quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A Reforma Começa em Mim


Em outubro comemoramos 496 anos desde o início da Reforma Protestante. Sua força e influência chegam até os dias de hoje, encorajando diversas gerações a lutarem por uma igreja firmada na Palavra e centralidade de Cristo. Mas o que tem ficado para trás de verdade é a prática de tudo que essas doutrinas trazem. Você pode se perguntar o que você tem haver com a Reforma Protestante, ou porque querer ser um cristão reformado? Nas palavras de John D.Hannah*: “A reforma foi uma chamada ao cristianismo autêntico, uma tentativa de escapar da corrupção medieval da fé por meio de renovação e reforma”. Seus ensinos, que giravam em torna da repetição quíntupla da palavra sola (“somente”), eram uma mensagem radical para aquela época (e deveria ser para a nossa), porque exigiam um compromisso com um ponto de vista completamente teocêntrico da fé e da vida.”

Então como pensarmos em uma reforma, sem começarmos por nós mesmos?

·         Prática na Escritura:
Somente pela Escritura, e unicamente por ela, temos o padrão de prática, pois ela é útil “para a correção”, ou seja, ela revela qual é o comportamento e proceder errado - o que nós não devemos fazer - mas também aponta “para a instrução na justiça”, para a prática correta que devemos cultivar e crescer. Lembro-me de uma revista que foi estudada em nossa sala da EBD, a revista tem por nome: Teologia Reformada – Uma Visão Panorâmica. Lembro que a cada aula ficávamos mais deslumbrados do quanto a Bíblia tem sim o ensino para as diversas áreas da nossa vida, como trabalho, educação, casamento, criação dos filhos, e política, devemos seguir por meio dos seus mandamentos para que possamos cumprir o nosso papel de cristão no mundo.

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2 Timóteo 3.16-17).

·         Prática através de Cristo:
Somente em Cristo podemos nos espelhar, buscando a perfeita imagem do Deus Criador, assim como diz a Bíblia: “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Romanos 8.29). Fomos criados para buscar semelhança a Cristo, atributos como: paciência, paz, alegria, amor, domínio próprio, temperança, fidelidade, bondade, benignidade. Temos a demonstração de toda a vida de Cristo e de seus atributos nos Evangelhos, onde devemos buscar entender e orar a Deus para que possamos nos tornar cada dia mais parecidos com o nosso Salvador.

Somente em Cristo encontramos a Salvação, pois Ele satisfez a justiça de Deus mediante a morte de Cruz. “Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida!” (Romanos 5.10). Devemos entender que não há outra maneira, em nos achegarmos a Deus se não for mediante Cristo, pois Ele é o nosso Sumo Sacerdote, “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos.” (1 Timóteo 2.5-6a).

Devemos dia após dia buscar nos gloriar em Deus por meio do sacrífico de Cristo.

“Portanto, ninguém se glorie em homens; porque todas as coisas são de vocês, seja Paulo, seja Apolo, seja Pedro, sejam o mundo, a vida, a morte, o presente ou o futuro; tudo é de vocês, e vocês são de Cristo, e Cristo de Deus.” (1 Coríntios 3.21-23).

·         Prática na Graça:
Somente pela graça, e unicamente por ela, é que somos abençoados por Deus. A graça é o favor imerecido de Deus às suas criaturas, se não fosse a Graça não seríamos salvos.

“Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo quando ainda estávamos mortos em transgressões - pela graça vocês são salvos.” (Efésios 2.4-5).

Joel Beeke* em seu livro Vivendo para a Glória de Deus nos diz o seguinte: “Ao usarmos a expressão graça gratuita e soberana, estamos dizendo que o supremo Deus do céu e da terra – o Deus trino e soberano da salvação – deseja, espontaneamente, e aplica graça salvadora a pecadores culpados e desprezíveis, transformando suas vidas de tal modo que se regozijem e vivam para servi-lo.”.

Viver pela graça, colocar em prática o conceito de Graça Soberana de Deus em nossa vida é entender que não podemos fazer nada sozinhos, é entender que existe um Deus fiel em Si mesmo, poderoso, soberano e guardador daqueles que nEle confiam e seguem seus mandamentos. Entender a Graça é estar diante da minha falta de capacidade de me salvar, de buscar coisas boas sozinhos. A Graça é um princípio Divino para nos chamar, nos regenerar, nos santificar e nos fazer perseverar até o fim.

“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus;” (Efésios 2.8).

·         Prática na fé:

Diante da nossa impotência e incompetência, não podemos confiar em nossa
carne, em nosso esforço e sim unicamente na obra de Cristo na cruz. A fé é a atitude de total confiança no que as Escrituras declaram a respeito de Cristo e sua Obra.

“Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: ‘O justo viverá pela fé’.” (Romanos 1.17). A Sagradas Escrituras nos dizem: “o justo viverá pela fé”, não viveremos de outra maneira a não ser pela fé, fé essa que implica em nossa total confiança e dependência em Deus e em seus propósitos. A fé nos faz comprometer com toda a obra de Cristo em saber que Ele morreu por nossos pecados e que fomos justificados mediante esse fato.

“A fé se apropria de Cristo e de sua justiça, unindo o pecador com o Salvador. A fé recebe a Cristo, com confiança, apegando-se à Palavra dEle e crendo em suas promessas.” (Joel Beeke).


·         A prática no Viver para a Glória de Deus:

Somente para Deus a glória, e unicamente para Ele. A Igreja existe para a demonstração deste valor: o valor que Ele tem.
A glória de Deus é a demonstração de todos os seus atributos, essa Glória deve ser demonstrada em nossa vida. Quando penso em nossa vida penso em tudo em que fomos fazer devemos fazer para Glória de Deus. “Assim, quer vocês comam, quer bebam, quer façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus.” (1 Coríntios 10.31).
Quando o cristão passa a entender o que é Viver para a Glória de Deus, ele passa a entender o quão cuidadoso e amoroso deve ser em seus princípios e virtudes. Um autor conhecido diz que cada vez mais que damos glória a Deus nos aproximamos mais dEle. Viver para Sua Glória não é simplesmente seguir seus mandamentos descritos nas Sagradas Escrituras, mas é entender que devemos fazer isso como um deleite, com um prazer inexplicável, pois o objetivo principal da vida do homem é glorificar o nome de Deus.

“Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém.” (Romanos 11.36).


