E ele lhes disse: Mas vós, quem dizeis que eu
sou?
Marcos 8:29
Esta é
uma pergunta chave para todo o Cristão, afinal até mesmo estas nomenclaturas
herdaram por causa Dele. O nosso conceito de Jesus irá determinar quem somos:
seguidores ou impostores; cristãos ou hereges; joio ou trigo; escravos de
Cristo ou escravos do pecado. E neste sentido fujamos da reflexão óbvia, pois
identificar o mundo que rejeita Cristo é bastante fácil. O mais complicado é
rejeitar os que se escondem sob o mando do Cristianismo para denegrir a imagem
do Logos Divino, o Deus encarnado, Jesus Cristo. Ao longo da história da igreja
diversos debates foram travados para defender a concepção bíblica acerca da
natureza de Jesus, e o mais destacado destes embates foram as controvérsias
cristológicas da idade antiga.
O ambiente político do Século IV favoreceu a forma com que as discussões sobre a natureza de Cristo aconteceram,
em virtude da possibilidade das realizações dos concílios ecumênicos, uma
realidade inimaginável antes do Edito de Milão, no tempo em que o Cristianismo
era marginalizado e perseguido. Aliás, a própria conjuntura política foi um
grande fator externo que impulsionou o debate, pois o imperador Constantino via
na religião cristã o elemento que seria o “cimento do império” e tomou
providências para evitar que houvesse uma cisão dentro do movimento que era a sua
esperança para agregar o Império.
No entanto, apesar da importância
destes fatores externos, aquilo que impulsionou de forma mais significativa as reflexões
teológicas acerca da natureza de Cristo foi à propagação das heresias,
notadamente os ensinos de Ário que alcançaram em larga escala a população em
geral e contaminou também algumas lideranças eclesiásticas. O pensamento deste
presbítero consistia na concepção de que Jesus foi criado, não sendo
pré-existente, de modo que Cristo não era eterno, mas era um ser intermediário
entre Deus e a criação. Para combater esta heresia foi demandado um árduo e profícuo
labor teológico, resultando no Concílio de Niceia (325) e o Concílio de
Constantinopla (381) que deram origem ao Credo Niceno-Constantinopolitano.
O Concílio de Niceia condenou
Ário como herege, e em sua redação oficial utilizou da expressão homoousios, afirmando assim que a
posição oficial da igreja era que o Filho tinha a mesma substância que o Pai, e,
portanto, tinha os mesmos atributos. Ocorre que a celeuma não foi completamente
resolvida neste momento histórico, pois muitos Bispos ficaram insatisfeitos com
o resultado do Concílio, pois criam que o Credo ao afirmar que Deus e Jesus
tinham a mesma substância, poderiam induzir uma espécie de modalismo, heresia
que afirmam a unidade absoluta de ambos, negando assim a trindade. Além disto,
em momentos posteriores, o pensamento Ariano retornou com bastante força, ao
ponto de um de seus mais ardorosos com batentes, Atanásio, ter sido exilado
várias vezes, pois até mesmo o imperador inclinou-se aos arianos.
Depois de muitos anos de intenso
debate, o Concílio de Constantinopla sedimentou a derrota do Arianismo,
coroando o trabalho intenso de Atanásio e dos Pais Capadócios. O credo Niceno
revisado trouxe mais claras as expressões que outrora eram ambíguas e ainda aprofundou
as questões relativas à terceira pessoa da trindade: o Espírito Santo. Foi neste contexto histórico que foram
desenvolvidos os conceitos ortodoxos que fazem parte da doutrina cristã, como a
concepção que há uma essência Divina, mas que se manifesta em três pessoas
distintas, afastando assim as heresias unitárias e que diferenciavam a natureza
do Filho e o Espírito a do Pai.
Apesar do rico legado deste
período, ainda houve questão que carecem de um maior esclarecimento, como por
exemplo, a forma com que a economia da trindade age na humanidade e as questões relativas
à aparente subordinação entre as pessoas da trindade, um assunto que também
envolve outro tema bastante complexo, a dupla natureza de Cristo. No entanto, é
imprescindível perceber o quanto estas discussões agregaram um tesouro teológico
inestimável para a história da igreja, pois afastaram as concepções que diminuam
a pessoa de Cristo, o que afetava até mesmo a salvação das pessoas, visto que somente
um Deus, verdadeiramente divino, poderia morrer por outros e salvá-los. Alcançar
uma unidade, com profundidade, numa temática tão difícil é um mérito inegável
dos homens do quarto século, pois solidificaram concepções bíblicas a respeito
de Cristo e isto é de um valor inestimável.
Ao longo da história sempre
percebemos este mesmo modus operandi herético:
Cristo é sempre o alvo, ainda que mediato, das afrontas heréticas. Foi assim no
período medieval onde a doutrina romana diminuía acintosamente o valor do sacrifício
de Cristo ao limitar a salvação, dividindo seus méritos com os homens através
das obras. Mas Deus levantou homens corajosos para bradar: Solus Christus!
Também verificamos isto em outros
movimentos, como por exemplo, no liberalismo, que atacando o sobrenatural em
prol de uma aceitação do Cristianismo aos ditames científicos, negou o
nascimento virginal de Cristo. Isto pode parecer inofensivo, mas na prática
aponta para um Jesus que nasce com a semente do pecado, sendo pecador e
imperfeito, estando inabilitado para ser o sacrifício perfeito por nossos
pecados. Ou seja, mais uma heresia que atinge algum atributo de Cristo e como
consequência esfacela a esperança de nossa salvação.
Infelizmente, isto não está distante
de nós, de modo que a pergunta feita aos discípulos continua e sempre será
vital. Quem dizemos que Cristo é? Será que faremos coro com o neo-arianismo do “apóstolo”
Valdomiro que afirmou que Jesus é um ser criado? Ou comungaremos com os
asseclas de Kenneth Hagin que apregoam um Cristo que ao encarnar abdicou de sua
divindade? O alvo dos hereges é sempre o mesmo: Cristo Jesus. O verniz muda,
mas o veneno permanece, assim como os seus efeitos perniciosos.
Os ataques incessantes á Cristo revelam somente o espírito do Anticristo, e expõem o ímpeto do coração carnal que busca
destronar o Filho de Deus, combater o Alfa e o Ômega, minar as bases de nossa
salvação e destituir de toda a glória o Logos, o príncipe da Paz, o Deus
conosco, o messias prometido, o Cristo glorioso de nossas almas.
De que lado você está nesta
história? Você está no front junto com aqueles que, ainda que muitas vezes impopulares,
levantam o estandarte de Cristo e combatem os ensinos heréticos? Ou você compartilha
de uma visão distorcida e completamente distante da revelação bíblica acerca de
Jesus? Saiba que os que se mantem silentes também estão em erro fatal, pois o
mesmo Cristo que indagou os apóstolos, ainda perscruta sua igreja: E vós quem
dizeis que sou? Calar não é uma opção. Proclame à Cristo e rejeite tudo que o
ofende ou diminui sua divindade, humanidade, glória, poder e honra. Brade com
toda a sua força: Solus Christus!
Rodrigo Ribeiro
@rodrigolgd
Este texto é uma adaptação da prova requerida no módulo HISTÓRIA DA TEOLOGIA da Especialização em Estudos Teológicos do Andrew Jumper, ministrado pelo Dr. Alderi de Sousa Matos, de modo que o material produzido por este professor para o curso supracitado foi uma referência largamente utilizada nesta reflexão.
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