Meu marido e eu temos um filho jovem.
Esse filho não é como os seus irmãos. Esse filho é emocional, empático. Ele
gosta de canções, histórias e um abraço. Ele não se importa muito em ganhar e
às vezes abandona o jogo de futebol do quintal antes mesmo do segundo tempo. Ele
não é aventureiro nem barulhento. Ele, contudo, ainda assim é um garoto.
Quando ele crescer, é improvavél que
ele seja o próximo Tim Tebow. Mas eu gostaria de pensar que ele pode ser o
próximo C.S. Lewis. E espero que a comunidade cristã ainda tenha um lugar para
ele.
Em
sua biografia recente, A vida de C.S.
Lewis: Do ateísmo às terras de Nárnia, Alister McGrath apresenta o jovem
Lewis como um garoto bastante diferente dos demais. Enviado a uma escola
interna inglesa aos 10 anos de idade, Lewis “parece não ter se encaixado na
cultura da escola pública da era Edwardiana.” Ao invés de participar das
competições atléticas, Lewis ouvia opera e lia poesia.
Essas diferenças lhes trouxeram
alguns problemas. “Garotos que não eram bons em esportes” McGrath escreve,
“eram ridicularizados e sofriam bullying por parte dos seus colegas. O
atletismo desvalorizava conquistas artísticas e intelectuais e transformou
muitas em escolas em pouco mais que campos de treinamento para a glorificação
do corpo. Contudo, o cultivo da masculinidade era visto como integral aos
desenvolvimento do caráter.”
O garoto poeta e a garota atleta
O nosso mundo após a Suprema Corte
derrubar o Ato de Defesa do Casamento parece estar bem distante daqueles
padrões Edwardianos de masculinidade baseados em partidas de rugby. Mas eu me
preocupo que um padrão estreito similar esteja ganhando popularidade entre os
Cristãos. Ao se levantarem contra a névoa que obscurece o gênero e a
sexualidade, característica do nosso mundo hoje, cristãos podem
inconscientemente requerer de nossos jovens que provem eles mesmos se são
homens ou mulheres. Eu tenho medo que a comunidade conservadora cristã não
tenha mais espaço para jovens que são diferentes, para o garoto poeta e a garota
atleta. Isso seria uma grande perda.
Lewis, com certeza, se tornou um dos
mais influentes teólogos da era moderna. Em junho de 2013, até mesmo o The New York Times, reconheceu isso com
uma coluna intitulada “C.S. Lewis, Evangelical Rock Star” (C.S. Lewis, uma
estrela evangélica do rock), uma manchete que certamente teria chocado os
colegas de infância do Lewis. De um imaginativo e artístico garoto, Lewis
cresceu para realizar grandes coisas no Reino de Deus. E existem hoje em nossas
igrejas garotos e garotas com potencial semelhante. A normal e difundida
aceitação da homossexualidade complica ainda mais a nossa posição. A comunidade
cristã tem que se posicionar contra o pecado da homossexualidade (e dezenas de
outros pecados) com um grau de foco e energia nunca antes preciso para tratar
desse assunto. Contra a mudança do pano de fundo das normas culturais, cristãos
conservadores tem que defender alguns padrões definitivos. A situação requer
isso.
Mas essa necessidade de definições dá
margem ao surgimento de uma série de problemas próprios. Em 2005, Anthony
Esolen explanou a dificuldade dos jovens, em particular, rapazes:
“A proeminência da homossexualidade
muda a linguagem para os garotos adolescentes. É absurdo e cruel dizer que os
garotos podem ignorar isso. Mesmo que eles pudessem, os seus colegas de classe
não os deixariam. Todos os garotos precisam provar que eles não são
fracassados. Eles precisam provar que estão no caminho de se tornarem homens.”
Esolen argumenta que a cultura da
homossexualidade força os jovens a se definirem aos seus colegas de uma forma
notável; o que era desnecessário nas gerações anteriores.
