Dar pão e circo para as pessoas se contentarem com a condição em que
se encontram foi uma tática inventada
pelo antigo Império Romano.
Depois de uma grande expansão urbana e a tomada de vários territórios, o
povo de parte desse império começou a ter
dificuldades em seus vilarejos e passou a migrar para as cidades,
principalmente para Roma, a capital imperial. O imperador, com medo de
acontecer uma revolta dos desempregados, começou a
distribuir alimento e proporcionar diversão ao povo. Assim o povo esquecia-se das dificuldades, bem como de
arquitetar rebeliões e se contentava com sua condição de vida.
Pois bem, vemos dias semelhantes. Há três
princípios malignos, que são características
da nossa sociedade, que por fim, influenciam nossas igrejas, ainda que não
tão perceptivelmente. São eles: 1º Entretenimento. 2º Superficialidade. 3º Bem-estar. Esses três
princípios de vida regem a nossa hermenêutica de vida; ou seja, passamos a interpretar tudo
a partir desses princípios.
Entretenimento: para a nossa tristeza, igrejas inteiras
estão assumindo a agenda pós-moderna
e profundamente envolvidas com o espírito do
modismo. Aferir a
realidade, juntamente com o bom senso (bom senso é a
capacidade espiritual para aplicar o ensino das Escrituras ao nosso contexto),
está cada vez mais
raro em nosso meio. A realidade tem sido medida pelo que entretêm, diverte, distrai. Verdadeiramente, o
entretenimento tem tomado conta das igrejas.
Como funciona esse entretenimento? Não
são poucas as igrejas que têm verdadeiros shows de preleção de auto-ajuda, dança,
teatro e música dentro
do momento que eles chamam de culto. São cultos “regados” a gelo seco, luzes de
efeito, piadas,
efeitos visuais e rompantes de espiritualidade teatral. Cheios de emocionalismo
(pessoas chorando sem parar), movimentos repetitivos com o corpo e repetições
místico-frenéticas da
letra ou refrão da música. Criando um
legitimo culto hinduista (religião mística
dos indianos), eivado por mantras (é
uma constante repetição de sílabas e
palavras a fim receber energia ou poder “divino”). Produzindo
sensações psicológicas que são chamadas de unção do Espírito Santo.
Há também os
casos em que pessoas
procuram ou estão na
igreja por causa das festas, da diversão, das viagens, dos passeios, das confraternizações, dos acampamentos, do convívio
social com pessoas de nível social
elevado e etc. Tornando-se, assim, num clube, num SPA, num shopping,
num hotel, num resort ou numa loja ou num pouco de tudo isso. Nesses lugares o
cliente tem sempre a razão, como se diz, e deve ser impressionado.
Essa
mente entretida
produzida pelas novelas, filmes, shows, internet e adulada em muitas igrejas é
fruto da vontade de querer sempre o prazer a todo custo. As igrejas locais
aprenderam erroneamente que esse é o caminho do crescimento.
Superficialidade: quem gosta do
entretenimento, com certeza gosta de uma igreja superficial, onde os pecados não
são tratados, onde pessoas que não querem ter compromisso com o Reino de Deus podem
ficar a vontade dentro dela e não serão
incomodadas, onde a pregação não
é bíblico-doutrinaria e não pode ser longa, pelo contrário,
deve ser bem curta e não pode
ser contrária ao que sempre se entendeu como certo. Em hipótese
alguma as pessoas podem sair dos cultos convictas dos seus pecados! Deve ser um
momento agradável, onde o compromisso com a verdade seja bem
superficial.
A superficialidade é gerada
normalmente pela antropocentricidade, isto é, pelo
desejo de fazer da igreja uma expressão da humanidade, do conhecimento humano, da vontade humana, da busca
humana, das impressões do
homem e da forma como estes querem servir a Deus – ou seja,
o homem, o ser humano é o centro da
igreja. E da mesma forma que a antropocentricidade na igreja é
gerada pela superficialidade, a superficialidade é
alimentada pela antropocentricidade, que acaba se constituindo num circulo
vicioso e retroalimentado.
Esse
traço ensimesmado gera nos corações, a despeito da superficialidade e da
ignorância, uma falsa impressão de conhecimento, de vanguarda, de inovação, de diferencial, de superioridade e
etc. Mas a superficialidade e a ignorância
causam isso mesmo, pessoas com estes traços
são assim e não notam por uma questão de conseqüência do que são – superficiais
e ignorantes. Um cego pode ver? O asno se vê asno? Da mesmíssima
forma são os
superficiais e ignorantes, não se veem assim!
É importante
explicar que a superficialidade está relacionada
com o conhecimento bíblico-doutrinário. A Bíblia claramente nos diz: “O meu povo está
sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu,
sacerdote, rejeitaste o conhecimento também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu
Deus, também eu me
esquecerei te teus filhos.” (Os 4: 6). Pessoas que estão freqüentando igrejas, inclusive pessoas que são oficiais da igreja, podem estranhamente ser profundamente superficiais,
reluzentemente ignorantes ou acentuadamente impermeáveis ao saber bíblico. Em outras palavras,
preferem a inerte e a infrutífera superficialidade.
Bem-estar:
ora, se o entretenimento e a superficialidade estão arraigados numa igreja, é
porque o bem-estar está em primeiro
lugar. O entretenimento faz com que as pessoas fiquem satisfeitas, não incomodadas, distraídas e
sem o real senso de existência e de missão.
Atrelado a isso, a superficialidade serve como um tapete que nunca se acaba,
que sempre proporciona um “bom”, “limpo” e “honrado” lugar
para pisar e assim continuar a caminhar nas veredas do entretenimento. Ninguém é incomodado
e ninguém
incomoda ninguém, mesmo porque se sentir mal é
“pecado”. É isso mesmo, o bem-estar é
a motivação de
tudo isso (os fins justificando os meios). O maior mandamento da igreja
dos últimos 200 anos é o
bem-estar – “qualidade de vida”.
A Igreja esqueceu que ela é coluna e
baluarte da verdade: “para que, se eu
tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é
a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade.”
(1Tm 3:15). A
responsabilidade da Igreja é apoiar, reforçar e
assim salvaguardar o verdadeiro ensino. Ela esqueceu ainda que foi chamada para
proclamar as virtudes de Cristo e o vício dos homens — o
pecado! Por isso, a igreja também foi chamada para sofrer, porque é piedosa e diferente do mundo. A Igreja deve viver para a verdade, pela verdade e
com a finalidade última de
glorificar a Deus por meio da verdade. Deus não
é glorificado com a mentira do entretenimento, da
superficialidade e do bem-estar – isso é
pão e circo.
Rev.
Renan de Oliveira
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