Há algo em comum entre o primeiro
homem, Adão, e qualquer outro da presente era. Não importa o lugar nem a época,
desde que o homem caiu no jardim do Éden ele sempre tenta se esquivar de suas
responsabilidades(Gn.3:12,13). Desde cedo quando os pais flagram uma atitude
desobediente dos filhos, estes geralmente buscam se explicar com motivações que
os fazem inocentes. Toda estratégia parece ser válida para se ver livre das
reprimendas. As pessoas crescem com a tendência de, sempre que confrontadas com
o erro, ter como a melhor saída procurar algo que lhe sirva de "bode
expiatório". Afinal, não há nada mais cômodo do que repassar a culpa
adiante.
Esse sentimento é tão comum que nos
dias atuais deu origem a uma grande militância. Existem pessoas que doam suas
vidas com vistas a fazer uma releitura de situações onde claramente há um
culpado pessoal que deveria ser responsabilizado. Contudo, para esses
militantes de causas pouco nobres o que os acusados precisam ser entendidos em
seu contexto. Inúmeros são os casos, como o do jovem que foi arrastado no Rio
de Janeiro ao longo de vários quilômetros por ladrões em fuga desesperada, que
encontraram nos grupos dos defensores dos direitos humanos (estão mais para “direitos dos manos”) aliados fieis para
apresentar desculpas para uma atitude incompreensível. A estratégia é sempre
colocar a culpa nos problemas sociais do país, no sistema econômico, nos
empresários, na Igreja, ou em qualquer coisa, e tem que ser uma coisa (algo
impessoal), que não diga respeito ao próprio acusado. Este tipo de argumento
leva a conclusão que não existem responsáveis pessoais, pois a culpa é externa
e foge ao controle do acusado que agora passa a ser uma vítima da situação. No
final das contas, o erro reside na vítima que por algum infortúnio estava na
hora errada e no lugar errado.
Quando os olhos se voltam para
Escritura no intuito de entender melhor o que a mente do Senhor pensa sobre
culpa, fica claro que Ele não tem o culpado por inocente (Nm. 1:3). De
fato, determinadas circunstâncias podem contribuir para que alguém cometa um
delito, mas, diante do Deus da Bíblia, quem erra deve ser responsabilizado. O
alerta dado a Adão se cumpriria "pois
no dia que comeres do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, certamente
morrerás" (Gn.2:17). Adão morreria, não outro! Todavia, o Senhor sendo
infinitamente misericordioso, desde a eternidade, decidiu salvar alguns desses
culpados. Entretanto, não se utilizando de estratégias ímpias como as citadas
no início deste texto. Deus providenciaria alguém que pudesse satisfazer a sua
Santa Justiça. A Sua lei diz que o pecado leva a morte, portanto, alguém teria
que morrer.
O Senhor, ainda prefigurando o que
ocorreria mais adiante na revelação, institui sacrifícios de animais que
serviriam de substitutos para a morte dos verdadeiros culpados. O animal seria
morto para satisfazer a justiça do Justo Juiz. Entretanto, o sacrifício do
animal que em algumas ocasiões era efetuado no meio da congregação (Ex.12), em
outras oportunidades era realizado fora. Na cerimônia do dia de purificação,
após o ritual da transferência dos pecados, era lançado o animal para longe da
congregação (Lv.16). A culpa de todo israelita era posta sobre e o bode que
carregava para longe da comunidade as iniquidades, prosseguindo para morrer
sozinho no deserto. Tal instituição divina, como se pode perceber, não invalida
a lei, nem muito menos declara o culpado como inocente sem que a pena seja
aplicada em alguém, inicialmente no animal que apontava para um ser pessoal e
humano, Cristo.
Portanto, há uma imensa diferença
entre desviar a culpa para outrem de uma forma que ninguém seja penalizado, e
aplicar a lei, mesmo que a um substituto. No primeiro caso o final é a
injustiça e a conivência, no segundo é justificação e cumprimento da lei. Deus,
em Cristo, cumpriu a lei no lugar do seu povo. Alguns ímpios que mereciam a
morte eterna foram declarados justos pela justiça do perfeito cordeiro de Deus
(Jo.1). A lei foi plenamente aplicada em Jesus. Toda a ira Santa de Deus foi
derramada sobre Cristo para que o que Nele crer não pereça, como perecia o bode
expiatório no deserto, mas tem a vida eterna (Jo.3:16). Percebe-se, então,
que buscar desculpas externas para invalidar a lei é estratégia ímpia e que
apenas reflete o estado espiritual do presente século, assim como no Éden.
Diante de Deus a única forma de não receber sobre si o castigo da lei é tendo
fé no substituto que morreu no lugar dos seus, pois sua justiça é imputada a
todo que em sua obra manifestar fé.
Rev. Augusto Brayner (IPAB)
Redação apresentada ao Mestrado em
Divindade com Ênfase em Pregação da Universidade Presbiteriana Mackenzie
(CPAJ-SP).
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