Não sei quantos de
vocês já ouviram falar disso, mas anos atrás, quando eu era de uma igreja
batista – mas praticamente pentecostal – e tinha lá meus 17 anos, durante uma
das aulas dominicais, uma mulher foi lá nos ensinar que nós tínhamos que fazer
uma lista de características que queríamos que nossos futuros cônjuges
tivessem. Segundo ela, poderíamos incluir ali as características que
quiséssemos: que fosse uma pessoa bonita, educada, bonita, inteligente, bonita,
rica e até bonita. Ah, sem esquecer que tinha de ser crente também. Sério. Uma
das listas que eu vi de uma menina – ela deixou - tinha três páginas e várias
vezes a palavra “bonito” aparecia.
Eu
me lembro bem da reação ao ouvir sobre como poderíamos fazer uma lista contendo
essas “exigências” para Deus: pareceu-me estranho querer determinar como Deus
tinha que me dar uma vida fácil ao escolher uma pessoa que seria perfeita, que
eu provavelmente nem mereceria ou estaria à altura, ao invés do que eu havia
aprendido na Bíblia que dizia que o casamento era para a glória de Deus. Eu
lembro de sonhar acordado nessa época com esposas que possuíam deficiências,
físicas ou mentais, ou que fossem pobres, romantizando de forma infantil o
princípio correto de que o casamento não é primeiramente para nos fazer felizes, mas para que
glorifiquemos a Deus e assim consigamos felicidade nEle. Deus me deu uma linda
jovem para cuidar, com quem namoro a 491 dias – se esse texto for colocado no
blog no dia 30, vai fazer 495 dias – e com quem pretendo me casar.
Mas
isso não era a única coisa que me intrigava. Ao que me parecia, Deus já havia
deixado uma lista dessas, pronta, na Bíblia! Eu não precisava colocar critérios
– fortemente influenciados pelo mundo, pela carne, ou por aquilo que me
agradaria – pois Deus já os havia dado em Sua palavra. E é sobre essa lista que
eu gostaria de falar hoje. Abra por favor, a sua Bíblia em Provérbios 31:10-31
e dê uma lida no texto.
Vamos
a algumas informações preliminares, para podermos interpretar o texto diante de
nós: esse texto é um poema de 22 versos, e sua forma é utilizada também no
Salmo 119 (22 seções de 8 versos) e em Eclesiastes (o número de versículos nos
capítulos é sempre mútiplo de 22). Esses 22 versos são as 22 letras do alfabeto
hebraico, e o objetivo de usar um acróstico com todas as letras é expressar que
o texto diante de nós tenta cobrir o assunto todo que o autor se propôs a
escrever, ainda que de maneira resumida.
Bem,
se você leu o texto – se não leu ainda, leia! – deve ter identificado
facilmente algumas das características da mulher virtuosa. Uma mulher virtuosa
não é aquela que exibe uma e outra virtude aqui e ali, mas sim uma pessoa cuja
maioria das ações expressa um caráter agradável a Deus - a maioria, e não
todas, pois senão teríamos um robô e não uma mulher! Vamos entender um pouco
mais a fundo o texto.
“Mulher virtuosa, quem a achará? O seu vaor
excede muito o de finas jóias.” Aqui o autor estabelece tanto a raridade de
uma mulher virtuosa quanto seu valor. “Finas jóias” só eram possuídas pelos
reis, ou por pessoas da corte real. Ma Deus, em Sua Palavra, está nos dizendo
que a esposa virtuosa está acessível mesmo a nós, e que devemos ter grande
expectativa em procurá-la e achá-la. Afinal, a boa esposa é bênção do Senhor.
“O coração do seu marido confia nela, e não
haverá falta de ganho. Ela lhe faz bem e não mal, todos os dias da sua vida”
Esses versos estabelecem que ela é uma mulher confiável, que incentiva o
trabalho do seu marido, pois o verdadeiro ganho não é dinheiro, mas a sua
esposa mesmo, ao mesmo tempo que ela mesma é trabalhadora e sábia, edificando
sua casa com suas próprias mãos: “Busca
lã e linho e de bom grado trabalha com as mãos. É como o navio mercante: de
longe traz o seu pão.”