Como falei no início do texto, não tive o objetivo de trazer um manual de como ser um reformado, mas sim de nos fazer entender e refletir que esses ensinos que a Reforma Protestante não serão nada se não os colocarmos em nossa prática diária, se não vivermos isso de verdade em nossa vida. Precisamos entender que a Reforma começa em cada um de nós, é quando estamos nas Sagradas Escrituras deixando-a ser nossa única regra de fé e prática. De forma que pensamos em Cristo como nosso único Salvador e Mediador diante de Deus, O único que devemos buscar ser imagem e semelhança. É quando sabemos em nosso coração que somos salvos somente pela graça misericordiosa de Deus quando Cristo se fez justiça por nós. Quando compreendemos que é pela fé que vivemos, fé em Deus e na Sua Palavra, fé no sacrifício de Cristo e fé nos propósitos divinos. E por último que nosso coração e querer devem estar somente em dar glória a Deus em tudo, entendendo que cada vez mais que nos deleitamos nEle mais Ele será glorificado em nós. Que Deus nos conduza em Sua Santa Vontade. Amém.




LARYSSA LOBO
https://www.facebook.com/laryslobo


*John D. Hannah - To God be the Glory

*Joel Beeke – Vivendo para a Glória de Deus

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A Reforma Protestante ainda nos Ajuda Hoje?



Quem já observou um pedreiro assentar tijolos certamente o viu usar um prumo. Ainda que antiquíssima, esta ferramenta não fica devendo a equipamentos sofisticados: não precisa de pilha para funcionar; é fácil de manusear e revela com precisão o que está fora de prumo!

Quando Deus o chamou, o profeta Amós viu que “o Senhor, com um prumo na mão, estava junto a um muro construído no rigor do prumo. E o Senhor me perguntou: 'O que você está vendo, Amós?' 'Um prumo', respondi. Então disse o Senhor: 'Veja! Estou pondo um prumo no meio de Israel, o meu povo; não vou poupá-lo mais. Os altares idólatras de Isaque serão destruídos e os santuários de Israel ficarão em ruínas'” (Am 7.7ss.).

Um prumo na mão de um pedreiro descreve com precisão como Deus agiu e continua agindo com o seu povo! Ele criou a humanidade para viver aprumada. O “muro construído no rigor do prumo” alude ao fato de sermos criados à “imagem de Deus” (Gn 1.27). Mas ao encostar seu prumo na nossa vida fica evidente que ela está fora de prumo: não somos o que deveríamos ser!

Instrumentos de Deus em seu tempo

No século 16 Deus encostou seu prumo, as Sagradas Escrituras, na igreja. Seus instrumentos foram um monge alemão que lecionava numa universidade provinciana (Lutero), um padre suíço duma cidade de médio porte (Zwinglio), um jovem acadêmico francês (Calvino). Estes homens anunciaram o que perceberam em púlpitos e cátedras, assembleias e tribunais, bem como em panfletos e livros.

Eles sabiam que a validade dum prumo não expira, que a palavra de Deus continua válida e revela o que está aprumado diante dele e o que não! Sabiam também que um prumo funciona de cima para baixo! A posição da peça de madeira no alto determina a posição da de metal em baixo. Assim as Escrituras Sagradas são instrumento do Altíssimo e manifestavam sua vontade entre nós. Jesus criticou os saduceus, porque eles – apesar de sacerdotes (!) – desconheciam “as Escrituras” e “o poder de Deus!” (Mt 22.29; Mc 12.24). Ao redescobrirem o evangelho os reformadores reconheceram que o poder do Criador age pela Escritura para aprumar nossa vida! Por isto não se cansaram de estudá-la e interpretá-la.

Nosso ambiente é outro

Vivemos num mundo deveras diferente do de Lutero, Zwinglio e Calvino. Talvez você lembre o desenvolvimento tecnológico. Sim, eles viajavam em carroças, nós em automóveis e aviões; escreviam com penas de ganso, nós digitamos num tablet; eles se relacionavam olho no olho, nós, pelo Facebook; etc.

Ainda que isto molde nossa vida cotidiana, a maior diferença para o tempo da Reforma é que, então, se vivia numa cultura cristã homogênea, enquanto que hoje vivemos num ambiente pluralista e pós-cristão. Quando recorriam às Escrituras Sagradas, os reformadores não precisavam convencer seus contemporâneos da sua autoridade. Nós, no entanto, não podemos mais pressupor que as pessoas à nossa volta a reconheçam. Vivemos em meio a um ferrenho concurso de verdades e convicções.

Por isto não basta repetir os reformadores, mas devemos aprender deles a atentar para o prumo de Deus a fim de anunciar ao nosso tempo o que Deus está revelando. Os reformadores podiam pressupor que seus contemporâneos entendiam sua vida e o mundo baseados na cosmovisão cristã. Nós precisamos aprender a articular com clareza como encaramos a vida e o mundo e que diferença isto faz em relação a outras propostas. Quem não conhece o Deus da Bíblia precisa desta oportunidade.

Quando ele encosta seu prumo em nós, fica evidente o que não está aprumado. É assustador perceber quanta resistência há em nós, mas é revigorante poder admitir a ajuda de Jesus Cristo. Ele “agiu para consertar as coisas nesta vida de contradições com a qual quero servir a Deus de todo coração e mente, mas sou puxado pela influência do pecado, e acabo fazendo algo que não desejo” (Rm 7.25 – A Mensagem). O mesmo poder do Espírito de Deus que atuou nos profetas e na Reforma Protestante, nos ajudará a crer nele e a obedecer hoje.

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Martin Weingaertner, nascido em Santa Catarina (1949), é diretor da Faculdade de Teo-logia Evangélica em Curitiba (FATEV) e editor do devocionário “Orando em Família”. Seu casamento com Ursula foi abençoado com 5 filhos e 8 netos.


Intercâmbio feito por Rodrigo Ribeiro

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Meu Protesto!

No dia 31 de outubro do ano em curso, completaremos 496 anos da reforma protestante. Evento este que foi o divisor de águas para a Igreja do Senhor. Pensar no legado que este movimento espiritual (ponto áureo) nos deixou, e analisar a atual realidade em que se encontram os “protestantes” do nosso tempo, é de lamentar profundamente diante do descaso que alguns cristãos expressam renegando a sua história, doutrina e confissão de fé que nortearam os fiéis no passado, tem sido o diferencial para os remanescentes no presente e de fato, nos conduzirá em triunfo até o dia de Cristo. É a partir deste fato inquestionável, que como jovem pastor, amante das Escrituras, expresso o meu protesto diante desse teatro em que se encontra o evangelho no Brasil:

1.            Protesto contra a indiferença dos evangélicos nas discussões de âmbitos sociais, políticos e econômicos de nosso país.

