”. O que é reiterado no Novo Testamento em Tiago 4.5, inclusive em todas as traduções para o Português: “Ou supondes em vão que afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?” (ARA). Ou seja, isso me lembra que Deus tem ciúmes de mim e por isso não admite que nada além dEle mesmo tinha a primazia em meu coração, nem mesmo a “adoração” como já compartilhei.

A seguir, o autor utiliza a metáfora de um furacão para descrever o amor de Deus e a nossa completa rendição a Ele. Na versão em inglês o autor vai além e se descreve como uma árvore diante desse furacão. O que quer dizer que o amor de Deus por Seus eleitos é tão grande, que eles não conseguem resisti-lo e logo se rendem, como uma árvore levada por um furacão. Nossa, como essa metáfora me humilha! Ela me lembra que em mim mesmo eu não tenho nenhum mérito em minha salvação e que pela minha própria condição pecaminosa eu nunca poderia ter escolhido a Deus, é por isso que não pude resisti-lo quando Ele decidiu me alcançar com Sua graça. Logo após constatar essa verdade, a música expressa a reação do autor diante desse amor, mesmo em meio aos seus sofrimentos, no caso, a morte de um querido amigo fiel ao Senhor. Mas ainda assim, ele se lembra das palavras do apóstolo Paulo: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós.” Romanos 8.18 (ARA). Diante da visão de tamanho amor e glória, realmente não há como não “abraçar” o sofrimento, como diz o John Piper.

Após o refrão bastante simples que apenas reafirma esse amor de Deus por nós, mais precisamente na figura de Cristo ao se referir mesmo que modo subjetivo à cruz, vem a segunda e última estrofe. A qual contém ainda mais significado para mim. “Somos Sua herança e Ele é o nosso galardão.” Isso para mim exalta de maneira explícita o sacrífico e a obra de Cristo na cruz. Quando me penso como sendo “herança” de Cristo, logo me vem à mente o texto de Isaías 53 em que o sofrimento de Cristo é profetizado e logo em seguida, já no final do capítulo, o profeta afirma com toda certeza de que Cristo veria o fruto do Seu penoso trabalho e se alegraria. Apocalipse 5 complementa dizendo que foi por causa desse sacrifício que Jesus comprou para Deus povos de todas as tribos, línguas e nações. Essa é a herança do Senhor. Os eleitos são Sua herança; aqueles a quem Deus lhes deu antes mesmo da fundação do mundo. Se realmente somos regenerados, somos parte da herança de Cristo. Isso significa que o Seu sofrimento foi por nós e a consequência clara disso, é que imediatamente, Cristo passa a ser o nosso galardão; a nossa recompensa; a nossa pérola de maior valor como diz em Mateus 13; o nosso troféu, segundo a versão original da música (“prize”). Cristo se torna o único capaz de nos satisfazer por completo.

Por isso, “se a graça é um oceano estamos afogando”. Como eu tenho compreendido essa metáfora ultimamente! Para mim, afirmar que a graça é como um oceano na qual eu estou me afogando, me lembra a grandiosidade da graça e sua extensão maior do que os meus pecados; maior do que a minha depravação; maior do que as minhas fraquezas; maior do que os meus sujos “atos de justiça”. É por isso que não há nada que me faça “boiar” nela. A graça é tão maior do que eu, que eu não posso fazer nada por mim mesmo para obtê-la. Não tenho outra saída senão me afogar nela, senão me dar a Cristo por completo e viver a nova vida que Ele conquistou para mim; não pecando para que a graça “aumente”, como Paulo não nos aconselha a fazer em Romanos. Mas, ao contrário, uma vida de arrependimento e santidade. A perseverança dos santos.

“O céu se une a terra como um beijo apaixonado. Meu coração dispara em meu peito acelerado.” Somente em Jesus o céu se une à terra. Somente através dEle e de Seu sacrifício podemos ser salvos, podemos ter acesso ao Pai. Não consigo pensar nessa metáfora e não visualizar o sofrimento de Cristo, ali no Calvário ao carregar sobre si a ira de um Deus santo a fim de salvar pecadores tão indignos como eu. Realmente, diante de tamanha imagem, não consigo não ter meu coração batendo acelerado. Ou como diz na tradução do Juliano Son, “tomado em grande furor”, se remexendo violentamente dentro de mim, me lembrando que eu sou e ao mesmo tempo, apontando pra Cristo. É aí que a música, em minha opinião chega ao seu ápice e termina, resumindo toda a reação de uma pessoa regenerada diante de tamanho amor demonstrado por Cristo: “Não tenho tempo pra perder com ressentimentos quando penso que Ele me ama.”

