segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Prove seu Sexo

Meu marido e eu temos um filho jovem. Esse filho não é como os seus irmãos. Esse filho é emocional, empático. Ele gosta de canções, histórias e um abraço. Ele não se importa muito em ganhar e às vezes abandona o jogo de futebol do quintal antes mesmo do segundo tempo. Ele não é aventureiro nem barulhento. Ele, contudo, ainda assim é um garoto.
Quando ele crescer, é improvavél que ele seja o próximo Tim Tebow. Mas eu gostaria de pensar que ele pode ser o próximo C.S. Lewis. E espero que a comunidade cristã ainda tenha um lugar para ele.
Em sua biografia recente, A vida de C.S. Lewis: Do ateísmo às terras de Nárnia, Alister McGrath apresenta o jovem Lewis como um garoto bastante diferente dos demais. Enviado a uma escola interna inglesa aos 10 anos de idade, Lewis “parece não ter se encaixado na cultura da escola pública da era Edwardiana.” Ao invés de participar das competições atléticas, Lewis ouvia opera e lia poesia.

Essas diferenças lhes trouxeram alguns problemas. “Garotos que não eram bons em esportes” McGrath escreve, “eram ridicularizados e sofriam bullying por parte dos seus colegas. O atletismo desvalorizava conquistas artísticas e intelectuais e transformou muitas em escolas em pouco mais que campos de treinamento para a glorificação do corpo. Contudo, o cultivo da masculinidade era visto como integral aos desenvolvimento do caráter.”

O garoto poeta e a garota atleta

O nosso mundo após a Suprema Corte derrubar o Ato de Defesa do Casamento parece estar bem distante daqueles padrões Edwardianos de masculinidade baseados em partidas de rugby. Mas eu me preocupo que um padrão estreito similar esteja ganhando popularidade entre os Cristãos. Ao se levantarem contra a névoa que obscurece o gênero e a sexualidade, característica do nosso mundo hoje, cristãos podem inconscientemente requerer de nossos jovens que provem eles mesmos se são homens ou mulheres. Eu tenho medo que a comunidade conservadora cristã não tenha mais espaço para jovens que são diferentes, para o garoto poeta e a garota atleta. Isso seria uma grande perda.
Lewis, com certeza, se tornou um dos mais influentes teólogos da era moderna. Em junho de 2013, até mesmo o The New York Times, reconheceu isso com uma coluna intitulada “C.S. Lewis, Evangelical Rock Star” (C.S. Lewis, uma estrela evangélica do rock), uma manchete que certamente teria chocado os colegas de infância do Lewis. De um imaginativo e artístico garoto, Lewis cresceu para realizar grandes coisas no Reino de Deus. E existem hoje em nossas igrejas garotos e garotas com potencial semelhante. A normal e difundida aceitação da homossexualidade complica ainda mais a nossa posição. A comunidade cristã tem que se posicionar contra o pecado da homossexualidade (e dezenas de outros pecados) com um grau de foco e energia nunca antes preciso para tratar desse assunto. Contra a mudança do pano de fundo das normas culturais, cristãos conservadores tem que defender alguns padrões definitivos. A situação requer isso.
Mas essa necessidade de definições dá margem ao surgimento de uma série de problemas próprios. Em 2005, Anthony Esolen explanou a dificuldade dos jovens, em particular, rapazes:
“A proeminência da homossexualidade muda a linguagem para os garotos adolescentes. É absurdo e cruel dizer que os garotos podem ignorar isso. Mesmo que eles pudessem, os seus colegas de classe não os deixariam. Todos os garotos precisam provar que eles não são fracassados. Eles precisam provar que estão no caminho de se tornarem homens.”
Esolen argumenta que a cultura da homossexualidade força os jovens a se definirem aos seus colegas de uma forma notável; o que era desnecessário nas gerações anteriores.
Isso foi em 2005. Agora, em 2013, a situação mudou ainda mais. Em um mundo pós-DOMA onde um transexual do primeiro ano usa o banheiro das garotas, a cultura não está mais de forma óbvia forçando as pessoas a serem uma coisa ou outra. Gênero e sexualidade são conceitos fluídos no mundo de hoje. Eles estão em uma jornada pessoal de escolhas e preferências, sujeitas a mudanças a qualquer momento. De acordo com esse padrão do mundo, nossos jovens já não tem mais que definirem a si mesmos como alguma coisa.
Mas na comunidade cristã conservadora, nós ainda estamos nos posicionando firmemente. Nós estamos nos levantando contra a névoa ao proclamarmos o padrão da criação, a beleza e o complementarismo das diferenças de gênero e a necessidade dos jovens de abraçarem suas responsabilidades de gênero.
Tal ênfase incorre em erros para a Igreja como aqueles que Esolen previamente atribuiu à sociedade como um todo. Ao se posicionar contra a ambiguidade sexual e de gênero, nós corremos o risco de fazermos definições em excesso e assim forçar nossos jovens a provar aquilo que não precisa ser provado.
Nada a provar