2.            Protesto contra muitas igrejas que na tentativa de desenvolverem um trabalho social relevante e por não terem uma leitura mais densa das Escrituras, acabam se tornando ONGREJAS. 

3.            Protesto contra a superficialidade de boa parte dos autodenominados evangélicos, a ausência do conhecimento de Deus pelo método indelével da pregação, é um fato que nos assusta! 

4.            Protesto contra os púlpitos vendidos à psicologizações, teorias freudianas, mensagens de auto-ajuda, uma leitura a partir de outras lentes, e não da própria Escritura.

5.            Protesto contra a pobreza musical e poética dos evangélicos brasileiros. Torna-se um árduo trabalho selecionar algo de bom para se ouvir. São centenas de canções centradas num antropocentrismo exacerbado.

6.            Protesto contra a enxurrada de músicas evangélicas que não dizem nada e, portanto, não acrescentam nada à vida cristã.  Canta-se muito, mas não há pedagogia, pois essas “letras” não refletem a beleza do Rei expressa em Sua Palavra.

7.            Protesto contra o comércio em que se tornou a fé evangélica. O cristianismo do Senhor que não tinha onde reclinar a cabeça se tornou a mina de ouro e fonte de poder dos já magnatas evangélicos e moeda de troca das camadas de baixo da comunidade evangélica.

8.            Protesto contra os pastores da mídia e artistas evangélicos que estão enriquecendo as custas do povo brasileiro já tão sofrido. Alguns deles cobram fortunas para exercerem seus “ministérios” em outras igrejas e para suas apresentações. Isso é ministério? Não para Paulo (cf. 1 Co 9.18).

9.            Protesto contra a desonestidade de liberais que não pregam em suas igrejas o que ensinam na academia. Fazem isso ou por medo de perderem o emprego ou por saberem que a teologia que lecionam mataria sua igreja.

10.          Protesto contra a enxurrada de novos seminários teológicos que são abertos com fins unicamente lucrativos. Eles exigem o mínimo dos alunos e têm muito pouco a oferecer a nível acadêmico. São meios de se conseguir um diploma fácil com uma carga horária diminuta. O resultado disso, são pastores e professores de teologia despreparados. “Teólogos” de cabeças ocas devidamente reconhecidos pelo MEC
.
11.          Protesto contra as igrejas que “matam” seus pastores sobrecarregando-os de atividades e desviando-os de seu chamado à Palavra e à Oração.

12.          Protesto contra os pastores que “matam” suas igrejas privando-as de uma pregação expositiva fiel às Escrituras e de um pastorado regado a oração e amor. Elas morrem de inanição espiritual.

13.          Protesto contra o descaso de algumas denominações históricas que abandonam suas confissões de fé em nome do famigerado pragmatismo.

14.          Protesto contra muitos pastores de igrejas confessionais que se mostram desonestos absorvendo e desenvolvendo em seus ministérios práticas oriundas de denominações de linha pentecostal e neo-pentecostal. Seria muito melhor que saíssem, ou fundassem sua própria denominação do que pertencer a uma igreja confessional e na prática não subscrever a sua doutrina.

15.          Protesto contra a frouxidão doutrinária do evangelicalismo brasileiro.  Em muitas realidades, se “prega” tudo, menos a Palavra de Deus.

16.          Protesto contra a ignorância dos denominados evangélicos frente o legado da Reforma Protestante do séc. XVI. O reflexo disto dentre outras coisas é a reprodução de alguns erros de ordem moral, litúrgica, doutrinária e etc, que foram cometidos no passado tudo por falta de conhecimento.

17.          Protesto contra boa leva de cristãos que se autoproclamam reformados, mas sua ortodoxia não reverbera num ortopraxia. Não evangelizam, não se envolvem com a obra missionária, não desenvolvem atividades de caráter social, são turrões, briguentos.  Alguns limitam-se apenas a discutir teologia nas redes sociais criando desta forma uma verdadeira ojeriza para com aqueles que não conhecem a fé reformada.

18.          Protesto contra a falta de santidade daqueles que proclamam em alto e bom som sua fé em Jesus. Alguém precisa informar que uma das ordens do Senhor para o Seu povo é a santidade (cf. 1 Pe 1:16; Hb 12:4).

19.          Protesto contra o abandono de uma cosmovisão que abarque a compreensão da fé em todas as áreas de nossa existência isto inclui tudo: educação, medicina, artes, política, ciência, questões contemporâneas, ética, e tudo mais.

20.          Protesto contra meus próprios pecados. Não me conformo em ser como sou. Mas, sou o que sou, pela graça de Deus.

Pr. José Rafael

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

UMP INDICA : O que É Teologia Reformada? (R.C. Sproul)

Há 496 anos, na Alemanha, inicia-se um movimento: a Reforma Protestante. Conhecendo a história da Igreja Protestante e suas bases, tendo como ponto central a Palavra de Deus, compreenderemos o que Calvino queria dizer quando afirmou: “Igreja reformada, sempre se reformando”, e veremos que não se trata de uma busca de novas referências e sim um retorno as Sagradas Escrituras.  Mas você sabe o que foi esse movimento? Que princípios foram defendidos? Quais foram rejeitados?  Como ela impacta a nossa vida cristã? 

   É para esclarecer essas e muitas outras questões que o blog Voltemos ao Evangelho, em comemoração à Reforma protestante, apresenta a série Mês da Reforma. Ela contém doze vídeos, divididos nos seguintes tópicos: Introdução; Católicos, Evangélicos e Reformados; Somente a Escritura; Somente a Fé - Parte 1; Somente a Fé - Parte 2; Pacto; Depravação Total - Parte 1; Depravação Total - Parte 2; Eleição Incondicional; Expiação Limitada; Graça Irresistível e Perseverança dos Santos. Juntos eles compõem uma exposição direta e clara do Dr. R.C. Sproul, com o título “O que é Teologia Reformada?”. Também é possível encontrar facilmente disponível para compra pela internet o DVD completo.


   Que a Reforma seja um exemplo para nós hoje, que a Palavra de Deus tenha sempre primazia e que assim o Seu nome seja sempre glorificado! 


Lídia Santos
Facebook: www.facebook.com/lidiasantoss

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Porque Batizar Crianças? Com a palavra Louis Berkhof.