Acho muito forte a palavra utilizada em inglês nessa frase: “regrets” que significa também lamentos, pesares, remorsos, mágoas, desgostos... É isso! Quando compreendemos verdadeiramente o significado do amor de Cristo por nós não conseguimos ficar indiferentes. Não podemos mais gastar tempo com bobagens. Toda a nossa vida passa a girar em torno da realidade de Cristo. Ele se torna o nosso tudo, a nossa razão.

É por isso que gosto tanto dessa canção. Ela me humilha, ao mesmo tempo me enche de esperança, de alegria. Ela me lembra Cristo! Mesmo tendo sido escrita em um contexto de grande sofrimento em dor, ela não está centralizada em nós mesmos, mas na supremacia de Cristo acima de todas as coisas. Entretanto, é triste perceber que verdades tão gloriosas e profundas como essas tenham passado despercebidas e que essa música não passe hoje de apenas mais um hit gospel de auto ajuda centrado no homem. Creio que não era esse o objetivo do John Mark Mcmillan ao escrevê-la. Afirmo isso com base não apenas em suas entrevistas, mas em seu trabalho e carreira. O John está à margem da indústria do gospel americana. Suas músicas, assim como essa, nem sempre são feitas para serem entoadas em momentos de culto congregacional. Ao contrário, pretendem glorificar a Deus através da arte. O John Mark Mcmillan está mais para o Palavrantiga e até mesmo o Livres Para Adorar do que para o Diante do Trono e sua legião de fãs. Não é à toa, que ao estar no Brasil em 2011 ele mesmo disse à Ana Paula Valadão que sua música não era uma canção de “adoração”, tampouco para ser cantada na Igreja.


Bom, é essa a interpretação que faço dessa canção. Como vocês podem perceber é sim uma análise calvinista e é exatamente por isso que me entristeço ao ver o que tem sido feito aqui no Brasil como uma canção tão linda como essa.

Igor Sabino

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A "Manifestação" do Antinomianismo nos Arraiais Evangélicos Brasileiros

Em minha última viagem aos Estados Unidos fiquei impressionado com o número de crentes que estão abraçando o antinomianismo. Um pastor amigo compartilhou que em sua igreja dois pastores abandoram a denominação por se considerarem antinomianos. Para piorar a situação, sei de inúmeros casos no Brasil onde pastores e líderes de segmentos denominacionais diferentes rejeitam o cumprimento da lei moral de Deus. 

Um antinomianista significa literalmente alguém que se posiciona contra a lei. Na verdade, ele é um "antilei". Ele nega ou diminui a importância da lei de Deus na vida do crente. 

Os antinomianistas acreditam que em virtude da graça adquirida em Cristo  o crente está desobrigado a obedecer às leis morais de Deus simplesmente  porque Jesus os libertou da lei. Para estes a graça não só liberta da maldição da lei de Deus, mas também nos liberta da obrigação de obedecê-la. 

Caro leitor, o antinomianismo é antibíblico pela razão de que o Senhor deseja com que obedeçamos a lei moral de Deus. O apóstolo João em sua primeira carta nos adverte a guardar os mandamentos do Senhor. (I João 5:03), isso sem falar é claro nos inúmeros textos que nos incentivam a viver a vida de forma santa. Ora, o antinomianismo é contrário a tudo o que a Bíblia ensina. Deus espera que vivamos uma vida de moralidade, amor e integridade. Além disso as Escrituras nos ensinam devemos lutar para vencer o pecado e viver uma vida de santidade. João nos admoesta a  guardarmos os mandamentos do Senhor: "Ora, aquele que diz: eu o conheço, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade; mas qualquer que guarda a sua palavra, nele realmente se tem aperfeiçoado o amor de Deus. E nisto sabemos que estamos nele; aquele que diz estar nele, também deve andar como ele andou." 

