Irmãos amados, hoje, quero levá-los a refletir sobre um
assunto que tem ganhado espaço na Igreja Evangélica Brasileira em nossos dias.
A dicotomia sagrado/secular tem moldado o pensamento e as ações de muitos de
nossos irmãos, trazendo conceitos diversos e inversos à realidade que as
Escrituras traçam para o viver cristão.
Quero
começar nossa reflexão pelo texto de João 1.12, que nos revela quem somos. Se,
de fato, cremos no Senhor Jesus Cristo como nosso Salvador, e fomos amorosa e
soberanamente eleitos pelo Pai, nos tornamos filhos de Deus. Isto não é motivo
para se ter orgulho ou bater no peito em sinal de superioridade moral em
relação ao restante do mundo. Antes, é motivo para que dia após dia nos
humilhemos perante Ele e busquemos incessantemente agradá-Lo em tudo. O filho
procura obedecer ao pai terreno, a fim de não sofrer sanções por seu
comportamento transgressor. Por que, muito mais, não buscaríamos obedecer
Àquele que nos criou e amou de tal maneira que deu Seu Filho unigênito para que
não perecêssemos, mas tivéssemos a vida eterna (João 3.16)? Ser filho de Deus
não é status, é privilégio e responsabilidade.
Desse modo,
precisamos viver como filhos de Deus em todas as áreas de nossa vida. Ser
crente na igreja é fácil até demais. Ser alguém que reflete a glória de Deus
exige muito mais de nós. Dividir as práticas entre sagradas e seculares não é
demonstração de maturidade; é demonstração de fraqueza, e revela aquilo que não
está devidamente transformado em nosso ser, o que ainda nos liga ao velho homem,
aquilo que não deixamos e, portanto, não nos arrependemos de ter feito. Quando
eu tenho dois comportamentos, inevitavelmente, um deles (senão os dois) estará
desagradando ao Senhor. Se há algo em mim que não pode ser mostrado na igreja,
mas fica recluso ao recôndito do meu quarto, então isto precisa ser consertado.
Somos,
segundo o texto de Mateus 5.13, sal da terra. Talvez você já tenha se cansado
de ouvir que nós “precisamos fazer a diferença”. É, eu também. Sabe por quê?
Porque não conseguimos tirar isso do papel, do discurso. Se somos sal da terra,
é nosso dever viver de forma santa por onde passarmos, para que Cristo, que
vive em nós, seja evidenciado em cada palavra, atitude e pensamento, e as
pessoas que não conhecem do Seu amor, enxerguem a diferença de possuí-lo em
suas vidas. Se trato o tempo que passo fora da igreja (e este tempo é enorme)
como o dedicado à minha vida secular, provavelmente não farei a mínima
diferença nos ambientes que estiver. Comungarei de opiniões e compactuarei com
situações que meu Deus desaprova. Serei facilmente tragado pelas tentações e
alienações mundanas.
Quando eu
entendo o peso de ser chamado sal da terra, não me importo de ser excluído do
grupo das piadas imorais ou do “vinhozinho” do happy hour. Na realidade, hora feliz é quando estou aos pés do meu
Senhor. Não fico tentando me amoldar à linguagem e ao modus vivendi do presente século, mas procuro arduamente viver à
maneira que Jesus ordenou. Não há divisão entre secular e sagrado, pois tudo
faço para agradar o Deus da minha vida, verdadeiramente.
João 8.12
aponta para Cristo, a luz do mundo. Quem nele anda, não mais está em trevas.
Quem vive em dualidade é semelhante ao que, ao entrar em casa, liga o abajur da
sala, mas não acende a luz do quarto. Não podemos ter um pouco de luz em nossas
atitudes na igreja e total escuridão fora dela. Estaremos caminhando como
completos cegos. Não podemos achar que dentro de nossas comunidades devemos ser
exemplares, mas que fora da vista de nossos pastores a vida é nossa e somos
donos dos nossos narizes. Não podemos achar que Deus só nos vê na igreja,
cantando, levantando a mão e ouvindo sermões, mas que lá fora Ele não se
importa se eu deixar a vida, ou o mundanismo, me levar. Não se engane, irmão,
Deus não apenas nos vê em todo lugar, mas sonda o mais profundo de nossos
corações.
A presença
dessa dicotomia tem causado estragos devastadores na Igreja Evangélica
Brasileira e, se você não percebeu, comece a observar, por exemplo, os cultos
da sua comunidade. A frequência já não é tão grande assim, afinal posso cultuar
a Deus em casa mesmo; a atenção já não é mais tão presente, pois vivemos, sim,
a época do “comichão nos ouvidos”. Você pode estar se perguntando: o que isso
tem a ver com a tal dicotomia sagrado/secular? Vou te dar alguns exemplos de
como essa questão tem nos afetado e muito. Convivemos com membros de igreja que
sonegam o dízimo e os impostos de seus estabelecimentos comerciais também;
rapazes que falam o evangeliquês na igreja, mas fora dela reproduzem a linguagem
torpe das ruas; moças que se vestem recatadamente na igreja, mas se liberam e
abusam da ousadia nos ambientes sociais “seculares”; pessoas que sobem à Casa
do Senhor para entoar louvores a Deus aos domingos, mas passam a semana inteira
distante da Palavra e do procedimento no qual deveriam ser exemplos (I Timóteo
4.12).
Isto exponho
não para que as pessoas conheçam as mazelas e problemas conjunturais da
atualidade na Igreja Evangélica Brasileira, mas com o fim de nos fazer pensar que
muito do que temos vivido não é sequer parecido com o Evangelho e, portanto,
não podemos usar como parâmetro. É vital que voltemos ao Evangelho bíblico e
resgatemos os sagrados valores que devem permear nossa conduta dentro e fora da
igreja, junto com nossos irmãos e colegas de trabalho, amigos de ministério e
com o pessoal que mora na nossa rua. Em todo tempo sejam alvas as nossas vestes
e o que façamos seja para a glória do Senhor, que nos deu o poder de nos
tornarmos seus filhos. Honremos esta grande dádiva! Vivamos para Ele!
Jorge Alberto