“Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem
ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente
nos dá todas as coisas para delas gozarmos;”
1 Timóteo 6:17
O
mundo de hoje é dinâmico e acaba por solicitar de nós que o acompanhemos em
cada uma das suas transformações ano a ano, de tempos em tempos. Nesse sentido
e sem querer tudo demonizar e colocar a culpa no capiroto - como a
religiosidade sugere, estas mudanças podem fatidicamente nos afastar de Deus.
Assim, entende-se claramente que o alerta de Paulo em Efésios 5:16 “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios,
mas como sábios, remindo o tempo; porquanto os dias são maus”. Em
1978, John Stott falando sobre o sermão do monte, afirma no prefácio de seu
livro Contracultura Cristã, que se
De fato, se a Igreja tivesse
aceitado realisticamente os
seus padrões e valores, como
aqui demonstrados, e
tivesse vivido segundo eles,
ela teria sido
a sociedade alternativa
que sempre tencionou
ser, e poderia
oferecer ao mundo uma autêntica contracultura cristã.¹
Anos
depois deste importante escrito de Stott, uma pergunta parece pertinente: Os
cristãos têm conseguido oferecer uma contracultura a dinâmica consumista na
qual estão inseridos?
Para começarmos
essa breve reflexão, primeiramente lembremos que a nossa sociedade advém do
resultado de uma das mudanças mais drásticas vividas pelo homem chamada industrialização Os processos de produção de bens de consumo, até o início do século XVIII, eram
meramente artesanais (manufatura), mas em
meados do mesmo século, a Revolução Industrial inaugurava um processo produtivo
que passou a ter uma produção desenfreada de forma que o estimulo quanto ao
consumo foi gerados nas pessoas e finalmente com tudo isto, passamos a ser conhecidos
pelo adjetivo “consumidor”. A carapuça serviu tão
fortemente que o comprar passou a ser motivado pelo querer, em detrimento do
que realmente é necessidade. “Esta é a sociedade que na qual o Senhor nosso
Deus nos chamou para servi-lo. [...] Ser discípulo de Cristo numa sociedade de
consumo é nosso desafio”, aponta Portela e Campos Jr. (2012, et al) ².
A
questão do consumismo então, passou a ser uma característica outorgada a
qualquer segmento social e, a religião, que outrora era a cultura vigente que
prometia a satisfação na vida do ‘porvir’, foi colocada de lado como mais uma
cultura e consequentemente fora substituída pela possibilidade de uma
felicidade no ‘agora’. Disto herdamos dois adágios, o primeiro mais ligado ao
consumismo como meio de felicidade, que pode ser resumido como “Dinheiro traz
felicidade” e o outro implícito a isto, talvez uma marca capitalista intitulado
“você vale o quanto tem”. De longe essas máximas consumistas são incompatíveis
com o cristianismo, mas temos sido pouco a pouco envolvidos por elas.
No
texto de 1ª Timóteo 6:17 “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos,
ponham a esperança na incerteza das riquezas”, Paulo
exorta para que nosso olhar sobre tais coisa deve ser bastante diferenciado dos
padrões da sociedade vigente, ele queria mostrar aos crentes ricos que o
que eles possuem não os faz melhores ou mais importantes do que os demais, ou
seja, nitidamente para Deus o valor do homem não se encontra naquilo que ele
possui. Também não há segurança naquilo que a traça e a ferrugem destroem. Outra lição imediata está na continuação do versículo “... mas
em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos”, onde Paulo parametriza, nas dádivas divinas a nossa
felicidade, que nos leva a entender que inexiste a possibilidade de satisfação
fora da presença de Deus. Assim o consumismo claramente não é a resposta para a
felicidade do homem por ser efêmero e, portanto não proporciona qualquer
satisfação duradoura. O interessante é que mesmo sabendo destas verdades como
cristãos que somos, “parecemos
freqüentemente tão envolvidos e imersos na promessa de felicidade proposta pelo
consumismo quanto qualquer outra pessoa.” ³ (Benton,
2002). Isso nos mostra que grande parte
dos cristãos de nossa época, além de não refutarem biblicamente a falsa ideia
das promessas de felicidade terrena atreladas ao consumismo, tem pelo contrário
aderido cegamente a tal estratégia, que sem sombra de dúvidas, é obra satânica
com a finalidade única nos distanciar do Senhor.
Este deslize
traz consigo algumas claras consequências. Por exemplo, primeiramente o
consumismo tem se caracterizado como um deus, configurando de vez a ideia que
em nada somos diferentes do mundo que se entrega dia-a-dia à felicidade contida
na fugacidade do “aqui”. Imediatamente, atrelada a esta idolatria, outra
consequência que se configura, é a de que a verdade que tanto afirmamos ser a
única, tem sido desacreditada ainda mais. O consumismo é um claro sinal de que
não temos crido na promessa da felicidade eterna da salvação e se nem nós temos
acreditado, que dirá o mundo, inundado pelo traiçoeiro contentamento
imediatista. Estes cristãos
consumistas não tem uma mensagem salvadora para a sociedade, pois claramente
o consumismo
produziu um impacto tão grande na espiritualidade que, por meio destes, talvez
até o evangelizar e o levar das boas novas, tenha perdido a credibilidade.
O caráter do cristão
está posto à prova em mais um dos níveis da conjuntura social moderna e somos
exatamente nós, que vivemos nesse contexto, os chamados por Deus para fazermos a
diferença nessa época. Porém antes de tudo, o desafio é verdadeiramente estar
satisfeito na obra de Cristo para que por meio dEle e da sua palavra possamos ser
ouvidos em uma sociedade que dorme o sono da morte chamado consumismo. Nesse
sentido, Deus chama esta geração para ser transformada e para transformar, não com
a visão inocente de que isto mudará o mundo por completo, mas com a certeza do
cumprimento no nosso papel como verdadeiros embaixadores do evangelho.
Referências
¹ STOTT, John R. W. Contracultura
Cristã: A mensagem do Sermão do Monte. Prefácio. São Paulo-SP, Editora ABU,
1981. Versão digital: Fabricio Valadão Batistoni.
² CAMPOS JR, Heber C. de;
PORTELA, Solano et al. Nossa Fé: A opção Cristã – questões éticas atuais. Cap.
4. Ed. Cultura Cristã, 2012.
³ BENETON, John. Cristãos em
Uma Sociedade de Consumo. Editora Cultura Cristã, 2002, pag. 42.
Felipe
Medeiros
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