De
forma extremamente coerente a Confissão de Fé Westminster inicia o
primeiro capítulo tratando das questões relativas à bibliologia,
em perfeita consonância com o principio formal da reforma
protestante, o Sola Scriptura.
Se um dos lemas mais preciosos dos reformadores dizia respeito
justamente à autoridade exclusiva das Escrituras como regra de fé e
prática, é natural que a confissão de Fé iniciasse sua jornada
teológica a partir deste ponto de partida: a doutrina das escrituras
sagradas.
Neste
sentido destaca-se o seguinte artigo que trata exatamente da doutrina
da revelação: Ainda
que a luz da natureza e as obras da criação e da providência
manifestam de tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que
os homens ficam inescusáveis, todavia não são suficientes para dar
aquele conhecimento de Deus e da sua vontade, necessário à
salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e
diferentes modos revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua
vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da
verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja
contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi
igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna a Escritura
Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de Deus
revelar a sua vontade ao seu povo (Confissão
de Fé de Westminster, 1:1).
Posteriormente
a Confissão trata dos seguintes temas: Doutrina da Revelação
(parágrafo I; O Cânon e a Inspiração das Escrituras (parágrafos
II e III); Autoridade das Escrituras (parágrafos IV e V);
Suficiência das Escrituras (parágrafo VI); Clareza das Escrituras
(parágrafo VII); Preservação e Tradução das Escrituras
(parágrafo VIII); Interpretação das Escrituras (parágrafo IX) e O
Juiz Supremo das Controvérsias Religiosas (parágrafo X).
No
tocante à doutrina da revelação, a CFW professa a doutrina da
revelação natural, afirmando que a natureza, seja o macrocosmos
(estrelas, plantas e etc) ou o cosmo (terra, os mares, o próprio
homem e etc) consistem em uma pregação acerca da existência de
Deus. Mesmo o homem pós-queda, nasce com uma versão da lei de Deus
em si, impulsionando-o à adoração, e consequente idolatria para
naqueles que não foram regenerados. Este doutrina tem como
fundamentos diversas passagens das Escrituras, como por exemplo Sl
19:1-4 e Rm 2:14-15. Esta revelação torna o homem indesculpável
diante de Deus.
Ao
compreender esta doutrina somos inclinados a observar as ciências
sob uma nova ótica, não mais como inimiga dos cristãos, mas sim
como uma forma de descobrir a glória de Deus mediante o estudo de
suas obras, pois como afirma Paulo Anglada: “As
ciências podem até ser consideradas departamentos da teologia,
especializações que estudam a criação e a providência. O estudo
da química, da física, da matemática, da biologia, da geografia,
da política, da antropologia, da história, etc., deve ter por fim
último a glória de Deus. Não é sem razão que muitos dos
primeiros cientistas dignos do nome eram cristãos sinceros, como
Isaac Newton e Faraday. “
O
direcionamento materialista e ateísta percebido nas academias só
atestam a ação do pecado na vida de muitos cientistas, que se
esmeram em compreender a criação, mas são absolutamente cegos e
rebeldes diante do Criador de todas as coisas. Estes homens são
indesculpáveis.
Diante
da insuficiência da revelação natural para salvar os homens, haja
visto que a cegueira causada pelo pecado o faz distorcer
completamente o testemunho da criação, aprouve a Deus revelar-se de
maneira especial e graciosa a sua igreja.
O
Senhor do universo escolheu um povo para si e passou a se revelar de
forma gradual e progressivamente, primeiramente através dos
patriarcas, profetas e por fim através do seu próprio filho
encarnado, Cristo Jesus (Hb 1:1-2). Esta revelação entregue à
igreja é único meio eficaz do homem alcançar o caminho que o leva
a salvação, restaurando sua comunhão com o Criador.
A
fim de resguardar este imenso tesouro de valor imensurável, Deus
instruiu seu povo para escrever sua revelação, e assim preservá-la
de posteriores adições e deturpações. Ainda que esta processo
tenha sido efetuado pelos homens, cremos que o próprio Deus esteve
por trás destes atos, resguardando o conteúdo de nossa fé, o
caminho para a salvação e a piedade.
Diante
deste breve mais profundo relato presente nas Escrituras e
organizando na Confissão de Fé de Westminster devemos nutrir um
apreço intenso pela Palavra de Deus, dando a esta graça que nos foi
dada toda a honra merecida, e nos esforçando para permanecer puros
e firmes em seus preceitos pois ela é a orientação que vem dos
céus para nos levar para junto de nosso Deus.
Nenhuma
tradição deve tomar o seu lugar de honra, e nenhuma outra revelação
deve suplantar ou concorrer com seu poder normativo. Seu valor é
inestimável pois se não fosse esta preciosa revelação todos nós
seríamos condenados. Que esta seja nossa Confissão, mas que também
seja a nossa verdade. Sola Scriptura!
Rodrigo Ribeiro
Este
texto é fruto de um trabalho feito do módulo de BIBLIOLOGIA da Especialização em
Estudos Teológicos do Andrew Jumper, ministrado pelo Prof. LEANDRO LIMA, e que teve como base um resumo feito de um trecho do livro de Paulo R. B. Anglada, Sola
Scriptura: A Doutrina Reformada das Escrituras (São Paulo: Editora Os Puritanos,
1998), 25-31.
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