Há pouquíssimas tristezas que se comparam àquela causada pelo término de um relacionamento. É uma sensação desesperadora. Em alguns casos pode até ser motivo de alívio, mas na grande maioria das vezes é uma avalanche de emoções que tira mais do que acrescenta.
Primeiro vem um certo alívio, uma sensação de liberdade. Mas isso passa com uma certa rapidez. Aos poucos, é substituído por uma saudade enorme. Você passa a lembrar das pequenas coisas: um carinho, um abraço, uma risada, um jeitinho especial de ouvir seu nome. No início é fácil lembrar das razões pelas quais acabou, que até certo ponto lhe dão o consolo de pensar: “Bem, pelo menos não tenho mais que lidar com isso.” Porém, cada vez mais, elas ficam nebulosas e a vontade de recuperar o que foi perdido fala mais alto, a ponto de se tornar um grito às vezes ensurdecedor. E você pensa em voltar atrás mesmo sabendo que não deu certo. Talvez, se tivesse feito algo, poderia ter funcionado. Mas não funcionou. E ficam apenas memórias e uma nostalgia de algo que você, de certo modo, jamais conheceu.
As memórias afetivas são atribuídas a alguém, sim. Elas têm rosto e nome. Mas com o passar do tempo a saudade e a imaginação vão montando um personagem fictício que se parece muito com alguém que já esteve do seu lado. As falhas da pessoa começam a se tornar secundárias e essas lacunas são preenchidas conforme a saudade. Você começa a ficar esperançoso, tentando imaginar um cenário que poderia ser diferente, se começássemos do zero, como se houvesse como apagar a história. Mas se depara com uma pessoa que faz seu coração arder enquanto você chora amargamente sentindo a perda de alguém que não existe, um protagonista “baseado em fatos reais”. E ao acordar de um sonho com aquele alguém enquanto enxuga as lágrimas, você aperta os olhos, cerra os dentes e balbucia uma oração: “Por quê, Deus?”
No término, ninguém sai ileso. Ambos entram no relacionamento com expectativas que são frustradas, pelas mais diversas razões. Mas será que o problema foi a expectativa ou a pessoa à qual ela foi direcionada? Enfim.
Alguns lidam com a perda mais facilmente. Outros não a suportam. Há quem fuja do sofrimento se jogando num projeto de trabalho ou numa sucessão de saídas com amigos a fim de afogar as mágoas. Há também os que correm logo para os braços de um outro alguém, procurando suprir aquilo que foi perdido. Em ambos os casos, é a pior coisa que se pode fazer: fugir de si, como se passado tempo o suficiente, aquela dor deixasse de ser. Mas não adianta correr. Pode até parecer que melhorou durante um curto período. A ferida que não é tratada pode até ser coberta, mas inevitavelmente encontrará um jeito de voltar, demore o quanto for. E a dor ignorada volta, e ela vem com juros acumulados e correção monetária.
Mas então, o que fazer com as lembranças? Como lidar com aquela música que remete à noite quando os dois se declararam um ao outro pela primeira vez? Ou com a gaveta aberta que escondia aquela carta esquecida? Um presente recebido, um restaurante que freqüentavam… uma coisa eu posso lhe dizer: não adianta fugir.
Antes de mais nada, é necessário fazer a seguinte distinção: você sente falta daquilo que a pessoa lhe fazia sentir ou por quem ela era? Durante o namoro, a sua felicidade era algo constante que lhe acompanhava mesmo quando não estavam juntos ou apenas quando seus dedos se encaixavam perfeitamente entre os do(a) outro(a)? É uma importante distinção a ser feita. Após passar um tempo deitado, ao levantarmos, um travesseiro se amolda ao nosso rosto, ao contorno da cabeça. Até que o travesseiro seja afofado e volte ao normal, há apenas uma cabeça que se encaixe naquele vão. Mas isso não quer dizer que o travesseiro tenha sido feito apenas para a sua cabeça. Da mesma maneira, ao passar tempo o suficiente e após um investimento afetivo significativo, a nossa carência emocional genuína se amolda àquela pessoa, toma o formato, é personificado por ela. Logo, mesmo após um tempo terminados, o coração naturalmente apontará para a última pessoa que o fisgou. Mas isso não quer dizer que você esteja “pendurado” naquela pessoa. Pode até ser, mas não pense que uma memória ou um aperto de coração apontem para uma interpretação definitiva.
Como encarar a dor do abraço que se foi? Do tempo investido? Das emoções e da compartilhamento de vida que não pode ser tomado de volta? O primeiro passo é não encarar aquilo como um erro. Afinal, foi você que escolheu dar início ao relacionamento. E naquele momento, você o considerou um acerto (a não ser que você tenha entrado num relacionamento que você já sabia estar fadado ao fim).
