terça-feira, 2 de julho de 2013

E Vós, Quem Dizeis que Sou?

E ele lhes disse: Mas vós, quem dizeis que eu sou?
Marcos 8:29

Esta é uma pergunta chave para todo o Cristão, afinal até mesmo estas nomenclaturas herdaram por causa Dele. O nosso conceito de Jesus irá determinar quem somos: seguidores ou impostores; cristãos ou hereges; joio ou trigo; escravos de Cristo ou escravos do pecado. E neste sentido fujamos da reflexão óbvia, pois identificar o mundo que rejeita Cristo é bastante fácil. O mais complicado é rejeitar os que se escondem sob o mando do Cristianismo para denegrir a imagem do Logos Divino, o Deus encarnado, Jesus Cristo. Ao longo da história da igreja diversos debates foram travados para defender a concepção bíblica acerca da natureza de Jesus, e o mais destacado destes embates foram as controvérsias cristológicas da idade antiga.

O ambiente político do Século IV favoreceu a forma com que as discussões sobre a natureza de Cristo aconteceram, em virtude da possibilidade das realizações dos concílios ecumênicos, uma realidade inimaginável antes do Edito de Milão, no tempo em que o Cristianismo era marginalizado e perseguido. Aliás, a própria conjuntura política foi um grande fator externo que impulsionou o debate, pois o imperador Constantino via na religião cristã o elemento que seria o “cimento do império” e tomou providências para evitar que houvesse uma cisão dentro do movimento que era a sua esperança para agregar o Império.

No entanto, apesar da importância destes fatores externos, aquilo que impulsionou de forma mais significativa as reflexões teológicas acerca da natureza de Cristo foi à propagação das heresias, notadamente os ensinos de Ário que alcançaram em larga escala a população em geral e contaminou também algumas lideranças eclesiásticas. O pensamento deste presbítero consistia na concepção de que Jesus foi criado, não sendo pré-existente, de modo que Cristo não era eterno, mas era um ser intermediário entre Deus e a criação. Para combater esta heresia foi demandado um árduo e profícuo labor teológico, resultando no Concílio de Niceia (325) e o Concílio de Constantinopla (381) que deram origem ao Credo Niceno-Constantinopolitano.

O Concílio de Niceia condenou Ário como herege, e em sua redação oficial utilizou da expressão homoousios, afirmando assim que a posição oficial da igreja era que o Filho tinha a mesma substância que o Pai, e, portanto, tinha os mesmos atributos. Ocorre que a celeuma não foi completamente resolvida neste momento histórico, pois muitos Bispos ficaram insatisfeitos com o resultado do Concílio, pois criam que o Credo ao afirmar que Deus e Jesus tinham a mesma substância, poderiam induzir uma espécie de modalismo, heresia que afirmam a unidade absoluta de ambos, negando assim a trindade. Além disto, em momentos posteriores, o pensamento Ariano retornou com bastante força, ao ponto de um de seus mais ardorosos com batentes, Atanásio, ter sido exilado várias vezes, pois até mesmo o imperador inclinou-se aos arianos.

Depois de muitos anos de intenso debate, o Concílio de Constantinopla sedimentou a derrota do Arianismo, coroando o trabalho intenso de Atanásio e dos Pais Capadócios. O credo Niceno revisado trouxe mais claras as expressões que outrora eram ambíguas e ainda aprofundou as questões relativas à terceira pessoa da trindade: o Espírito Santo.  Foi neste contexto histórico que foram desenvolvidos os conceitos ortodoxos que fazem parte da doutrina cristã, como a concepção que há uma essência Divina, mas que se manifesta em três pessoas distintas, afastando assim as heresias unitárias e que diferenciavam a natureza do Filho e o Espírito a do Pai.

Apesar do rico legado deste período, ainda houve questão que carecem de um maior esclarecimento, como por exemplo, a forma com que a economia da trindade age na humanidade e as questões relativas à aparente subordinação entre as pessoas da trindade, um assunto que também envolve outro tema bastante complexo, a dupla natureza de Cristo. No entanto, é imprescindível perceber o quanto estas discussões agregaram um tesouro teológico inestimável para a história da igreja, pois afastaram as concepções que diminuam a pessoa de Cristo, o que afetava até mesmo a salvação das pessoas, visto que somente um Deus, verdadeiramente divino, poderia morrer por outros e salvá-los. Alcançar uma unidade, com profundidade, numa temática tão difícil é um mérito inegável dos homens do quarto século, pois solidificaram concepções bíblicas a respeito de Cristo e isto é de um valor inestimável.

Ao longo da história sempre percebemos este mesmo modus operandi herético: Cristo é sempre o alvo, ainda que mediato, das afrontas heréticas. Foi assim no período medieval onde a doutrina romana diminuía acintosamente o valor do sacrifício de Cristo ao limitar a salvação, dividindo seus méritos com os homens através das obras. Mas Deus levantou homens corajosos para bradar: Solus Christus!

Também verificamos isto em outros movimentos, como por exemplo, no liberalismo, que atacando o sobrenatural em prol de uma aceitação do Cristianismo aos ditames científicos, negou o nascimento virginal de Cristo. Isto pode parecer inofensivo, mas na prática aponta para um Jesus que nasce com a semente do pecado, sendo pecador e imperfeito, estando inabilitado para ser o sacrifício perfeito por nossos pecados. Ou seja, mais uma heresia que atinge algum atributo de Cristo e como consequência esfacela a esperança de nossa salvação.

Infelizmente, isto não está distante de nós, de modo que a pergunta feita aos discípulos continua e sempre será vital. Quem dizemos que Cristo é? Será que faremos coro com o neo-arianismo do “apóstolo” Valdomiro que afirmou que Jesus é um ser criado? Ou comungaremos com os asseclas de Kenneth Hagin que apregoam um Cristo que ao encarnar abdicou de sua divindade? O alvo dos hereges é sempre o mesmo: Cristo Jesus. O verniz muda, mas o veneno permanece, assim como os seus efeitos perniciosos.

Os ataques incessantes á Cristo revelam somente o espírito do Anticristo, e expõem o ímpeto do coração carnal que busca destronar o Filho de Deus, combater o Alfa e o Ômega, minar as bases de nossa salvação e destituir de toda a glória o Logos, o príncipe da Paz, o Deus conosco, o messias prometido, o Cristo glorioso de nossas almas.


De que lado você está nesta história? Você está no front junto com aqueles que, ainda que muitas vezes impopulares, levantam o estandarte de Cristo e combatem os ensinos heréticos? Ou você compartilha de uma visão distorcida e completamente distante da revelação bíblica acerca de Jesus? Saiba que os que se mantem silentes também estão em erro fatal, pois o mesmo Cristo que indagou os apóstolos, ainda perscruta sua igreja: E vós quem dizeis que sou? Calar não é uma opção. Proclame à Cristo e rejeite tudo que o ofende ou diminui sua divindade, humanidade, glória, poder e honra. Brade com toda a sua força: Solus Christus!

Rodrigo Ribeiro
@rodrigolgd

Este texto é uma adaptação da prova requerida no módulo HISTÓRIA DA TEOLOGIA da Especialização em Estudos Teológicos do Andrew Jumper, ministrado pelo Dr. Alderi de Sousa Matos, de modo que o material produzido por este professor para o curso supracitado foi uma referência largamente utilizada nesta reflexão.

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