É sobre a questão do batismo de crianças que se acha a mais importante divergência entre nós e os batistas. Estes afirmam, como o dr. Hovey, escritor batista o expressa, “que somente os crentes em Cristo têm direito ao batismo, e somente os que dão uma confiável prova da fé nele devem ser batizados”. Quer dizer que as crianças são excluídas do sacramento. Contudo, em todas as demais denominações** elas o recebem. Vários pontos requerem consideração em conexão com este assunto.
a. Base bíblica do batismo de crianças. Pode-se dizer de início que não há´nenhuma ordem explícita na Bíblia para batizar crianças, e que não há um único exemplo no qual se nos diga claramente que crianças foram batizadas. Mas isto não torna necessariamente antibíblico o batismo. O fundamento escriturístico do batismo de crianças acha-se nos seguintes dados:
(1) A aliança feita com Abrão era primariamente uma aliança espiritual, embora também tivesse um aspecto nacional, e desta aliança espiritual a circuncisão era um sinal e selo. É um procedimento infundado dos batistas partir esta aliança em duas ou três alianças diferentes. A Bíblia se refere à aliança com Abraão diversas vezes, mas sempre no singular, Ex 2.24; Lv 26.42; 2 Rs 13.23; 1 Cr 16.16; Sl 105.9. Não há sequer uma única exceção a esta regra. A natureza espiritual desta aliança é comprovada pela maneira segundo a qual suas promessas são interpretadas no Novo Testamento, Rm 4.16-18; 2 Co 6.16-18; Gl 3.8, 9, 14, 16; Hb 8.10; 11.9, 10, 13. decorre também do fato de que evidentemente a circuncisão era um rito que tinha significação espiritual, Dt 10.16; 30.6; Jr. 4.4; 9,25, 26; At 15.1; Rm 2.26-29; 4.11; Fp 3.2, e do fato de que a promessa da aliança é até denominada “o evangelho”, Gl 3.8.
(2) Esta aliança ainda está em vigência, e é essencialmente idêntica à “nova aliança” da presente dispensação. A unidade e continuidade da aliança em ambas as dispensações segue-se do fato de que o Mediador é o mesmo, At 4.12; 10.43; 15.10, 11; Gl 3.16; 1 Tm 2.5, 6; 1 Pe 1.9-12, a condição é a mesma, a saber, a fé, Gn 15.6 (Rm 4.3); Sl 32.10; Hb 2.4; At 10.43; Hb 11, e as bênçãos são as mesmas, quais sejam, a justificação, Sl 32.1, 2, 5; Is 1.18; Rm 4.9; Gl 3.6, a regeneração, Dt 30.6; Sl 51.10, dons espirituais, Jl 2.28, 32; At 2.17-21; Is 40.31, e a vida eterna, Ex 3.6; Hb 4.9; 11.10. Aos que foram levados à convicção no dia de Pentecostes Pedro deu a certeza de que a promessa era para ele e para os seus filhos, At 2.39. Paulo argumenta em Rm 4.13-18 e Gl 3.13-18 que a dádiva da lei não anulou a promessa, de sorte que ela ainda permanece na nova dispensação. E o escritor de Hebreus assinala que a promessa a Abraão foi confirmada com juramento, de modo que os crentes neotestamentários podem haurir consolo da sua imutabilidade, Hb 6.13-18.
(3) Pela determinação de Deus, as crianças participavam dos benefícios da aliança, e, portanto, recebiam a circuncisão como sinal e selo. Segundo a Bíblia, a aliança é, evidentemente, um conceito orgânico, e sua realização segue linhas orgânicas e históricas. Há um povo ou nação de Deus, um conjunto orgânico tal que só pode constituir-se de famílias. Naturalmente, esta idéia de nação é muito proeminente no Velho Testamento, mas o notável é que ela não desapareceu depois da nação de Israel ter servido ao seu propósito. Ela foi espiritualizada e, assim, passou para o Novo Testamento, de modo que o povo de Deus, no Novo Testamento, também é apresentado como nação, Mt 21.43; Rm 9.25, 26 (comp. Oséias 2.23); 2 Co 6.16; Tt 2.14; 1 Pe 2.9. Durante a antiga dispensação, as crianças eram consideradas parte integrante de Israel como o povo de Deus. Estavam presentes quando era renovada a aliança, Dt 29.10-13; Js 8.35; 2 Cr 20.13, tinham um lugar na congregação de Israel e, portanto, estavam presentes em suas assembléias religiosas, 2 Cr 20.13; Jl 2.16. Em vista de promessas ricas como as de Is 54.13; Jr 31.34; Jl 2.28, dificilmente esperaríamos que os privilégios de tais crianças fossem reduzidos na nova dispensação, e, certamente, não procuraríamos sua exclusão de todo e qualquer lugar na igreja. Jesus e os apóstolos não as excluíram, Mt 19.14; At 2.39; 1 Co 7.14. A referida exclusão por certo exigiria uma declaração muito explícita a respeito.
(4) Na nova dispensação o batismo, pela autoridade divina, substitui a circuncisão como o sinal e selo iniciatório da aliança da graça. A Escritura insiste vigorosamente em que a circuncisão não pode mais servir como tal, At 15.1, 2; 21.21; Gl 2.3-5; 5.2-6; 6.12, 13, 15. Se o batismo não lhe tomou o lugar, o Novo Testamento não tem nenhum rito iniciatório. Mas Cristo o estabeleceu como tal substituto, Mt 28.19, 20; Mc 16.15, 16. Seu sentido espiritual corresponde ao da circuncisão. Como a circuncisão se referia à eliminação do pecado e à mudança do coração, Dt 10.16; 30.6; Jr 4.4; 9.25, 26; Ez 44.7, 9, assim o batismo se refere ao lavamento purificador do pecado., At 2.38; 1 Pe 3.21; Tt 3.5, e à renovação espiritual, Rm 6.4; Cl 2.11, 12. esta última passagem claramente liga a circuncisão ao batismo e, ensina que a circuncisão de Cristo, isto é, a circuncisão do coração, simbolizada pela circuncisão da carne, é realizada pelo batismo, isto é, por aquilo que o batismo simboliza. Cf. também Gl 3.27, 29. Mas, se as crianças recebiam o sinal e selo da aliança na antiga dispensação, a pressuposição é que certamente elas têm direito de recebe-lo na nova, a qual os fiéis do Velho Testamento eram ensinados a aguardar como sendo uma dispensação muito mais completa e muito mais rica. Sua exclusão dela requereria uma declaração clara e inequívoca com esse fim, mas exatamente o oposto é que se vê, Mt 19.14; At 2.39; 1 Co 7.14.
(5) Como acima foi assinalado, o Novo Testamento não contém nenhuma evidência direta em favor da prática do pedobatismo nos dias dos apóstolos. Lambert, após considerar e sopesar todas as evidências à mão, expressa a sua conclusão com as seguintes palavras: “Então, as evidências do Novo Testamento parecem apontar para a conclusão de que o batismo de crianças, para dizer o mínimo, não era costume geral na era apostólica”.[1] Mas não há necessidade de ninguém se surpreender com o fato de não haver menção direta do batismo de crianças, pois num período missionário como o da era apostólica, naturalmente a ênfase recairia sobre o batismo de adultos. Além disso, nem sempre as condições eram favoráveis ao batismo de crianças. Os conversos não teriam de imediato uma adequada concepção dos seus deveres e responsabilidades pactuais. Às vezes somente um dos pais se convertia e é perfeitamente concebível que o outro se opusesse ao batismo dos filhos. Muitas vezes não havia razoável certeza de que os pais educariam os seus filhos piedosa e religiosamente, e, todavia, era necessária essa certeza. Ao mesmo tempo, a linguagem do Novo Testamento é perfeitamente coerente com uma continuação da administração orgânica da aliança, que exigia a circuncisão das crianças, Mt 19.14; Mc 10.13-16; At 2.39; 1 Co 7.14. Ademais, o Novo Testamento fala repetidamente do batismo de famílias, e não dá indicação de que isto seja considerado fora do comum, mas, antes, refere-se a esse fato como natural, At 16.15, 33; 1 Co 1.16. È, por certo, inteiramente possível, mas não muito provável, que nenhuma dessas famílias tivesse crianças. E se havia crianças, é moralmente certo que eram batizadas junto com seus pais. O certo é que o Novo Testamento não contém nenhuma prova de que pessoas nascidas e criadas em famílias cristãs não possam ser batizadas antes de chegarem à idade da discrição e de haverem professado sua fé em Cristo. Não há a mais ligeira alusão a alguma prática desse tipo.
(6) Wall, na introdução da sua História do pedobatismo (History of Infant Baptism), mostra que no batismo de prosélitos os filhos dos prosélitos muitas vezes eram batizados junto com seus pais; mas Edersheim diz que havia uma diferença de opiniões sobre este ponto.[2] Naturalmente, mesmo que isso acontecesse, nada provaria quanto ao batismo cristão, mas mostraria que não havia nada de estranho nesse procedimento. A mais antiga referência histórica ao batismo de crianças acha-se nos escritos da segunda metade do segundo século. A obra Didaquê fala do batismo de adultos, mas mão do pedobatismo; e conquanto Justino faça menção de mulheres que eram discípulas de Cristo desde a infância (ek paidon), esta porção dos seus escritos não menciona o batismo, e a expressão ek paidon não significa necessariamente infância. Irineu, falando de Cristo, diz: “Ele veio salvar por meio de Si próprio todos os que, por meio dele, nascem de novo para Deus, crianças e criancinhas, e meninos, e jovens e idosos”.[3] Este trecho, embora não mencione explicitamente o batismo, é considerado como a mais antiga referência ao batismo de crianças, visto que os chamados “pais primitivos” associavam tão estritamente o batismo à regeneração, que empregavam o termo”regeneração” em lugar de “batismo”. Que o batismo de crianças era praticado mui geralmente, é evidenciado pelos escritos de Tertuliano, embora ele próprio considerasse mais proveitoso protelar o batismo.[4] Orígenes o descreve como uma tradição dos apóstolos. Diz ele: “Pois isto havia também que a igreja tinha dos apóstolos uma tradição (ou, ordem) de dar o batismo até mesmo às crianças”.[5] O Concílio de Cartago (253 A.D.) toma o batismo de crianças como certo e simplesmente discute a questão sobre se elas deveriam ser batizadas antes dos oito dias de idade. Do segundo século em diante, o batismo de crianças é reconhecido normalmente, embora às vezes negligenciado na prática. Agostinho inferiu do fato de que ele era praticado pela igreja no mundo inteiro, apesar de não instituído nos concílios, que, com toda a probabilidade, foi estabelecido pela autoridade dos apóstolos. Sua legitimidade não foi negada até aos dias da Reforma, quando os anabatistas se opuseram a ele.