Houve um laço afetivo, uma conexão. Não há como ignorar a história. Durante um dado período de tempo, ambos investiram o seu coração em algo que esperavam dar certo. Mas então o encanto passa e descobre-se que não era bem aquilo, que os planos traçados não são tangíveis e que não há como voltar atrás. A ruptura abre uma ferida, já que agora temos que arrancar à força algo que cultivamos com tanto carinho dentro de nós mesmos. Passamos a nos culpar por “termos sido tão ignorantes” ou, segundo a nossa herança Adâmica, passamos a culpar o outro, como se a culpa fosse inteiramente dele ou dela. Seja de quem for a culpa, a dor que você sente não será compartilhada e cabe a você fazer algo a respeito.
Encare a sua dor. Reconheça a sua carência. Dê nome a ela. Confronte a sua dor e faça perguntas como: “Sinto falta da pessoa em si ou de como eu me sentia ao lado dela? Era um(a) companheiro(a) ou apenas uma distração divertida? Eu me sentia valorizado, satisfeito comigo mesmo ou vivia tentando alcançar um patamar estabelecido pelo outro? Eu me sentia melhor sobre mim mesmo ou minha alegria dependia só do outro? Qual é a carência ou vão que estar com aquela pessoa supria? Será que no fundo, bem lá no fundo… não é só um grande medo de ficar sozinho?” São perguntas difíceis justamente porque você fica sem ter para onde correr. Mas esse tempo na frente do espelho, se encarando, é muito importante.
Passado isso, é necessário se aceitar. Você precisa reconhecer o seu “erro”, por assim dizer. Aprenda a distinguir o que você busca numa outra pessoa e reconheça o seu papel nisso. Não guarde rancor contra a outra pessoa, mas principalmente, não guarde rancor contra si mesmo. Esse é o mais difícil de enxergar. Ao enxergar o seu papel nisso, ao perdoar o relacionamento “fracassado”, não tente apagá-lo da sua memória. Isso sim seria um erro.
“Confessar um erro é demonstrar, com modéstia, que se fez progresso na arte de raciocinar.” Jonathan Swift
Eu já namorei antes. Com cada uma, eu “errei”. Pode ser considerado um fracasso, de certo modo, pois meu objetivo (casamento) não foi alcançado. Para ignorar ou me forçar a esquecer o tempo com cada uma delas seria muita ignorância da minha parte. Cada uma, de sua maneira, contribuiu para a minha formação. Sou quem sou hoje, em parte, por causa delas. Fazem parte da minha história de vida, constituem parte de mim. Cada uma deixou sua marca. E com cada uma aprendi muito, principalmente sobre mim mesmo. Afinal, se eu ando só com gente igual a mim, nunca enxergarei minhas diferenças. Claro que tive minhas noites quando acordei fazendo a oração do punho cerrado: “Por quê, Deus?”. E não foram poucas. Sei que aprendi, mas será que não tinha um jeitinho um pouco menos doloroso não, hein Deus?
Daí penso da história de José. Imagina o que se passou na cabeça dele depois de ser vendido pelos irmãos como escravo? Imagina chegar para ele naquela noite e dizer: “José, hoje você é escravo, mas amanhã você vai ser um baita rei que vai salvar todo mundo!” Para nós é fácil ler o relato pois sabemos o final da história. Não estou prometendo que você que está solteiro lidando com um ex namoro vá, um dia, encontrar um rei ou uma rainha. Mas saiba que até isso tudo que você passou, ou ainda está passando, tem um propósito. Não, Deus não lhe abandonou. Ele só está lhe preparando para aquilo que Ele quer para você. Não duvide disso.
As vezes amar alguém leva você até a lua. Mas depois você despenca lá de cima e a dor é massacrante. Há lágrimas, arrependimento e tristeza. Há também cura, crescimento e esperança. Não descarte a sua história como se fosse um erro de percurso, simplesmente. Não faça pouco da sua dor e sofrimento. Aprenda tudo que puder nessa oportunidade de crescimento e confie em Deus para lhe restaurar e levantar. Ele continua sendo soberano e Ele sabe o que faz.
E quem sabe… qualquer dia desses você não encontra alguém que te leve além da lua.
Andrew McAlister
PUBLICADO ORIGINALMENTE EM: http://oblogdoandrew.wordpress.com/2012/11/04/quando-o-namoro-nao-da-certo/
Intercâmbio feito por Rodrigo Ribeiro
Que texto precioso,que palavras de alento para quem passou ou está passando por esta situação tão difícil,mas o renovo chega,e no final do túnel a luz brilha e o consolo vem.Glórias a Deus,por vocês e glórias ao nosso Deus pela esperança da cruz,que liberta e restaura!Abraços queridos e preciosos amigos!
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