sexta-feira, 28 de junho de 2013

Hoje é Sexta-Feira!

Um dia, um colega de trabalho, em tom de brincadeira, disse-me que, toda vez que escuta a vinheta do Fantástico depois do tradicional “boa-noite”, entra em depressão, uma vez que o final de semana está acabando. Para a maioria das pessoas, o trabalho é algo enfadonho e a verdadeira vida consiste na folga dos finais de semana e feriados. Mas, por que as pessoas se sentem assim? Por que o trabalho parece um fardo? Neste texto, trataremos da doutrina bíblica do trabalho e tentaremos responder a essas perguntas.

O entendimento reformado sobre o trabalho, desde o seu início, foi contrário à concepção católica sobre o tema. A percepção medieval católica sobre o trabalho, influenciado pelo pensamento grego, entendia que apenas o trabalho filosófico ou teológico e o serviço militar teriam valor para a sociedade. As outras profissões seriam ocupações de menor importância ou um mal necessário. Os reformadores, por outro lado, enfatizaram a importância do trabalho e vincularam-no à vida espiritual do cristão. Segundo o entendimento reformado, o homem foi criado para o trabalho e só pode plenamente ser feliz e realizado quando cumpre a sua vocação nesse mundo.

No entanto, o pietismo terminou influenciando negativamente o entendimento evangélico sobre o assunto. O pietismo foi um movimento oriundo do luteranismo, surgido no século XVII, que enfatizava a dimensão devocional do crente. Com sua ênfase excessiva na espiritualidade, esse movimento terminou confinando a igreja nas suas quatro paredes, ao ensinar que toda a nossa vida deve estar vinculada, de alguma maneira, às nossas atividades eclesiásticas. Dessa maneira, tudo aquilo que fosse “secular”, como o trabalho, por exemplo, passou a ser sem importância, ou, apenas, um meio para alcançar outras pessoas para o Evangelho.

Não obstante, a Bíblia ensina que o trabalho foi estabelecido por Deus na criação e não é consequência da queda. Em Gn 1.26-28, vemos que Deus criou o homem a Sua imagem e semelhança e ordenou que o ser humano tivesse domínio sobre toda a criação e a sujeitasse. A ordem dada por Deus é denominada pelos teólogos de “mandato cultural”, segundo o qual o homem deveria governar todo o mundo e preservá-lo, o que abrange o envolvimento com todas as áreas do conhecimento. Essa tarefa, por óbvio, implica esforço, dedicação, aplicação de tempo, ou seja, trabalho. É importante frisar que o mandato cultural foi dado antes da queda, de maneira que não se pode afirmar que o trabalho é um juízo de Deus sobre o ser humano.

Apesar da queda, como cremos na restauração de todas as coisas, devemos viver nesse mundo de maneira coerente com a nossa esperança. Como cristãos, cremos, de acordo com Rm 8.22-25, que, um dia, toda a criação será restaurada. Assim, devemos cumprir o nosso “mandato cultural”, conforme estabelecido por Deus na criação. Portanto, o trabalho não deve ser encarado como uma atividade enfadonha e cansativa. Também não deve ser compreendido, apenas, como uma maneira de ganhar dinheiro e ser bem sucedido. O nosso trabalho deve ser visto como uma forma de glorificar a Deus.

O trabalho traz significado e propósito para a vida. O entendimento adequado da doutrina bíblica do trabalho confere significado e propósito ao ser humano quando vincula as atividades do nosso dia a dia a um projeto maior, eterno, transcendente. Além disso, toda profissão passa ter importância. O médico e o gari, o advogado e o sapateiro, o engenheiro e o agricultor, todos, sem exceção, estão envolvidos em um projeto grandioso e eterno: promover a glória de Deus.

A promoção da glória de Deus não está vinculada, necessariamente, a uma “atividade espiritual”. Com isso, devemos entender que glorificamos a Deus pelo simples fato de executamos nosso trabalho com dedicação e excelência. Glorificar a Deus no trabalho não significa ler a Bíblia, orar ou realizar cultos no horário de trabalho. Na realidade, quando agimos dessa maneira, estamos descumprindo o “mandato cultural”, pois o tempo que deveria ser dedicado ao trabalho está sendo dividido com as nossas “atividades espirituais”. Quando somos excelentes profissionais, o nosso bom testemunho nos dá credibilidade para compartilhar a nossa fé com os nossos colegas, em um intervalo, ou fora do ambiente de trabalho.

Um dia, perguntaram a Lutero o que ele faria se soubesse que Jesus voltaria amanhã, ao que ele respondeu: Eu plantaria uma árvore. Com isso o grande reformador quis dizer que Deus se agrada de nossa atividade comum e fiel nesse mundo. A compreensão adequada da doutrina do trabalho deve mudar a nossa relação com o trabalho. Pensar dessa maneira nos dá motivos para nos alegrar com o nosso trabalho, a executá-los com excelência e dedicação. Que Deus nos dê a bênção de ver o trabalho de uma maneira diferente e conectá-lo com a promoção da Sua glória e do Seu louvor. 

Soli Deo Gloria


Presbítero Davy Jones

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