Para terminar cito o notável teólogo R.C, Sproul que  ensinou: 

"O Antigo Testamento é um testemunho monumental da maravilhosa graça de Deus em favor de seu povo. Semelhantemente, o Novo Testamento está literalmente cheio de mandamentos. Não somos salvos pela lei, mas demonstramos nosso amor a Cristo obedecendo a seus mandamentos." Jo 14.15. 

Pense nisso!

Renato Vargens

Publicado em: http://renatovargens.blogspot.com.br/2014/07/a-manifestacao-do-antinomianismo-aos.html?m=1
Intercâmbio feito por Joana Revoredo

Seguir a Jesus não é para despreparados

Esta área do discipulado é interessante, pois se lida de maneira errada, pode dar a entender que podemos nos preparar para seguir a Cristo. Não, porque como vimos no texto anterior seguir a Cristo não depende de quem quer, mas do próprio Cristo chamar. 

Chegamos então, nos versículos de 5 a 15 do capítulo 10 do Evangelho de Mateus, onde Jesus, após chamá-los, agora dá as instruções.Reforçando a ideia, primeiro o chamado eficaz de Cristo, depois as instruções. E aqui uma lição importante para nós. As instruções para seguir a Jesus são dadas pelo próprio. Ou seja, eu não posso e não devo seguir a Jesus da maneira que eu queira ou ache que deva fazer, mas sim pelas instruções deixadas pelo mesmo, registradas nas Escrituras. Vivemos num mundo onde os homens querem, a cada minuto, mostrar sua independência de tudo e de todos, inclusive querendo provar a sua não necessidade de Deus. E ser discípulo de Cristo vai exatamente na contramão desse sistema mundano. O discípulo clama aos quatro ventos a sua necessidade do mestre. A ovelha  deseja mostrar que não é nada sem o pastor. A noiva, longe da segurança e cuidado do noivo, é frágil.

Preocupa-me o fato de muitos acharem que podem seguir a Jesus de qualquer maneira, sem um estudo adequado das Escrituras, transigindo dos meios de graça como a oração, a ceia e abrindo mão da dádiva da igreja local. Por estes motivos, não são poucos os escândalos provocados por ditos cristãos. O que mais impressiona é o fato de estes muitas vezes serem tomados como espirituais, abençoados, ungidos. Mas como pensar na bênção de Deus onde sua Palavra é desprezada?

Que pela fidelidade às Escrituras, Deus nos conduza à santidade, pois "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra." (2 Tm 3.16-17).

Os reformadores protestaram por um retorno às Escrituras, e é pelas Escrituras que Deus, preparando os discípulos de Cristo, continua a sua obra no seu povo.

Deus nos abençoe.

Pb. Cícero da Silva Pereira

sábado, 13 de setembro de 2014

O que Significa a Expressão "Meios de Graça"? Com a Palavra Earl Blackburn

O Dicionário Aurélio define a palavra meio como recurso empregado para alcançar um objetivo. Por conseguinte, os meios da graça são os instrumentos pelos quais Deus transmite bênçãos ao seu povo. O Catecismo de Westminster define a expressão meios da graça como os recursos visíveis e comuns pelos quais Cristo transmite à sua igreja os benefícios de sua mediação [ou seja, de sua morte].

Ilustrando isso, pense em uma mangueira de jardim. A mangueira não é especial em si mesma, porém é o canal pelo qual flui a água que produz vida e refresca. O mesmo acontece com os meios da graça. Em si mesmos, eles nada possuem de especial, mas são os instrumentos ou os canais pelos quais fluem as bênçãos divinas que outorgam vida e refrigeram a alma. Através dos meios da graça, Deus concede força, paz, conforto, instrução, disciplina, orientação, alegria e muitas outras coisas necessárias à vida cristã.

Ainda que a expressão meios da graça não se encontre na Bíblia, é uma designação adequada para aquilo que está ali ensinado. Há dois tipos de meios da graça: os particulares e os públicos. [...]

Quais os meios particulares da graça?

1. O primeiro destes é a leitura da Palavra de Deus
2. O segundo meio particular da graça é a oração.
3. O terceiro meio particular da graça é a meditação

Quais os meios públicos da graça?

1. Reunir-se para adoração é o primeiro destes meios.
2. O segundo meio público da graça são as ordenanças do evangelho (batismo e santa ceia)
3. Comunhão com irmãos e irmãs em Cristo é o terceiro meio público da graça
4. O quarto meio público da graça é a oração coletiva.