“É ainda noite, e já se levanta, e dá
mantimento à sua casa, e a tarefa ás suas servas.” Nesse trecho vemos que a
mulher virtuosa sabe administrar a sua própria casa, “arregaça as mangas” e
busca trazer prosperidade à sua casa, para que seus filhos não passem fome: “Examina uma propriedade e adquire-a; planta
uma vinha com as rendas do seu trabalho”.
Ao contrário
do que alguns podem pensar, a mulher virtuosa tem sim certa independência
financeira do seu marido. Eu cresci em um lar onde minha mãe não trabalhava, e
vi de perto um homem maltratar uma mulher por causa do amor ao dinheiro que meu
pai tinha – e tem. Sem independência financeira, e com o desejo de não se
divorciar para não causar problemas aos filhos, eu vi minha mãe sair da
situação de refém dos ganhos do meu pai – homens, nunca façam isso com suas
esposas! - fazer mestrado e doutorado, ser professora universitária e alcançar
uma independência que equilibrou o lar e lhe deu poder para ser ajudadora do
marido, que só recentemente descobrimos que tem síndrome de Aspenger. E é bom
que a mulher seja obediente ao marido, não nego. É bom que a mulher mesmo cuide
dos filhos. Mas ela também não pode se tornar escrava do seu marido por causa
de dinheiro! “Cinge os seus lombos de
força e fortalece os braços. Ela percebe que o seu ganho é bom; a sua lâmpada
não se apaga de noite. Estende as mãos ao fuso, mãos que pegam na roca.”
“Abre a mão ao aflito; e ainda a estende ao
necessitado.” A mulher virtuosa não ganha dinheiro somente para si ou para
seus filhos: ela corresponde às exigências da caridade cristã, auxiliando com
sua renda aqueles que precisam de ajuda. “No
tocante à sua casa, não teme a neve, pois todos andam vestidos de lã escarlate.”
Ela veste até as suas servas com lã escarlate, uma lã trabalhada e tingida para
a nobreza! Repare bem isso: a mulher virtuosa trata bem mesmo os empregados
mais simples. E ao mesmo tempo sabe dar valor a si mesma: “Faz para si cobertas, veste-se de linho fino e de púrpura.”
“Seu marido é estimado entre os juízes,
quando se assenta com os anciãos da terra.” Por trás de um grande homem há
sempre uma mulher virtuosa empurrando! A mulher virtuosa incentiva seu marido a
ser virtuosa também, ela é parceira na caminhada da santificação que Deus opera
em nós.
“Ela faz roupas de linho fino, e vende-as, e
dá cinta aos mercadores.” A mulher virtuosa faz com excelência aquilo a que
se propõe fazer, e excelência é um hábito. “A
força e a dignidade são os seus vestidos, e, quanto ao dia de amanhã, não tem
preocupações.” Ela está revestida de caráter, e por isso não teme o amanhã,
pois sabe que, mesmo nas dificuldades, com o esforço que Deus lhe dá,
certamente há de superar as dificuldades, especialmente as espirituais.
“Fala com sabedoria, e a instrução da bondade
está em sua língua.” Quem precisa de sabedoria, deve pedi-la a Deus que a
todos dá liberalmente, e não impõe nenhuma condição (Tiago 1:5); a mulher
virtuosa ela ora pedindo aquilo que Salomão pediu sabedora de que será
atendida.
“Atende
ao bom andamento da sua casa e não come o pão da preguiça.” Administrar uma
casa dá trabalho! Mas a mulher virtuosa não busca desculpas, ela busca
soluções! Por isso, o reconhecimento: “Levantam-se
seus filhos e lhe chamam ditosa; seu marido a louva, dizendo: Muitas mulheres
procedem virtuosamente, mas tu a todas sobrepujas. Enganosa é a graça, e vã, a
formosura, mas a mulher que teme ao SENHOR, essa será louvada.” O
reconhecimento não é só de seu caráter, mas também da obra de Deus na vida da
mulher virtuosa: a transformação não engana, nem é essa dignidade ou graça algo
artificial, mas o fruto do trabalho operado pelo Espírito Santo.
É com essa
lista que você, rapaz, deve procurar uma esposa; tente ser caminhão suficiente
para toda essa areia! E é sendo conforme essa lista, moça, que você se tornará
virtuosa! “Dai-lhe do fruto de suas mãos,
e de público a louvarão por suas obras!”
Daniel Campos