** Excetuadas as igrejas pentecostais em geral, que tiveram maior desenvolvimento nas décadas recentes. Nota do tradutor.
[1] The Sacraments in the New Testament, p. 204.
[2] Life and Times of Jesus the Messiah II, p. 746.
[3] Adv. Haereses II, 22, 4.
[4] De Baptismo, c. XVIII.
[5] Comm. In Epist. Ad Romanos, lib. B.

BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2013, pg. 634.



Guilherme Barros

              
                               

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Novos Desafios a Fé Evangélica

Vivemos em um contexto onde a Igreja de Deus tem enfrentado crises tremendas, por não perceber em que âmbito está inserida. A sociedade busca a satisfação no efêmero, no fragmentário e no caótico. Não há mais um interesse pelo conteúdo do que se prova e sim, uma busca desesperada por satisfazer os sentidos, sem que haja um sentimento de culpa. Essa sociedade apresenta novos desafios à fé evangélica.

Existe um abismo entre o movimento pós-moderno e o cristianismo, no que diz respeito a uma compreensão mais apurada do mesmo em relação ao movimento do tempo presente, o qual denominamos pós-modernismo. A igreja encontra-se de mãos atadas por não saber como ser “boca de Deus” em uma sociedade que não tem seus padrões pautados na verdade, pois a verdade é relativa no meio de um povo que odeia os absolutos. O que vale é o que “dá certo” e não aquilo que é certo. O entretenimento substituiu, em boa parte das nossas igrejas, a vocação daqueles aos quais Deus chamou. É triste perceber como a hermenêutica dos sentidos tem imperado no evangelicalismo brasileiro de forma surpreendente. Nisto percebemos a influência do pós-modernismo na atmosfera moral do povo evangélico brasileiro, onde tudo é feito sem uma real compreensão dos ritos.

A pós-modernidade tem se infiltrado de forma sutil no meio evangélico, através da filosofia, da arte, da musica, da cultura e por último, através da teologia. Não se sabe mais, à luz do campo visual, quem verdadeiramente é regenerado ou não, pois a grande marca dessa sociedade na qual estamos inseridos é a confusão daquilo que é verdade, a saber, a palavra de Deus. Chega até ser difícil, defender a fé cristã se não for baseada em uma apologética pressuposicional, e mais ainda, numa apologética relacional, onde os indivíduos são atraídos para o evangelho através de relacionamentos significativos entre crentes e não crentes. Desprezando solenemente o aviso bíblico. Isaías 5:20 Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo!