[...]Um Pai amoroso, sábio e gracioso, que habita nos céus, outorgou aos seus filhos estes meios para o bem deles (cf. Dt 10.13). Ele não os deu a fim de colocar seus filhos em escravidão a regras estabelecidas pelo homem, mas para abençoar, fortalecer e encorajá-los. Os meios particulares da graça nos foram concedidos para sustentar-nos em nossa vida cristã diária, em um mundo de atividades cotidianas. Os meios públicos da graça são para nosso benefício, na igreja local pertencente ao Senhor Jesus Cristo. Praticá-los agora resultará em crescimento e frutificação de nossa vida cristã. Utilizar estes meios designados por Deus redundará em glória para Ele, expansão de seu reino e nos proporcionará retidão, paz e alegria.

Rodrigo Ribeiro
Extraído da Revista Fé para hoje n° 3, 1999.
Para ler o artigo completo esta revista está disponível para download gratuitamente no site do ministério Fiel.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Absalão e as Antigas Estratégias da Política Moderna

Nestes dias que antecedem o pleito para escolha popular dos magistrados em nosso País, são nitidamente observáveis as estratégias de campanha dos candidatos, que se utilizam de diversos meios para conquistar a confiança do povo e lograr êxito nas eleições que se aproximam. Geralmente os candidatos agem de maneira leviana e sem qualquer tipo de pudor e ética. A história Bíblica nos mostra que tais práticas não são recentes. Bem antes mesmo que os cientistas políticos identificassem estas artimanhas eleitoreiras, a Palavra de Deus já revelava os intentos perversos dos homens em busca do “trono”, como ocorreu com Absalão, um dos filhos do rei Davi.

As Escrituras relatam a conspirata por parte de Absalão para com seu pai, afim de usurpar a coroa real e se tornar o líder daquela nação (2 Samuel 15.1-12). Observemos seus artifícios:

Atrair a simpatia do povo: Ciente de que Davi gozava de grande empatia e prestígio por parte dos israelitas, Absalão procurou se aproximar da população. Sua primeira medida foi ir para o corpo a corpo com o povo para furtar o coração do povo. Sua presença diária à porta da Cidade para receber cada um daqueles que buscavam ao rei Davi. Com aparente cordialidade, sutilmente ele foi atraindo a simpatia de seus conterrâneos, e entre abraços e beijos, foi conquistando a lealdade dos homens de Israel. Fato semelhante a este acontece em épocas de campanha eleitoral. É comum nos esbarrarmos em candidatos que estão a cada esquina, cumprimentando e acenando atenciosamente gratuitamente, impulsionados pela busca exacerbada por votos.

Instigar o povo contra o rei: Não demorou muito para que Absalão começasse a provocar na população de Israel um sentimento de indignação em relação ao Rei Davi. O filho usurpador acusava o monarca de dá pouca atenção as demandas trazidas pelos moradores da região. “Então, Absalão lhe dizia: Olha, a tua causa é boa e reta, porém não tens quem te ouça da parte do rei.”. Sua presença diária com o povo, somada as críticas ao atual governo, ao mesmo passo que causava ira, provocava instintivamente o desejo de mudança dentre o povo. Levar o povo a uma reflexão é totalmente legítimo, mas se valer de acusações levianas e infundadas é uma manobra repugnante. O rei Davi, não foi conhecido por ingerência, mas foi um brilhante governante para Israel.

Fazer promessas de melhoria: Mas Absalão não apenas apresentava as falhas do governo de seu pai, mas apresentava-se como o solucionador de tais problemas. As promessas também faziam parte da estratégia para obter o trono real. "Quem me dera ser designado juiz desta terra! Todos os que tivessem uma causa ou uma questão legal viriam a mim, e eu lhe faria justiça", este era o discurso de Absalão, como aquele que seria capaz de resolver as falhas do reinado de Davi. O governo vigente era injusto, mas ele era justo, a administração atual era ausente, mas ele estaria sempre presente assistindo o povo em suas necessidades. Um discurso de esperança.  E a cada quatro anos aparecem messias por todos os lados, se apresentando como real solução para os problemas sociais e econômicos da nação, como Absalão.

