Nem
todo dia o sol brilha com a mesma intensidade. Em nossa existência também
iremos nos deparar com o céu nublado e até mesmo tempestades torrenciais. A
mentira habita nos lábios daquele que propaga uma verdade diversa desta, ainda
mais se esta fábula for direcionada aos cristãos, uma falsa promessa de vida
mansa e pacífica, distante de tribulações. Certo é que todos já encaramos e
também iremos encarar tempos difíceis em nossa vida. A grande questão é somente
uma: como iremos lidar com eles? Seremos despedaçados em meio à turbulência ou
iremos sair dela mais fortalecidos?
Neste
sentido, dentre várias preciosas orientações de como lidar com os tempos
nebulosos da vida, destaco uma frase do príncipe dos pregadores, o Pastor
Batista Charles Spurgeon que afirmou que “aqueles que mergulham no mar das
aflições trazem pérolas raras para cima”, apontando para soberania de Deus e
sua maravilhosa providência, que nos fez descansar certos de que todas as
coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus (Romanos 8:28).
A
respeito deste dilema onipresente nos corações humanos, é possível perceber ainda
uma profunda e verdadeira reflexão vinda de um lugar inesperado, pelo menos
para alguns mais ascéticos. Também existem verdade e graça fora dos muros eclesiásticos,
ainda não seja a graça salvífica, mas sim a comum, pois “toda a boa dádiva e
todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há
mudança nem sombra de variação.” (Tiago 1:16-17) e nisto está incluso a boa
arte, assim como a boa ciência e etc.
No
instante que o movimento gospel declina de uma teologia saudável, especialmente
em temas como o sofrimento, Deus tem levando pedras para clamar. E vos
apresento neste instante uma breve reflexão num destes clamores, nos instruindo
a respeito de uma forma de lidar com os dias maus em perfeita consonância com a
verdade bíblica. Observem a letra da canção “Eu Envergo Mais Não Quebro” do Pernambucano
Lenine:
Se por acaso pareço
E agora já não padeço
Um mal pedaço na vida
Saiba que minha
alegria
Não é normal todavia
Com a dor é dividida
Eu sofro igual todo
mundo
Eu apenas não me
afundo
Em sofrimento infindo
Eu posso até ir ao fundo
De um poço de dor profundo
Mais volto depois sorrindo
Nesta etapa inicial da música, especialmente
na estrofe em negrito, podemos observar uma nítida semelhança com a perspectiva
apresentada no inicio pelo Pastor Batista Charles Spurgeon, com base nos
escritos do Apóstolo Paulo. De fato ainda que sejamos submersos pelo mar bravio
das aflições, não devemos sucumbir em meio à dor, devemos retornar a superfície
trazendo uma pérola preciosa, com um retumbante sorriso nos lábios. A mesa
verdade é manifesta nas palavras destes dois homens, e só porque um incrédulo
(Lenine) falou não podemos descartar uma verdade tão visível. Ela também vem de
Deus.
Em tempos de
tempestades
Diversas adversidades
Eu me equilíbrio e
requebro
É que eu sou tal qual
a vara
Bamba de bambú-taquara
Eu envergo mas não
quebro (2x)
As
adversidades certamente nos acometem, mas nessa hora é preciso compreender que
ainda que moídos, torcidos, envergados, não devemos desfalecer, pois não
seremos quebrados. O choro pode durar uma noite, ou várias, mas a manhã irá
despontar na alvorada. O que nos resta? Nos equilibrar e aguardar o raiar do
sol.
Não é só felicidade
Que tem fim na realidade
A tristeza também tem
Tudo
acaba, se inicia
Temporal
e calmaria
Noite
e dia, vai e vem
Neste
momento é possível chamar o Rei Salomão para tomar parte na melodia, visto que
ele mesmo em Eclesiastes 1, versículos de 2 à 7, nos informa, sob a inspiração
do Espírito Santo, que não há nada de novo debaixo da terra e que tudo é
vaidade, de modo que o sol nasce e depois se põe, as gerações vem e vai, o mar
sempre corre para o mar e assim por diante. Tudo sempre começa e termina, num
ciclo sem fim. O temporal e o dia mau não fogem desta regra. Aparentemente o
mesmo inspirador está por trás destes versos. E por que não?
Quando é má a maré
E quando já não dá pé
Não me revolto ou me queixo
E
agora o músico envergonha uma multidão de religiosos que não se contentam em
murmurar contra a providência de Deus, mas chegam ao disparate de coloca-lo na
parede, ordenando que mude a sorte deles, restituindo e lhes dando um bom
tempo. Lenine, embalsamado na graça de Deus, nos apresenta outro caminho, que
não é novo: a piedade com contentamento, que nos é ensinada por Paulo em 1 Timóteo
6.6-8. Mais uma voz o apóstolo participa da melodia popular brasileira.
E tal qual um barco solto
Salto alto mar revolto
Volto firme pro meu eixo
Em noite assim como esta
Eu cantando numa festa
Ergo o meu copo e celebro
Os bons momentos da vida
E nos maus tempos da lida
Eu envergo, mas não quebro (4x)
Por fim, para terminar com chave de
ouro, a poesia musicada nos indica mais uma postura: aproveitar e celebrar os
dias bons, como forma de nos equipar para suportar os inevitáveis dias maus.
Mas uma vez precisamos nos arvorar na antiga e sempre atual sabedoria de
Salomão que corrobora com o cantor pernambucano: Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe com coração contente o teu
vinho, pois já Deus se agrada das tuas obras. (Eclesiastes 9:7). E contexto
do texto em questão é exatamente este: o homem não controle sobre o bem ou mal
que lhe é acometido, sendo assim, ele deve aproveitar as bênçãos de Deus e
descansar Nele, pois o Senhor se agradou de antemão de suas obras.
Diante desta análise gostaria de
sugerir duas reflexões oportunas: primeiramente, não limite a verdade de Deus
às quatro paredes do templo. A igreja é sim o baluarte da verdade, mas a graça
de Deus ainda se encontra em várias manifestações e ignorar isto, rejeitando as
coisas pela fonte e não pelo conteúdo, significa ingratidão contra o próprio
Deus que capacitou os homens. Prestemos atenção nas palavras de Calvino: “Mas
contaremos qualquer coisa como digna de louvor ou nobre sem ao mesmo tempo
reconhecermos que vem de Deus? Que nos envergonhemos de nossa ingratidão, na
qual nem os poetas pagãos caíram, pois eles confessavam que deuses tinham
inventado a filosofia, as leis e todas as artes úteis.” [1]
E por último, que possamos refletir
nesta canção, assim como na frase Spurgeon e nos textos bíblicos de Paulo e
Salomão que fazem coro em uma só voz. A dor estará presente nesse mundo, pelo
menos até que Cristo volte. Os dias maus ainda irão nos alcançar, mas que
possamos descansar nos braços de nosso Senhor, sabendo que ainda que venhamos a
envergar, certamente ele não permitirá que sejamos destruídos.
Deixo convosco a canção
supracitada. Apreciem!
Link: http://letras.mus.br/lenine/1979026/
Rodrigo
Ribeiro
Citações:
[1] CALVINO, João. Instituas 2.2.15 apud HORTON, Michael. In: O Cristão e a
Cultura. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2006.
Rodrigo meu brother, que TEXTOOO!
ResponderExcluirTu vai me deixar doido.
Quanta Graça cara!!
E tu acha que aprendi isso com quem? Comecei a ler tuas viagens na época que ainda estava saindo do casulo legalista e hoje sou um discípulo de sua arte de chocar! kkkkk #SoliDeoGlória
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