Enfim, é necessário que se tenha uma compreensão do momento em que se encontra a sociedade, para então, podermos atuar de forma significativa nesse contexto chamado pós-modernidade. Ou pagaremos o preço e seremos extintos.

Pr. Heliormar Dias

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Os Desigrejados


Para mim resta pouca dúvida de que a igreja institucional e organizada está hoje no centro de acirradas discussões em praticamente todos os quartéis da cristandade, e mesmo fora dela. O surgimento de milhares de denominações evangélicas, o poderio apostólico de igrejas neopentecostais, a institucionalização e secularização das denominações históricas, a profissionalização do ministério pastoral, a busca de diplomas teológicos reconhecidos pelo estado, a variedade infindável de métodos de crescimento de igrejas, de sucesso pastoral, os escândalos ocorridos nas igrejas, a falta de crescimento das igrejas tradicionais, o fracasso das igrejas emergentes – tudo isto tem levado muitos a se desencantarem com a igreja institucional e organizada.Alguns simplesmente abandonaram a igreja e a fé. Mas, outros, querem abandonar apenas a igreja e manter a fé. Querem ser cristãos, mas sem a igreja. 

Muitos destes estão apenas decepcionados com a igreja institucional e tentam continuar a ser cristãos sem pertencer ou frequentar nenhuma. Todavia, existem aqueles que, além de não mais frequentarem a igreja, tomaram esta bandeira e passaram a defender abertamente o fracasso total da igreja organizada, a necessidade de um cristianismo sem igreja e a necessidade de sairmos da igreja para podermos encontrar Deus. Estas idéias vêm sendo veiculadas através de livros, palestras e da mídia. Viraram um movimento que cresce a cada dia. São os desigrejados.
Muitos livros recentes têm defendido a desigrejação do cristianismo (*). 

Em linhas gerais, os desigrejados defendem os seguintes pontos.

1) Cristo não deixou qualquer forma de igreja organizada e institucional.

2) Já nos primeiros séculos os cristãos se afastaram dos ensinos de Jesus, organizando-se como uma instituição, a Igreja, criando estruturas, inventando ofícios para substituir os carismas, elaborando hierarquias para proteger e defender a própria instituição, e de tal maneira se organizaram que acabaram deixando Deus de fora. Com a influência da filosofia grega na teologia e a oficialização do cristianismo por Constantino, a igreja corrompeu-se completamente.

3) Apesar da Reforma ter se levantado contra esta corrupção, os protestantes e evangélicos acabaram caindo nos mesmíssimos erros, ao criarem denominações organizadas, sistemas interligados de hierarquia e processos de manutenção do sistema, como a disciplina e a exclusão dos dissidentes, e ao elaborarem confissões de fé, catecismos e declarações de fé, que engessaram a mensagem de Jesus e impediram o livre pensamento teológico.

4) A igreja verdadeira não tem templos, cultos regulares aos domingos, tesouraria, hierarquia, ofícios, ofertas, dízimos, clero oficial, confissões de fé, rol de membros, propriedades, escolas, seminários.

5) De acordo com Jesus, onde estiverem dois ou três que crêem nele, ali está a igreja, pois Cristo está com eles, conforme prometeu em Mateus 18. Assim, se dois ou três amigos cristãos se encontrarem no Frans Café numa sexta a noite para falar sobre as lições espirituais do filme O Livro de Eli, por exemplo, ali é a igreja, não sendo necessário absolutamente mais nada do tipo ir à igreja no domingo ou pertencer a uma igreja organizada.

6) A igreja, como organização humana, tem falhado e caído em muitos erros, pecados e escândalos, e prestado um desserviço ao Evangelho. Precisamos sair dela para podermos encontrar a Deus.

Eu concordo com vários dos pontos defendidos pelos desigrejados. Infelizmente, eles estão certos quanto ao fato de que muitos evangélicos confundem a igreja organizada com a igreja de Cristo e têm lutado com unhas e dentes para defender sua denominação e sua igreja, mesmo quando estas não representam genuinamente os valores da Igreja de Cristo. Concordo também que a igreja de Cristo não precisa de templos construídos e nem de todo o aparato necessário para sua manutenção. Ela, na verdade, subsistiu de forma vigorosa nos quatro primeiros séculos se reunindo em casas, cavernas, vales, campos, e até cemitérios. Os templos cristãos só foram erigidos após a oficialização do Cristianismo por Constantino, no séc. IV.

Os desigrejados estão certos ao criticar os sistemas de defesa criados para perpetuar as estruturas e a hierarquia das igrejas organizadas, esquecendo-se das pessoas e dando prioridade à organização. Concordo com eles que não podemos identificar a igreja com cultos organizados, programações sem fim durante a semana, cargos e funções como superintendente de Escola Dominical, organizações internas como uniões de moços, adolescentes, senhoras e homens, e métodos como células, encontros de casais e de jovens, e por ai vai. E também estou de acordo com a constatação de que a igreja institucional tem cometido muitos erros no decorrer de sua longa história.

Dito isto, pergunto se ainda assim está correto abandonarmos a igreja institucional e seguirmos um cristianismo em vôo solo. Pergunto ainda se os desigrejados não estão jogando fora o bebê junto com a água suja da banheira. Ao final, parece que a revolta deles não é somente contra a institucionalização da igreja, mas contra qualquer coisa que imponha limites ou restrições à sua maneira de pensar e de agir. Fico com a impressão que eles querem se livrar da igreja para poderem ser cristãos do jeito que entendem, acreditarem no que quiserem – sendo livres pensadores sem conclusões ou convicções definidas – fazerem o que quiserem, para poderem experimentar de tudo na vida sem receio de penalizações e correções. Esse tipo de atitude anti-instituição, antidisciplina, anti-regras, anti-autoridade, antilimites de todo tipo se encaixa perfeitamente na mentalidade secular e revolucionária de nosso tempo, que entra nas igrejas travestida de cristianismo.
É verdade que Jesus não deixou uma igreja institucionalizada aqui neste mundo. Todavia, ele disse algumas coisas sobre a igreja que levaram seus discípulos a se organizarem em comunidades ainda no período apostólico e muito antes de Constantino.