Conquistar seguidores: Não demorou muito para que o filho do rei conquistasse um número cada vez crescente de seguidores. A escolta composta de cinquenta homens (v.15) em quatro anos quadruplicou. A conspiração ganhou força, e cresceu o número dos que seguiam Absalão. Ao retornar de Hebrom (2 Sm 15.10), onde se proclamou rei, para dá sua cartada final, já eram duzentos homens. Seus aliados sequer suspeitavam que estavam sendo usados por Absalão para tomar o poder de Davi. Os israelitas foram ingenuamente enganados e participavam ativamente do plano de Absalão. Uma massa alienada a serviço de um político inescrupuloso, este era o cenário de Israel. Uma adesão em massa pode ser letal para qualquer sociedade, quando seus militantes lutam em prol de objetivos particulares de seus comandados em detrimento de melhorias para toda sociedade.

Apesar de toda investida, ao final de sua empreitada, Absalão não logrou êxito. Foi morto no campo de batalha, no “bosque de Efraim”, antes de alcançar o posto tão almejado. Deus preservou o reinado de Davi, para cumprir a aliança que havia estabelecido com seu servo (2 Sm 7.16). Apontando assim para o messias prometido que viria de sua descendência (Ap 5.5), cujo trono, é para todo sempre.

As similaridades das atitudes de Absalão com a dos políticos atuais em busca do poder, principalmente neste período eleitoral, são bastante claras. É certo que a monarquia é totalmente distinta do regime democrático, mas traçando uma paralelo comportamental, só muda o sistema de governa, pois os homens continuam se valendo das mesmas práticas pecaminosas. Independente de formas de governo a luta pelo poder, incorre sempre pelos mesmos córregos mal cheirosos da politicagem. Por trás da disputa legítima pelo magistrado, existem interesses mesquinhos de homens que querem o poder pelo poder. Para estes, os meios justificam os fins. Eles estão dispostos a caluniar, perseguir, usar e furtar o coração do povo. É preciso ter cuidado com os muitos “Absalões” que estão à procura de nosso voto.

Que o Senhor nos dê discernimento em nossas escolhas, para que possamos votar de maneira sábia.

Ericon Fábio

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Criacionismo, Evolucionismo e Evolucionismo Teísta: Algumas Considerações sobre suas Cosmovisões, suas Implicações e seus Perigos

