Embora seja inegável que exista
muita diversidade entre os homens, certos elementos comuns estão presentes em todos,
visto que são inerentes a própria humanidade. Estas características comuns tem
origem na criação, e por isso ultrapassam as barreiras socioculturais. Um
destes traços unificadores dos seres humanos é aquilo que Calvino chamava de sensu divinitatis (senso de divindade) e
semen religionis (semente da
religião), ou seja, todo o homem é inerentemente religioso.
Este conceito reformado tem
amparado inegável nas Escrituras, pois Paulo na epístola aos Romanos (Rm
1.19-25) afirma categoricamente que Deus se revela na criação, de modo que
todos os conhecem, mas os incrédulos simplesmente o rejeitam, adorando a
criatura no lugar do criador, sendo, portanto indesculpáveis.
Deste modo podemos observar a
semente da religião em todos os seres humanos, até mesmo no mais convicto e
engajado ateu, visto que este indivíduo direciona toda a sua devoção e amor
final para a sua ideologia ateísta, para o potencial humano (humanismo) ou até
mesmo para si mesmo, sendo antes de tudo um idolatra.
É nesse sentido, tendo como pano de
fundo o carácter essencialmente religioso dos homens, que o tem sido apresentado
diversos paliativos para aplacar a inevitável necessidade de redenção que a lei
moral inculcada no coração do homem teima em vindicar a todo instante (Rm 2.15).
A prateleira de pseudos evangelhos não tem fim!
Para aqueles que localizam no cerne
do problema humano a carência, temos um evangelho terapêutico-romântico, onde a
salvação e a redenção do homem estão no amor. Qualquer canção com este conteúdo
caminha para um inevitável sucesso. Este evangelho está em alta na nossa
sociedade.
Por outro lado, alguns pensam que o
principal problema do homem é a desigualdade social ou outras questões de
carácter econômico e por isso direcionam a sua religiosidade para as ideologias
políticas. Enquadram as categorias do reino de Deus em posições de esquerda e
direita e morrem por projetos materialistas que dispensam a verdadeira redenção
transcendental. Eis um evangelho político e ideológico.
Assim como o anterior, também temos
outros paliativos para o impulso religioso do homem, como a busca desenfreada
por prazer e a até o louco e frenético mundo dos shoppings centers, os templos
do evangelho consumista. Compre, se satisfaça e assim seja feliz. O santo
cartão de crédito irá nos redimir dos males existências, ou no mínimo nos
entorpecer, mas no final do mês a fatura nos levará a nocaute mais uma vez. O evangelho
do aqui e do agora é meramente temporário.
Diante deste cenário, em meio à
imensa variedade de falsos evangelhos, qual o único reduto da verdade? De onde
sairá à resposta uníssona e clara a respeito da salvação dos homens? Da igreja!
De nenhum lugar mais poderá ecoar a mensagem de vida eterna. É no púlpito que o
pecado deve ser apresentado como real problema do homem. As guerras, os
problemas de relacionamento, a desigualdade e todo o restante são meros
sintomas. O pecado é a doença e ele leva a morte. Ou melhor, já nos matou (Rm
6.23).
Só depois de identificar com
precisão a doença, será possível buscar o medicamento correto: o evangelho de
Jesus Cristo. Somente Nele o homem irá satisfazer seu impulso religioso de
forma plena, em harmonia com o Pai, escapando assim da ira vindoura destinada
aos idolatras, aos que se enveredam nos caminhos de morte dos falsos evangelhos
(I Co 6.9-10).
Concluo essa reflexão com a solene
lembrança das palavras do Dr. Martins Lloyd-Jones, que ao tratar deste assunto,
afirmava que uma igreja que tem focado sua pregação em entretimento, questões
de relacionamento ou análises políticas, em detrimento da pregação pura do
evangelho, é como um médico que poupa seu paciente das dores com analgésicos,
mas que não diagnostica seu paciente, que no fim das contas acaba morrendo
achando que estava curado, pois não sentia mais dores. Qual seria nossa conduta
diante de tal profissional?
A igreja não pode esquecer que ela
é baluarte da verdade (I Tm 3.15)! Se nos calarmos, e buscarmos outros
discursos que podem ser encontrados facilmente em outras instituições, negligenciaríamos
as pessoas do único lugar em que podem encontrar o verdadeiro evangelho, a
mensagem simples e louca de que o Filho de Deus, encarnou e morreu por pecados,
ressuscitando para que eles fosse salvos pela graça mediante a fé (I Pe 2.18).
Somente este Cristo é resposta para os anseios inatos do homem.
A igreja não pode se calar. Os
púlpitos não podem abandonar as velhas verdades do evangelho. Em meio ao
turbilhão de engodos, levantamos bem alto a bandeira de Jesus Cristo, o único
mediador entre Deus e os homens(I Tm 2.5). Eis o evangelho verdadeiro! E para salvar aqueles que pertencem ao Pai nem precisa pexinxar ou gritar mais alto no mercado, basta ser fiel.
Rodrigo
Ribeiro
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