sábado, 5 de abril de 2014

Pão e Circo

Dar pão e circo para as pessoas se contentarem com a condição em que se encontram foi uma tática inventada pelo antigo Império Romano. Depois de uma grande expansão urbana e a tomada de vários territórios, o povo de parte desse império começou a ter dificuldades em seus vilarejos e passou a migrar para as cidades, principalmente para Roma, a capital imperial. O imperador, com medo de acontecer uma revolta dos desempregados, começou a distribuir alimento e proporcionar diversão ao povo. Assim o povo esquecia-se das dificuldades, bem como de arquitetar rebeliões e se contentava com sua condição de vida.

Pois bem, vemos dias semelhantes. Há três princípios malignos, que são características da nossa sociedade, que por fim, influenciam nossas igrejas, ainda que não tão perceptivelmente. São eles: 1º Entretenimento. 2º Superficialidade. 3º Bem-estar. Esses três princípios de vida regem a nossa hermenêutica de vida; ou seja, passamos a interpretar tudo a partir desses princípios.

Entretenimento: para a nossa tristeza, igrejas inteiras estão assumindo a agenda pós-moderna e profundamente envolvidas com o espírito do modismo. Aferir a realidade, juntamente com o bom senso (bom senso é a capacidade espiritual para aplicar o ensino das Escrituras ao nosso contexto), está cada vez mais raro em nosso meio. A realidade tem sido medida pelo que entretêm, diverte, distrai. Verdadeiramente, o entretenimento tem tomado conta das igrejas.  

Como funciona esse entretenimento? Não são poucas as igrejas que têm verdadeiros shows de preleção de auto-ajuda, dança, teatro e música dentro do momento que eles chamam de culto. São cultos regadosa gelo seco, luzes de efeito, piadas, efeitos visuais e rompantes de espiritualidade teatral. Cheios de emocionalismo (pessoas chorando sem parar), movimentos repetitivos com o corpo e repetições místico-frenéticas da letra ou refrão da música. Criando um legitimo culto hinduista (religião mística dos indianos), eivado por mantras (é uma constante repetição de sílabas e palavras a fim receber energia ou poder divino). Produzindo sensações psicológicas que são chamadas de unção do Espírito Santo.  

Há também os casos em que pessoas procuram ou estão na igreja por causa das festas, da diversão, das viagens, dos passeios, das confraternizações, dos acampamentos, do convívio social com pessoas de nível social elevado e etc. Tornando-se, assim, num clube, num SPA, num shopping, num hotel, num resort ou numa loja ou num pouco de tudo isso. Nesses lugares o cliente tem sempre a razão, como se diz, e deve ser impressionado.

Essa mente entretida produzida pelas novelas, filmes, shows, internet e adulada em muitas igrejas é fruto da vontade de querer sempre o prazer a todo custo. As igrejas locais aprenderam erroneamente que esse é o caminho do crescimento.  

Superficialidade: quem gosta do entretenimento, com certeza gosta de uma igreja superficial, onde os pecados não são tratados, onde pessoas que não querem ter compromisso com o Reino de Deus podem ficar a vontade dentro dela e não serão incomodadas, onde a pregação não é bíblico-doutrinaria e não pode ser longa, pelo contrário, deve ser bem curta e não pode ser contrária ao que sempre se entendeu como certo. Em hipótese alguma as pessoas podem sair dos cultos convictas dos seus pecados! Deve ser um momento agradável, onde o compromisso com a verdade seja bem superficial.

A superficialidade é gerada normalmente pela antropocentricidade, isto é, pelo desejo de fazer da igreja uma expressão da humanidade, do conhecimento humano, da vontade humana, da busca humana, das impressões do homem e da forma como estes querem servir a Deus ou seja, o homem, o ser humano é o centro da igreja. E da mesma forma que a antropocentricidade na igreja é gerada pela superficialidade, a superficialidade é alimentada pela antropocentricidade, que acaba se constituindo num circulo vicioso e retroalimentado.

Esse traço ensimesmado gera nos corações, a despeito da superficialidade e da ignorância, uma falsa impressão de conhecimento, de vanguarda, de inovação, de diferencial, de superioridade e etc. Mas a superficialidade e a ignorância causam isso mesmo, pessoas com estes traços são assim e não notam por uma questão de conseqüência do que são superficiais e ignorantes. Um cego pode ver? O asno se vê asno? Da mesmíssima forma são os superficiais e ignorantes, não se veem assim! 

É importante explicar que a superficialidade está relacionada com o conhecimento bíblico-doutrinário. A Bíblia claramente nos diz: O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei te teus filhos.(Os 4: 6). Pessoas que estão freqüentando igrejas, inclusive pessoas que são oficiais da igreja, podem estranhamente ser profundamente superficiais, reluzentemente ignorantes ou acentuadamente impermeáveis ao saber bíblico. Em outras palavras, preferem a inerte e a infrutífera superficialidade.

Bem-estar: ora, se o entretenimento e a superficialidade estão arraigados numa igreja, é porque o bem-estar está em primeiro lugar. O entretenimento faz com que as pessoas fiquem satisfeitas, não incomodadas, distraídas e sem o real senso de existência e de missão. Atrelado a isso, a superficialidade serve como um tapete que nunca se acaba, que sempre proporciona um bom, limpoe honradolugar para pisar e assim continuar a caminhar nas veredas do entretenimento. Ninguém é incomodado e ninguém incomoda ninguém, mesmo porque se sentir mal é “pecado. É isso mesmo, o bem-estar é a motivação de tudo isso (os fins justificando os meios). O maior mandamento da igreja dos últimos 200 anos é o bem-estar – “qualidade de vida.

A Igreja esqueceu que ela é coluna e baluarte da verdade: para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade.(1Tm 3:15). A responsabilidade da Igreja é apoiar, reforçar e assim salvaguardar o verdadeiro ensino. Ela esqueceu ainda que foi chamada para proclamar as virtudes de Cristo e o vício dos homens o pecado! Por isso, a igreja também foi chamada para sofrer, porque é piedosa e diferente do mundo. A Igreja deve viver para a verdade, pela verdade e com a finalidade última de glorificar a Deus por meio da verdade. Deus não é glorificado com a mentira do entretenimento, da superficialidade e do bem-estarisso é pão e circo.


Rev. Renan de Oliveira

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