Então novamente eu volto ao meu filho sensível, com sua preferência por brincadeiras imaginativas a brincadeiras competitivas. Eu reflito se ele em breve ele não mais se encaixará na comunidade cristã, pressionado a provar a si mesmo – não pelo seus colegas de vizinhança, que não vão ligar para o que ele é – mas por outros cristãos, que querem que ele se posicione por um certo tipo de masculinidade em extinção.
Em 2005, Esolen sugeriu que os jovens veem na fornicação heterossexual uma opção fácil para provar a sua identidade sexual. Nós ainda enfrentamos esse perigo. Atos sexuais, pensamentos e desejos são corretamente cultivados apenas no casamento (entre um homem e uma mulher). Eu não espero ver cristãos aceitando fornicação. Mas eu posso imaginar uma quase justificativa a expressões infantis ou adolescentes de atração pelo sexo oposto. Bom, pensaremos, pelo menos eles não são tentados à homossexualidade.

Os jovens também precisam aprender as habilidades necessárias para cumprir as suas responsabilidades de adulto. Garotos são aos poucos, treinados para serem cabeças do lar assim como Cristo é o cabeça da Igreja (Efésios 5.23). Garotas estão trabalhando para desenvolverem um caráter que eventualmente tome a responsabilidade de “trabalhar em casa... submissa aos seus próprios maridos” (Tito 2.5). Muita dessa atual ênfase nesse ensino contra cultural é valioso.

Mas essas habilidades, assim como qualquer outro santo dever, são mais duros para alguns indivíduos aprenderem do que para outros. É uma falta de amor e um ato anti-bíblico assumir que todo garoto cristão naturalmente irá tomar o seu papel de liderança ou que qualquer garota cristã irá imediatamente se satisfazer com os deveres domésticos. Assim como cada um de nós luta para cumprir alguns dos mandamentos do Senhor (digo, paciência e contentamento), a personalidade de alguns jovens fará com que administrar as suas responsabilidades de gênero seja uma tarefa difícil. Nós não deveríamos fazer da facilidade em assumir essas tarefas um teste da verdadeira piedade.
Finalmente, a comunidade crista deveria intencionalmente celebrar o maravilhoso espectro de personalidades e talentos que Deus criou. Nós temos sim que nos posicionarmos contra o pecado sexual. Mas que não declaremos um certo tipo de garota ou um certo tipo de garoto como mais piedoso do que outro.
Jovens cristãos – pensadores e sentimentais, músicos e montanhistas, lutadores e poetas – não tenham nada a provar.

Megan Hill vive em Mississipi. Ela é membro da St. Paul Presbyterian Church (PCA) e escreve sobre vida ministerial no Sunday Women.


Publicado em: http://thegospelcoalition.org/blogs/tgc/2013/09/04/prove-your-gender/

Edição e Tradução: Igor Sabino


Nenhum comentário:

Postar um comentário