(Ef 5: 15-21)
Introdução
O Espírito nos capacita a testemunhar a Cristo de forma fiel e com poder
(At 1:8). Desta maneira, a Igreja não se assombra diante dos obstáculos que
muitas vezes tentam fazê-la calar ou mesmo desanimar. Ela vai no poder e
sabedoria do Espírito, cumprindo a sua missão imperativa e incondicional de
testemunha de Cristo. A Igreja, não pode deixar de dar testemunho, visto que
ela “não pode fugir à vocação do seu próprio ser”. (At 1:8; 4:8-13,31; 9:17-20; 11:21-25;13:9-12).
Como Igreja, somos levados sob a direção do Espírito, de forma irreversível a
testemunhar sobre a realidade de Cristo e do poder da Sua graça.
O trabalho que temos a realizar no reino de Deus só será possível
mediante a capacitação do Espírito Santo. Alias, não existe vida cristã sem o
Espírito Santo, pois essa vida começa com o novo nascimento e ninguém nasce de
novo a não ser através do Espírito (Jo 3:5).
A doutrina do Espírito Santo é de importância fundamental para a Igreja,
pois somos habitação do Espírito, e como vimos, sem Ele não há vida cristã, nem
ministério, nem dons espirituais nem pregação genuína.
O conceito de Paulo, quanto à plenitude do Espírito Santo, consiste em
seis pontos:
1-
Vê prudentemente como anda (Ef 5:15)
O apóstolo falou sobre os pecados da vida pagã (4:25; 5:14), que devem
ser abandonados, e ao fazê-lo, referiu-se ao abandono da escuridão daquela
velha vida e ao tornar-se luz no Senhor. Luz é um símbolo tanto de conhecimento
como de pureza. Esses irmãos da igreja de Efeso tinham sido iluminando em
Cristo. Por isso devem viver de modo digno (Ef 4:1).
Portanto observai (vigiar, olhar) atentamente como estais vivendo...
Sede estritamente cuidadosos acerca da vida que levais. A ideia de Paulo
aqui, é que seus irmãos pudessem manter o controle dos princípios pelos quais
governam suas vidas.
A figura bíblica do “andar” é
significativa, pois aponta para a nossa realidade diária de caminhar, nos
deparando com novas e desafiadoras situações, para as quais o Espírito nos
conduzirá de forma segura conforme as Escrituras.
O propósito de Paulo aqui é mostrar que necessariamente a maneira como
se porta aqueles que foram iluminados pelo Espírito Santo é oposta ao homem
natural. Não como imprudentes, mas como sábios.
A palavra prudência vem do latim “prudentia” que quer dizer: virtude que
leva o Homem a prever e a evitar os erros e os perigos.
2-
Redime o tempo (Ef 5:16)
Mais uma vez ele é bastante prático. Andar em sabedoria diz respeito em
particular ao uso adequado do tempo.
Um dos maiores desafios que temos na atualidade é em relação à
administração e uso correto do nosso tempo. Há algumas expressões que são
características do homem moderno:
“A vida está muito corrida”. “Não
tenho tempo para nada”. “A gente não vê o tempo passar”. “Parece que o tempo
hoje passa mais depressa que antigamente”. Na realidade o problema não é o
tempo, é o modo de vida. O que faz o tempo “passar” mais depressa são as
inúmeras atividades com as quais nos envolvemos.
A Bíblia fala a respeito do tempo. O sábio Salomão, ao escrever
Eclesiástes disse que há tempo para todo o propósito debaixo do céu. O apóstolo
Paulo quando aqui desafia os membros da igreja com a seguinte expressão:
“Remindo o tempo Porque os dias são maus.” Efésios 5:16. O que fica patente
nestes textos bíblicos é que o tempo precisa ser corretamente administrado.
Paulo lembra que os dias são maus, como crentes não podemos relaxar, mas
usar cada oportunidade para conduzir outros das trevas para luz. Podemos também compreender que, os dias,
sendo maus, estão sob o julgamento de Deus, e por esse motivo “o tempo se
abrevia” (1 Co 7:29), e cada oportunidade deve, portanto, ser aproveitada antes
que seja tarde demais.
3- Procura
compreender a vontade de Deus (Ef 5:17)
O Rev. Augustus Nicodemus, em um de seus posts no Tempora, diz o
seguinte:
O ponto central de Calvino era que o Espírito fala pelas Escrituras. Não
que o Espírito estivesse restrito à Pregação da Palavra e aos sacramentos, mas
sim que Ele não pode ser dissociado de ambos. O Espírito havia sido dado à
Igreja, não para trazer novas revelações, mas para nos instruir nas palavras de
Cristo e dos profetas. De acordo com Calvino, o Espírito sela nossas mentes
quando ouvimos e recebemos com fé a palavra da verdade, o Evangelho da salvação
(Ef 1:13). Ele limita-se a guiar os crentes e a iluminar seus entendimentos
naquilo que ouviu e recebeu do Pai e do Filho, e não de Si mesmo (Jo 16:13).
Como o ensino divino se encontra nas Escrituras, a obra do Espírito consiste em
iluminá-las, fazendo com que esse ensino seja entendido pelos fiéis.
A vontade de Deus é revelada com beleza, graça e verdade nas paginas das
Escrituras Sagradas.