Introdução
Uma pesquisa feita no ano de 2010, pelo instituto Datafolha e publicado na Folha de São Paulo, indica que uma quantidade expressiva de brasileiros acredita na evolução e, ao mesmo tempo, creem na existência de Deus. A pesquisa diz que 59% dos entrevistados acreditam que o ser humano é resultado de uma evolução guiada por Deus e outros 8% não acreditam na interferência divina. Por mais incrível que isto pareça a qualquer cristão um pouco mais atento às escrituras, essa ideia não é nova, até o Papa João Paulo II proclamou em uma entrevista ao jornal Chicago Tribune que “a evolução é mais do que uma hipótese”. No meio evangélico, um dos defensores do evolucionismo teísta foi John Stott (1921-2011). Existem alguns relatos que certos judeus não faziam leitura literal da criação na Torá.
Assim, não é estranho que essa ideia tenha chegado aos arraiais evangélicos de nosso país, mesmo que a noção de que Deus criou o universo tenha sido ensinada desde criança, fazendo parte do conjunto de ensinamentos mais básicos da fé cristã. Assim como a queda e o pecado original e o sacrifício de Cristo, a literalidade da criação descrita em Genesis capítulo 1. Por tanto, a cosmovisão cristã assume, em seus pressupostos, que crer na evolução é um verdadeiro ‘tiro no pé’ e no que se refere ao debate das origens, tudo é uma questão de qual cosmovisão nós temos.
Este artigo consiste em explicar de maneira simples e sucinta cada maneira de pensar e expor argumentos seus argumentos no que tange a fé cristã.
 O que é criacionismo
O criacionismo é a crença em que o universo foi criado, por uma mente inteligente, de maneira pronta, funcionai e em perfeito acabamento. O criacionismo contudo pode ainda ter vertentes de cunho científico, onde são expostas evidências cientificas que apontam para a criação,  de cunho religioso, onde uma religião explica a origem da vida a partir de alguma cosmogonia, de cunho bíblico, onde a cosmovisão está baseada na Bíblia, tornando-a seu padrão final.
Este ultimo, faz a leitura da ciência de acordo com os óculos da cosmovisão cristã, crendo que um Deus todo poderoso (Mt 19.26), onisciente (Cl 2.3) e triuno (Is 45.5; Jo 8.18) criou o universo em seis dias comuns (Ex 20.11), somente a milhares (e não bilhões) de anos atrás, terminando sua obra no sétimo dia (Gn 2.2).
O que é evolucionismo
De acordo com o site Wikipédia, “evolução, no ramo da biologia, é a mudança das características hereditárias de uma população de uma geração para outra. Este processo faz com que as populações de organismos mudem e se diversifiquem ao longo do tempo”. Na prática, os evolucionistas tem suas raízes no naturalismo (a natureza é tudo o que existe de fato) e no empirismo (tudo o que se conhece é adquirido pela observação). Tais aspectos fazem um resumo da cosmovisão evolucionista, que ainda crê na bilionária idade do universo, que se originou nobig bang e teve seu desenvolvimento no esfriamento de toda a energia liberada nesse evento, formando galáxias e repletas de estrelas, sendo que essas ultimas deram origem a alguns dos planetas. O sistema solar que vivemos teria uma idade de 4,5 bilhões de anos, ou seja, nesse mesmo contexto na nossa Terra recém formada, certos elementos químicos inorgânicos deram origem, por meio de processos naturais, ao primeiro ser orgânico com capacidade de se reproduzir, as sucessivas reproduções com alguns erros de ‘cópia’, produziram variação. Algumas das variações que foram benéficas a vida desses seres foram passadas as gerações futura, constituindo em nossa época, a grande variedade na natureza. Nesse processo, não há a necessidade se que evocar Deus (ou um deus) na explicação da origem da vida.
Que fique claro que existem vários outros detalhes não citados e várias correntes de pensamentos dentro do evolucionismo, este resumo é um esboço do que a maioria dos evolucionistas creem.
 O que é evolucionismo teísta
Ainda segundo o Wikipédia, evolucionismo teísta, ou evolução teísta  é uma ideia filosófica, surgida a partir de criacionistas que buscam conciliar a ideia de Deus e a teoria da evolução. Creem que a vida surgiu tal qual o evolucionismo neodarwinista descreve, que o universo foi formado tal qual a teoria do big bang afirma, contudo todo esse processo foi guiado por Deus. Digamos, seria um terreno neutro, mas constituem um grupo que não é bem aceito por nenhum dos dois lados do debate das origens.
 As cosmovisões
Como nos exemplos citados acima, não é difícil que cientistas com a mesma formação, diante de uma mesma evidência cientifica, cheguem a conclusões diferentes sobre o significado dessa evidência. Isto se deve ao fato da cosmovisão que cada um deles tem. Cosmovisão é como as lentes de um óculos e assim como quem usa lentes amarelas, verá o mundo amarelado, quem usa as lentes do evolucionismo verá de acordo como tal, assim como os que aderem à cosmovisão cristã, verão o mundo de uma perspectiva. Como bem sabemos, o mundo não é de fato como um todo amarelo, assim como também não há evolução por toda parte – A cosmovisão afeta nossa forma de ver o mundo. A correção da visão de mundo irá nos mostrar que crer na evolução, na criação ou no evolucionismo teísta não depende da natureza das evidências encontradas, mas como as interpretamos, de forma que o debate das origens é em parte resolvido no âmbito da visão de mundo adotada.