Isso foi em 2005. Agora, em 2013, a
situação mudou ainda mais. Em um mundo pós-DOMA onde um transexual do primeiro
ano usa o banheiro das garotas, a cultura não está mais de forma óbvia forçando
as pessoas a serem uma coisa ou outra. Gênero e sexualidade são conceitos
fluídos no mundo de hoje. Eles estão em uma jornada pessoal de escolhas e
preferências, sujeitas a mudanças a qualquer momento. De acordo com esse padrão
do mundo, nossos jovens já não tem mais que definirem a si mesmos como alguma
coisa.
Mas na comunidade cristã
conservadora, nós ainda estamos nos posicionando firmemente. Nós estamos nos
levantando contra a névoa ao proclamarmos o padrão da criação, a beleza e o
complementarismo das diferenças de gênero e a necessidade dos jovens de
abraçarem suas responsabilidades de gênero.
Tal ênfase incorre em erros para a
Igreja como aqueles que Esolen previamente atribuiu à sociedade como um todo.
Ao se posicionar contra a ambiguidade sexual e de gênero, nós corremos o risco
de fazermos definições em excesso e assim forçar nossos jovens a provar aquilo
que não precisa ser provado.
Nada a provar
Então novamente eu volto ao meu filho
sensível, com sua preferência por brincadeiras imaginativas a brincadeiras
competitivas. Eu reflito se ele em breve ele não mais se encaixará na
comunidade cristã, pressionado a provar a si mesmo – não pelo seus colegas de
vizinhança, que não vão ligar para o que ele é – mas por outros cristãos, que
querem que ele se posicione por um certo tipo de masculinidade em extinção.
Em
2005, Esolen sugeriu que os jovens veem na fornicação heterossexual uma opção
fácil para provar a sua identidade sexual. Nós ainda enfrentamos esse perigo.
Atos sexuais, pensamentos e desejos são corretamente cultivados apenas no
casamento (entre um homem e uma mulher). Eu não espero ver cristãos aceitando
fornicação. Mas eu posso imaginar uma quase justificativa a expressões infantis
ou adolescentes de atração pelo sexo oposto. Bom, pensaremos, pelo menos
eles não são tentados à homossexualidade.
Os
jovens também precisam aprender as habilidades necessárias para cumprir as suas
responsabilidades de adulto. Garotos são aos poucos, treinados para serem
cabeças do lar assim como Cristo é o cabeça da Igreja (Efésios 5.23). Garotas
estão trabalhando para desenvolverem um caráter que eventualmente tome a
responsabilidade de “trabalhar em casa... submissa aos seus próprios maridos”
(Tito 2.5). Muita dessa atual ênfase nesse ensino contra cultural é valioso.
Mas essas habilidades, assim como
qualquer outro santo dever, são mais duros para alguns indivíduos aprenderem do
que para outros. É uma falta de amor e um ato anti-bíblico assumir que todo
garoto cristão naturalmente irá tomar o seu papel de liderança ou que qualquer
garota cristã irá imediatamente se satisfazer com os deveres domésticos. Assim
como cada um de nós luta para cumprir alguns dos mandamentos do Senhor (digo,
paciência e contentamento), a personalidade de alguns jovens fará com que
administrar as suas responsabilidades de gênero seja uma tarefa difícil. Nós
não deveríamos fazer da facilidade em assumir essas tarefas um teste da
verdadeira piedade.
Finalmente, a comunidade crista
deveria intencionalmente celebrar o maravilhoso espectro de personalidades e
talentos que Deus criou. Nós temos sim que nos posicionarmos contra o pecado
sexual. Mas que não declaremos um certo tipo de garota ou um certo tipo de
garoto como mais piedoso do que outro.
Jovens cristãos – pensadores e
sentimentais, músicos e montanhistas, lutadores e poetas – não tenham nada a
provar.
Megan Hill vive em Mississipi. Ela
é membro da St. Paul Presbyterian Church (PCA) e escreve sobre vida ministerial
no Sunday Women.
Publicado em: http://thegospelcoalition.org/blogs/tgc/2013/09/04/prove-your-gender/
Edição e Tradução: Igor Sabino
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