"Um reavivamento", diz o Dr. Héber de Campos, "que é
produto da obra do Espírito Santo na igreja, certamente tem sua ênfase naquilo
que tem sido esquecido por muito tempo: a Palavra de Deus. A autoridade da
Palavra de Deus passa ser algo extremamente forte num momento genuíno de
reavivamento. A Bíblia passa novamente a ser honrada como a única Palavra
inspirada de Deus".
4- Canta um novo Cântico (Ef 5: 19)
A Confissão de Westminster (1647) capta bem isso ao dizer: “... O modo
aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo e tão limitado
pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo imaginações e
invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer outra maneira não
prescrita na Santa Escritura.” Adorar a Deus de modo não prescrito em Sua
Palavra é um ato idólatra, pois deste modo, adoramos na realidade a nossa
própria vontade e gosto. Aqui há uma inversão total de valores: em nome de Deus
buscamos satisfazer os nossos caprichos e desejos; Deus se tornou um mero
instrumento para a expressão de nossa vontade; a lógica dessa atitude é a
seguinte: desde que estejamos satisfeitos, descontraídos e leves, é isso o que
importa. Quem assim procede, já recebeu a sua recompensa: A satisfação
momentânea do seu desejo pecaminoso.
5- Dá
sempre graças por tudo a Deus (Ef 5:20)
A expressão “dai graças” é a tradução do verbo grego Eu)xariste, que tem
o sentido, conforme o traduzido, de “agradecer”. A sua raiz é a mesma do
substantivo Eu)xaristi/a (Eucaristia), que pode ser traduzido por “gratidão”
(Cf. At 24:3).
Paulo diz que devemos ser imitadores de Deus e, como tais, ao invés de
vivermos com conversações torpes, deveram andar em ações de graça (Ef 5:1-4).
A nossa gratidão a Deus é o resultado da certeza de que Ele cuida de nós
e que, de fato, não existem eventos casuais, sorte, azar ou fatalismo. Deus é
Quem nos guarda! Portanto, em todas as circunstâncias, podemos encontrar
motivos para agradecer a Deus, certos de que Ele é o Senhor da história e nada
nos acontece sem a permissão governativa de Deus e que tudo o que nos ocorre
tem um sentido proveitoso para a expressão de nossa vida: física, psíquica e
espiritual. “Sabemos que todas as cousas cooperam para o bem daqueles que amam
a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28). O “bem”
dos filhos de Deus é tornar-se cada vez mais identificado com o seu Senhor (Rm
8:29-30).
6- Sujeita
aos outros (Ef 5:21)
O crente cheio do Espírito
revela esta realidade não apenas no seu relacionamento com Deus, mas, também,
com o seu próximo. O crente cheio do Espírito está pronto para o serviço em
humildade, sem pretensões de grandeza ou de honra, tendo como princípio
orientador do seu comportamento, o “temor de Cristo”, sabendo que tudo o que
somos e temos provém de Deus (1Co 4:7; 15:10; 2Co 3:5; 2Pe 1:3). Isto significa
que uma Igreja cheia do Espírito não é regida pela disputa de cargos,
honrarias, individualismo ou vanglória; isto porque há a consciência de que
todos servem uns aos outros para a Glória de Deus e o aperfeiçoamento dos
santos (Mt 18:1-4; 20.28; Rm 12:10; Ef 4:2,3,11-16; Fp 2:3; 1Pe 5:5).
Um exemplo negativo daqueles que se julgavam “espirituais”, encontramos
em Corinto, onde grassava arrogância espiritual, facções, e imoralidade (1Co
1:11,12; 3:1-9; 11:17-22; 14:26-33). A alegação espiritual dos coríntios não
correspondia à sua prática de vida; no entanto, revelava a fragilidade e
imaturidade de sua fé.
Conclusão
Podemos interpretar o texto de (Ef 5:18), como que Paulo dizendo: “Sede
constantemente, momento após momento, controlados pelo Espírito.” Hoekema
O imperativo presente ensina-nos que ninguém pode, jamais, reivindicar
ter sido cheio do Espírito de uma vez por todas. Estar sendo continuamente
cheio do Espírito é, de fato, o desafio de uma vida toda e o desafio de cada
dia.
Enchei-vos do Espírito” –, não uma opção de vida cristã para alguns, que
pode ser seguida ou não. A ordem bíblica é categórica e para todos os crentes
em Cristo. O verbo está na voz passiva, indicando que o sujeito da ação é
passivo; Deus é o autor do enchimento.
“O Espírito Santo não trabalha, portanto, independentemente da obra de
Cristo, como pregam todos aqueles que enfatizam o culto ao Espírito Santo e acabam
por desviar os olhos dos fiéis da pessoa de Cristo. O Espírito Santo não vem
como “uma segunda bênção”, nem vem realizar fenômenos sem sentido ou fora do
contexto revelador de Cristo, tais como curas espetaculares, risos santos,
quedas, urros, dentes de ouro ou quaisquer outras maravilhas glorificadoras dos
homens que as realizam. Ele vem selar o trabalho de Cristo na vida do crente,
abrindo-lhe o coração à conversão, batizando-o com a abençoada regeneração,
fazendo morada no coração de todos os salvos, promovendo a comunhão cristã,
edificando o Corpo de Cristo, iluminando o entendimento e operando o
crescimento em santificação.” (Pb. Solano Portela).
José Rafael
Pastor da Igreja Congregacional do Centenário em
Campina Grande
Um valoroso irmão em Cristo que muito nos honrou
com esta brilhante participação em nosso blog.
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