A história da humanidade tem sido marcada por
acontecimentos que modificaram, drasticamente, os comportamentos dos seres
humanos, afetando diretamente as dimensões políticas, econômicas, éticas e
sociais. Geralmente, estas mudanças ocorreram após grandes tragédias, a exemplo
do atentado terrorista ocorrido em 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos.
Após superar o
impacto dos primeiros momentos de uma tragédia que assumiu grandes proporções procuram-se,
imediatamente, explicações para as causas dos incidentes. Em seguida, a
tragédia provoca mudanças de rumo que afetam a sobrevivência dos homens no
planeta, verificou-se tal fenômeno após as I e II guerras mundiais. Em muitos
momentos dramáticos da história da humanidade foi necessário estabelecer uma
NOVA ORDEM MUNDIAL, como necessidade de adaptar-se a uma nova realidade.
Esta reflexão
nos conduz aos primórdios da vida humana, expresso na literatura bíblica:
“E conheceu
Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Alcancei do
SENHOR um homem. E deu à luz mais a seu irmão Abel; e Abel foi pastor de
ovelhas, e Caim foi lavrador da terra. E aconteceu ao cabo de dias que Caim
trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. E Abel também trouxe dos
primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e
para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o
semblante. E o SENHOR disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu
semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem,
o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”
(GÊNESIS 4.1-7).
Este livro
relata o início da criação e a parte mencionada descreve o momento posterior à
queda do homem. A criação depara-se com uma situação caótica, a queda do homem
do seu estado original alterou, terrivelmente, as condições de sobrevivência na
Terra, estabelecendo uma NOVA ORDEM MUNDIAL. O capítulo acima apresenta um
resumo sobre os principais aspectos desta tragédia que afetaram diretamente a
vida do homem e de todo o planeta.
E A VIDA CONTINUA...
Os
quatro primeiros versículos do texto narram à vida cotidiana no contexto
familiar, no ambiente de trabalho e no culto religioso. Estes três aspectos da
vida humana estão relacionados ao evento da criação, citados em Gênesis no
capítulo 1 a
partir do versículo 26 até o capítulo 2:3.
O capítulo 4 apresenta
o registro trágico do homicídio ocorrido entre irmãos, no local de trabalho como
desfecho dos efeitos do culto. Neste relato sobre o início da vida a partir da
queda do homem reafirma-se o propósito da criação relativo a família, ao
trabalho e ao culto religioso.
A família é
vista como uma instituição divina formada por pessoas criadas a imagem e
semelhança de Deus, refletindo tal imagem no relacionamento entre seus membros.
Adão e Eva, ao gerarem filhos, cumpriram um decreto divino. No relato referente
ao trabalho, Abel e Caim desempenharam atividades decretadas pelo Criador,
demonstrando capacidades peculiares aos seres racionais, criados com condições
propícias ao desenvolvimento intelectual, bem como de produzir para a
sobrevivência.
Ao concluir a criação, Deus abençoou o sétimo
dia, decretando que este seria separado para Sua adoração. Caim e Abel pretenderam
obedecê-Lo, por meio de ofertas e sacrifícios em forma de culto religioso. O culto
de Caim reprovado por Deus e, o assassinato do irmão no local de trabalho foram
evidências do início da NOVA ORDEM estabelecida para a criação. No entanto, a
queda não alterou os planos de Deus para a vida no planeta, pois a família, o trabalho
e o culto prosseguiram, mas, estas atividades foram contaminadas pela presença
do pecado no mundo.
Aplicação: Ser pais e filhos exemplares, agir com ética no lugar de
trabalho e cumprir com zelo os deveres religiosos evidenciam a imagem de Deus refletida
no homem. No entanto, o envolvimento ativo no cumprimento dos decretos de Deus
para a criação (família, trabalho e igreja) não anula a sentença divina proveniente
da desobediência.
SOB O REGIME DA LEI
O desenvolvimento do drama, exposto
anteriormente, apresenta distinções claras entre seus principais personagens.
Caim, o primeiro filho foi lavrador, oferecendo uma oferta do fruto da terra ao
Senhor, teve sua oferta rejeitada. Abel, o segundo filho foi pastor de ovelhas,
oferecendo um animal como oferta ao Senhor, teve a sua oferta aceita. A parte b
do versículo 4 apresenta o motivo da rejeição de Caim e da aceitação de Abel: “...atentou o SENHOR para Abel e para a sua
oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou.”
O texto prossegue narrando a indignação de
Caim e, o pronunciamento de Deus decretando a NOVA ORDEM sobre a vida de Caim. Os
versículos 6 e 7 destacam o pronunciamento de Deus e seus efeitos sobre a vida
deste homem. Deus revela a Caim a base do relacionamento entre eles, sendo uma ratificação
da aliança firmada entre Deus e Adão, “E
tomou o SENHOR Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o
guardar. E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim
comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não
comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás’ (GENESIS
2:15-17).
Eis um relato
estarrecedor para Caim e todos os seres humanos. Ao infringir a lei de Deus, o
homem tornou-se réu, cuja sentença divina foi à morte, atingindo toda a
humanidade. O Senhor, ao aceitar Abel e sua oferta revela uma aliança entre Ele
e o homem diferente daquela firmada no jardim do Èden.
Aplicação: O pecado instaurou uma NOVA ORDEM MUNDIAL, tornando o
homem réu dos seus próprios atos, afetando diretamente a sua relação com Deus.
O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ
Concluímos a reflexão
anterior afirmando que ao aceitar Abel e sua oferta. Deus revelou uma aliança
entre Ele e os homens, diferente daquela firmada com Adão. A oferta de Abel
está diretamente ligada à NOVA ORDEM estabelecida por meio da nova aliança. Conforme
Gênesis, Caim reconhecia a existência de Deus, prestando-lhe culto em forma de
sacrifício. Ao ofertar do fruto da terra, ele acreditava que o produto
proveniente do esforço humano poderia agradar à Deus, agindo assim desprezou as
palavras que Deus havia proferido aos seus pais sobre sua justiça contida na
aliança revelada em Gênesis 2:15-17. Ao oferecer das primícias do rebanho, e da
gordura, Abel agiu de acordo com a palavra de Deus “E fez o SENHOR Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu”
(GÊNESIS 3:21). Abel ofereceu
sacrifício de um animal ao Senhor, pois foi com a pele de um animal que Deus
cobriu a nudez de seus pais, portanto, ele atentou para a lei de Deus e para seus
efeitos sobre os seres humanos com o evento da queda. A oferta de Abel
expressava confiança na providência de Deus que segundo a sua palavra proveria
um meio para libertar o homem do estado caótico em que se encontrava, assim “...pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente
sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo” (HEBREUS 11.4).
Aplicação: Não valorizar os preceitos contidos na palavra de Deus, leva
todas as atividades realizadas pelo homem, inclusive o nosso culto, uma afronta
à santidade de Deus. O único meio eficaz para sermos aceitos por Deus é agirmos
de acordo com a sua palavra.
CONCLUSÃO
A cosmovisão cristã
reformada entende que, a família, o trabalho e a religião são frutos dos
decretos de Deus desde o início da criação, revelada no livro do Gênesis.
Entende, assim, que todas as esferas da vida encontram-se contaminadas pelo
pecado, devido a quebra da lei que Deus estabeleceu na aliança feita com o
homem. Deus proveu um meio para restaurar o homem, transferindo as exigências
previstas na lei para seu filho Jesus Cristo, revelando em seu sacrifício uma
NOVA E ETERNA ORDEM, a ser adquirida, exclusivamente, pela fé.
Presb. Amauri Ribeiro
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