Uma cosmovisão correta nos previne do erro de enxergar a questão da criação com conclusões equivocadas tal qual uma pessoa de óculos coloridos enxerga cores distintas das cores reais. Assim, pode-se concluir que qualquer leitura de mundo feita por nós seres humanos ocorre não pela natureza do evento em questão, mas pela cosmovisão arraigada ao ser humano que fez a leitura. Criacionistas possuem pressupostos filosóficos em seus pensamentos, mas evolucionistas também, assim o pensamento de ambos não é puramente científico, é influenciado por sua cosmovisão.
 O evolucionismo e seu fracasso
                Como é conhecido de muitos, o evolucionismo tem seus perigos à fé cristã pelo fato de que muitas vezes tem iludido os jovens estudantes ou calouros universitários a ideia fatalista de que o mundo foi criado ao acaso, assim como todas as coisas tem ocorrido ao longo da história. Vejamos alguns exemplos onde o evolucionismo peca, tornando-o cientificamente pouco provável:
  • O pensamento naturalista vem historicamente tentando provar que a vida surgiu ao acaso, uma das primeiras ideias chamada geração espontânea foi derrubada por Louis Pasteur, mostrando que nenhum organismo orgânico surgiu sem ter um tipo de “pai” (ou mãe, como queiram).
  • Os experimentos do dr. Stanley Miller e dr. Sidney Fox, que projetaram um aparelho de pyrex contendo metano, amônia, e vapor d’água, mas sem oxigênio. Por essa mistura eles passaram descargas elétricas para simular choques de relâmpagos na tentativa de recriar a vida tal qual sugera a biologia. Os resultado foram inconclusivos por vários aspectos.
Sobre isto opinam dois importantes cientistas:
O admirável cientista Dr. Wilder-Smith, com três doutorados e muito bem informado sobre biologia moderna e bioquímica, dando opinião sobre a formação do DNA a a partir de processos naturais:
“Como um cientista, eu estou convencido de que a pura química de uma célula não é suficiente para explicar o funcionamento de uma célula, embora o funcionamento seja químico. As operações químicas das células são controladas por informações que não residem nos átomos e moléculas da célula.
Há um autor que transcende o material e a matéria de que esses filamentos são feitos. O autor primeiramente concebeu a informação necessária para fazer uma célula, então a escreveu e depois a fixou em um mecanismo que a lesse e pusesse em prática – assim as células constroem-se sozinhas a partir da informação…”
O famoso pesquisador Sir Fred Hoyle afirmou que supor que a primeira célula tenha se originado pelo acaso é como acreditar que:
“um tornado varrendo um ferro-velho possa montar um Boeing 747 a partir dos materiais presentes ali.”
E ainda: 
“A noção de que… o programa operando em uma célula viva possa ter surgido pelo acaso em uma sopa primordial aqui na Terra é evidentemente uma falta de senso do maior grau.”
                Estes são apenas alguns dos vários argumentos com os quais podemos pelo menos começar a entender que algumas evidências mostram o evolucionismo como um fracasso, tanto dentro de sua própria cosmovisão naturalista-empirista, quando, obviamente de uma perspectiva bíblica.
 O perigo do evolucionismo teísta
A ideia da intervenção de Deus no processo da evolução surgiu no meio criacionista, Contudo a visão que se oferece como mais perigosa, é justamente aquela que tenta conciliar dois pensamentos que não fazem parte de uma mesma cosmovisão: o evolucionismo teísta. Ela constitui, como dito acima, uma tentativa de ser neutro e conciliar a cosmovisão bíblica cristã a cosmovisão naturalista-empirista.
Em uma análise mais acurada, vemos que uma abordagem como esta que tenta unificar duas cosmovisões distintas não pode funcionar, pois é por definição mais falha que cada uma das linhas de pensamento separadas, e logicamente não é bíblica. Nenhum texto na Bíblia de maneira alguma dá base para se defender isto. É Logicamente capcioso e fundamentalmente falho, pois cada uma das cosmovisões envolvidas nessa conciliação admite ser o modo correto de interpretar as evidências que a natureza oferece, fornecendo assim uma interpretação diferente das cosmovisões criacionista e evolucionista.
Desse modo, se uma interpretação neutra não é verdadeira, por que alguém deveria confiar nela? E como uma cosmovisão falha pode conduzir para uma cosmovisão correta? Se a interpretação neutra for verdadeira, então as cosmovisões que a compõem são por consequência lógica, erradas! Se observarmos isso de maneira calma, nenhumas das três seriam corretas dessa forma.
O perigo dessa visão é que ela conduz a um distanciamento da verdade ainda mais profundo, pois é uma forma alternativa de causar o mesmo efeito de cegueira do evolucionismo. Ela não somente reúne adeptos da religião ou cientistas, ela alista para si uma tropa de cosmovisão ainda mais confusa e difícil de se lidar, pois além dos pressupostos de filosofia naturalista, tem uma carga de teologia feita a partir de interpretações alegóricas da Bíblia.
A conclusão é obvia: Não há como conciliar o evolucionismo com a crença em Deus. Essa visão é tola do ponto de vista criacionista, é inaceitável do ponto de vista evolucionista e acima de tudo, é antibíblica.
 Felipe Medeiros