1) Jesus disse aos discípulos que sua igreja seria edificada sobre a declaração de Pedro, que ele era o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16.15-19). A igreja foi fundada sobre esta pedra, que é a verdade sobre a pessoa de Jesus (cf. 1Pd 2.4-8). O que se desviar desta verdade – a divindade e exclusividade da pessoa de Cristo – não é igreja cristã. Não admira que os apóstolos estivessem prontos a rejeitar os livre-pensadores de sua época, que queriam dar uma outra interpretação à pessoa e obra de Cristo diferente daquela que eles receberam do próprio Cristo. As igrejas foram instruídas pelos apóstolos a rejeitar os livre-pensadores como os gnósticos e judaizantes, e libertinos desobedientes, como os seguidores de Balaão e os nicolaítas (cf. 2Jo 10; Rm 16.17; 1Co 5.11; 2Ts 3.6; 3.14; Tt 3.10; Jd 4; Ap 2.14; 2.6,15). Fica praticamente impossível nos mantermos sobre a rocha, Cristo, e sobre a tradição dos apóstolos registrada nas Escrituras, sem sermos igreja, onde somos ensinados, corrigidos, admoestados, advertidos, confirmados, e onde os que se desviam da verdade apostólica são rejeitados.

2) A declaração de Jesus acima, que a sua igreja se ergue sobre a confissão acerca de sua Pessoa, nos mostra a ligação estreita, orgânica e indissolúvel entre ele e sua igreja. Em outro lugar, ele ilustrou esta relação com a figura da videira e seus galhos (João 15). Esta união foi muito bem compreendida pelos seus discípulos, que a compararam à relação entre a cabeça e o corpo (Ef 1.22-23), a relação marido e mulher (Ef 5.22-33) e entre o edifício e a pedra sobre o qual ele se assenta (1Pd 2.4-8). Os desigrejados querem Cristo, mas não querem sua igreja. Querem o noivo, mas rejeitam sua noiva. Mas, aquilo que Deus ajuntou, não o separe o homem. Não podemos ter um sem o outro.

3) Jesus instituiu também o que chamamos de processo disciplinar, quando ensinou aos seus discípulos de que maneira deveriam proceder no caso de um irmão que caiu em pecado (Mt 18.15-20). Após repetidas advertências em particular, o irmão faltoso, porém endurecido, deveria ser excluído da “igreja” – pois é, Jesus usou o termo – e não deveria mais ser tratado como parte dela (Mt 18.17). Os apóstolos entenderam isto muito bem, pois encontramos em suas cartas dezenas de advertências às igrejas que eles organizaram para que se afastassem e excluíssem os que não quisessem se arrepender dos seus pecados e que não andassem de acordo com a verdade apostólica. Um bom exemplo disto é a exclusão do “irmão” imoral da igreja de Corinto (1Co 5). Não entendo como isto pode ser feito numa fraternidade informal e livre que se reúne para bebericar café nas sextas à noite e discutir assuntos culturais, onde não existe a consciência de pertencemos a um corpo que se guia conforme as regras estabelecidas por Cristo.

4) Jesus determinou que seus seguidores fizessem discípulos em todo o mundo, e que os batizassem e ensinassem a eles tudo o que ele havia mandado (Mt 28.19-20). Os discípulos entenderam isto muito bem. Eles organizaram os convertidos em igrejas, os quais eram batizados e instruídos no ensino apostólico. Eles estabeleceram líderes espirituais sobre estas igrejas, que eram responsáveis por instruir os convertidos, advertir os faltosos e cuidar dos necessitados (At 6.1-6; At 14.23). Definiram claramente o perfil destes líderes e suas funções, que iam desde o governo espiritual das comunidades até a oração pelos enfermos (1Tm 31-13; Tt 1.5-9; Tg 5.14).

5) Não demorou também para que os cristãos apostólicos elaborassem as primeiras declarações ou confissões de fé que encontramos (cf. Rm 10.9; 1Jo 4.15; At 8.36-37; Fp 2.5-11; etc.), que serviam de base para a catequese e instrução dos novos convertidos, e para examinarem e rejeitarem os falsos mestres. Veja, por exemplo, João usando uma destas declarações para repelir livre-pensadores gnósticos das igrejas da Ásia (2Jo 7-10; 1Jo 4.1-3). Ainda no período apostólico já encontramos sinais de que as igrejas haviam se organizado e estruturado, tendo presbíteros, diáconos, mestres e guias, uma ordem de viúvas e ainda presbitérios (1Tm 3.1; 5.17,19; Tt 1.5; Fp 1.1; 1Tm 3.8,12; 1Tm 5.9; 1Tm 4.14). O exemplo mais antigo que temos desta organização é a reunião dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém para tratar de um caso de doutrina – a inclusão dos gentios na igreja e as condições para que houvesse comunhão com os judeus convertidos (At 15.1-6). A decisão deste que ficou conhecido como o “concílio de Jerusalém” foi levada para ser obedecida nas demais igrejas (At 16.4), mostrando que havia desde cedo uma rede hierárquica entre as igrejas apostólicas, poucos anos depois de Pentecostes e muitos anos antes de Constantino.

6) Jesus também mandou que seus discípulos se reunissem regularmente para comer o pão e beber o vinho em memória dele (Lc 22.14-20). Os apóstolos seguiram a ordem, e reuniam-se regularmente para celebrar a Ceia (At 2.42; 20.7; 1Co 10.16). Todavia, dada à natureza da Ceia, cedo introduziram normas para a participação nela, como fica evidente no caso da igreja de Corinto (1Co 11.23-34). Não sei direito como os desigrejados celebram a Ceia, mas deve ser difícil fazer isto sem que estejamos na companhia de irmãos que partilham da mesma fé e que crêem a mesma coisa sobre o Senhor.

É curioso que a passagem predileta dos desigrejados – “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20) – foi proferida por Jesus no contexto da igreja organizada. Estes dois ou três que ele menciona são os dois ou três que vão tentar ganhar o irmão faltoso e reconduzi-lo à comunhão da igreja (Mt 18.16). Ou seja, são os dois ou três que estão agindo para preservar a pureza da igreja como corpo, e não dois ou três que se separam dos demais e resolvem fazer sua própria igrejinha informal ou seguir carreira solo como cristãos.

O meu ponto é este: que muito antes do período pós-apostólico, da intrusão da filosofia grega na teologia da Igreja e do decreto de Constantino – os três marcos que segundo os desigrejados são responsáveis pela corrupção da igreja institucional – a igreja de Cristo já estava organizada, com seus ofícios, hierarquia, sistema disciplinar, funcionamento regular, credos e confissões. A ponto de Paulo se referir a ela como “coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3.15) e o autor de Hebreus repreender os que deixavam de se congregar com os demais cristãos (Hb 10.25). O livro de Atos faz diversas menções das “igrejas”, referindo-se a elas como corpos definidos e organizados nas cidades (cf. At 15.41; 16.5; veja também Rm 16.4,16; 1Co 7.17; 11.16; 14.33; 16.1; etc. – a relação é muito grande).

No final, fico com a impressão que os desigrejados, na verdade, não são contra a igreja organizada meramente porque desejam uma forma mais pura de Cristianismo, mais próxima da forma original – pois esta forma original já nasceu organizada e estruturada, nos Evangelhos e no restante do Novo Testamento. Acho que eles querem mesmo é liberdade para serem cristãos do jeito deles, acreditar no que quiserem e viver do jeito que acham correto, sem ter que prestar contas a ninguém. Pertencer a uma igreja organizada, especialmente àquelas que historicamente são confessionais e que têm autoridades constituídas, conselhos e concílios, significa submeter nossas idéias e nossa maneira de viver ao crivo do Evangelho, conforme entendido pelo Cristianismo histórico. Para muitos, isto é pedir demais.

Eu não tenho ilusões quanto ao estado atual da igreja. Ela é imperfeita e continuará assim enquanto eu for membro dela. A teologia Reformada não deixa dúvidas quanto ao estado de imperfeição, corrupção, falibilidade e miséria em que a igreja militante se encontra no presente, enquanto aguarda a vinda do Senhor Jesus, ocasião em que se tornará igreja triunfante. Ao mesmo tempo, ensina que não podemos ser cristãos sem ela. Que apesar de tudo, precisamos uns dos outros, precisamos da pregação da Palavra, da disciplina e dos sacramentos, da comunhão de irmãos e dos cultos regulares.

Cristianismo sem igreja é uma outra religião, a religião individualista dos livre-pensadores, eternamente em dúvida, incapazes de levar cativos seus pensamentos à obediência de Cristo.------------------------------------------------------------------------------------------
NOTA:(*) Podemos mencionar entre eles: George Barna, Revolution (Revolução), 2005; William P. Young, The Shack: a novel (A Cabana: uma novela), 2007; Brian Sanders, Life After Church(Vida após a igreja), 2007; Jim Palmer, Divine Nobodies: shedding religion to find God(Joões-ninguém divinos: deixando a religião para encontrar a Deus), 2006; Martin Zener,How to Quit Church without Quitting God (Como deixar a Igreja sem deixar a Deus), 2002; Julia Duin, Quitting Church: why the faithful are fleeing and what to do about it (Deixando a Igreja: por que os fiéis estão saindo e o que fazer a respeito disto), 2008; Frank Viola,Pagan Christianity? Exploring the roots of our church practices (Cristianismo pagão? Explorando as raízes das nossas práticas na Igreja), 2007; Paulo Brabo, Bacia das Almas: Confissões de um ex-dependente de igreja (2009).

Augustus Nicodemus

Intercâmbio feito por Rodrigo Ribeiro

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Enquanto Escondi meus Pecados os meus Ossos Secaram

O reformador Lutero certa vez disse: “Eu tenho mais medo do meu coração do que da igreja católica, do papa e seus cardeais”. Lutero debruçou-se a enxergar a escuridão dos seus pecados, via no seu coração as marcas da depravação humana, se por ora ele combatia os ensinamentos heréticos da igreja por outro se penitenciava a enxergar que a maior luta que ele tinha era contra ele mesmo, contra os pecados que sorrateiramente o tentava dominar.

Davi era prova disso, em um dos mais belos salmos Davi retrata a profundidade do pecado que outrora cometera, o Salmo 51 tem por título: confissão e arrependimento. De forma sincera Davi diz: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe”, já não se tratava apenas de um pecado específico mais de uma profunda analise da sua natureza.

A história de Davi, a qual se refere o salmo, encontra-se em 2Samuel 11 e 12, onde são narradas as atitudes de Davi como pecados singulares em sua vida. Esses capítulos mostram uma sequência drástica de pecados cada vez piores que começam com a cobiça da mulher de um amigo, seguido pelo adultério ao tomá-la em seu leito, e a história segue com um homicídio premeditado onde retrata em 2 Samuel 11:15 “Escreveu na carta, dizendo: Ponde a Urias na frente da maior força da peleja; e retirai-vos de detrás dele, para que seja ferido e morra.”

O Salmo 51 é um dos sete salmos penitenciais (6, 32, 38, 51, 102, 130, 143). Davi após ter sido alertado do seu pecado, 2 Samuel 12:1-9, tem um profundo arrependimento. Os versículos 3, 4, 9 indica que Davi estava consciente do pecado especifico que havia cometido, mas chegara mais longe ao dizer que não só pelos motivos expostos, mas o pecado em (lato sensu) estava encardido em sua natureza. O versículos 11 a de se orientar que Davi ao dizer que “não retires de mim o teu Espírito Santo” estava a falar sobre a unção e a dádiva do espírito santo que havia recebido como rei e não sobre a presença do espírito santo que habitava nele, ele pede que não retire dele o reino como havia acontecido com Saul.

Davi foi um homem segundo o coração de Deus (Atos 13:22) não por pouco, no verso 13 Davi diz que se perdoado e com alegria restaurada, o salmista ajudaria os outros pecadores a encontrar perdão também, nos versos 18 e 19 Ele demonstrava cuidados com o povo ao qual o senhor o colocou como sendo rei. Clama para que com a comunhão restaurada tenha as bênçãos sobre Sião e Jerusalém reestabelecida.

Sem dúvida Davi nos traz preciosas lições, a forma em que Ele faz uma análise do seu coração, dos seus pecados, a sua sinceridade é ponto marcante e ele sabia que somente sendo sincero conseguiria perdão para os seus pecados.

Os cristãos de hoje tem deixado de lado práticas como confissão de pecados, suas vidas parecem corretas, seus pecados são encoberto pelo um fino manto de incredulidade, negam o sacrifício de Cristo na remissão de pecados e ornamentam suas vidas de finos panos manchados pelo pecado que está por baixo.

Meus queridos irmãos, será que esquecemos de onde fomos regatados, porque caminhamos a passos largos novamente para prisão? Porque somos velozes em querer colocar algemas novamente em nossas mãos, andamos novamente para o buraco onde éramos escravos e bebíamos doses amargas de veneno da serpente?

Reflita com sinceridade, gaste horas com Cristo orando e intercedendo pelos pecados que tens ainda relutado em abandonar. Você está sobre a presença de um Deus santo e não mais desgarrados como uma vez já esteve.

Que Deus nos conceda a graça de estar sempre pondo nosso coração à prova, clamando para que Ele encontre em nós servos irrepreensíveis, santos, dignos de dizer que somos seus filhos.
Ei de me alegrar na benignidade desse Deus, porque sei que dele vem a perdão de pecados.


Walber Arruda