O
grito de Sola Scriptura custou muito caros aos reformadores, e alguns homens considerados
pré-reformadores como John Huss, que foi morto em razão de não arredar os pés
das preciosas verdades bíblicas. Este lema, um dos cinco solas, é basilar no
protestantismo, pois trata sobre a autoridade final em todas as questões, sobre
o instrumento que valida as práticas e experiências, nos diz respeito sobre
quem somos, quem cremos e o que devemos ou não fazer. Tudo isto está na
escritura, a norma maior que nos guia (Gl 6.16), a verdade que nos habilita
para toda boa obra (2 Tm 3.16-17).
No
entanto a religião majoritária da Europa do Século 16, o catolicismo romano, não
creditava um valor tão elevado as Sagradas Escrituras, e a colocava em um
verdadeiro cativeiro, pois a afastava do povo, deixando distante dos leigos, trancafiadas
nas mãos do clero. Para as pessoas comuns, que não tinha acesso à Bíblia, tão
pouco sabiam ler em latim, o pensamento católico medieval reservava um pequeno
paliativo: a arte sacra compreendia como a Bíblia dos ignorantes. [1] É neste
sentido que podemos vislumbrar a efusiva produção artística e sacra do período,
pois as esculturas, imagens e demais manifestações gráficas serviam como alento
para os iletrados.
Tal
postura foi rejeitada pelo protestantismo, que ainda entendo o valor das artes,
não aceitava a existência de “Bíblias para os ignorantes” e sempre se propôs a
investir de maneira árdua na tradução das Escrituras para a língua original de
cada povo, e também atuou de forma diligente na educação das pessoas, a fim de
que se tornassem capazes de por si próprios, com o auxílio do espírito, recorrer
à revelação divina para se alimentarem e encontrarem a correta orientação a
respeito do modo que deveriam viver.
Observando
o rico legado protestante, é inevitável a perplexidade diante dos rumos que o
evangelicalismo contemporâneo tem tomado, assumindo posturas que são evidentes
regressos à teologia e prática romana medieval. Os cristãos têm se mantidos
distantes das Escrituras, seja por compreensões equivocadas ou por mera preguiça
espiritual, e tem sido sutilmente doutrinados por melodias belas, mas de
conteúdo sofrível e que ferem a sã doutrina. É bastante verdadeiro o comentário
do Pr. Paul Washer a esse respeito, quando diz que a maior parte do nosso
cristianismo vem de músicos e não da bíblia. Com isso não estou criticando a
arte sacra, tão pouco a arte como um tudo. Mas sim o uso indevido desta. A sua supervalorização
em detrimento da fonte segura e imutável de fé e prática: as Escrituras
Sagradas. Temos resgatado o conceito de “Bíblia dos ignorantes”, nos
alimentando de remendos, desprezando a comida que nos alimenta (Jó 23:12).
É
por falta de uma base solida calcada na palavra que muitos formam suas
teologias em canções, que são muitas vezes compostas por hereges, ou no mínimo,
por homens de pouco conhecimento bíblico e até mesmo neófitos. Precisamos lembrar-nos
sempre que, ainda que existam excelentes canções, complemente afinadas com os ensinamentos
bíblicos, também existe muita heresia envolvida numa melodia bonita e agradável
sendo vendida por ai, tal qual nos dias de Ário [2]. É arriscado demais
entregar-se cegamente às partituras, sem o prévio confronto com as verdades
bíblicas. Podemos acabar trocando o Deus da bíblia por um outro que vive a levar portas na cara, enquanto tem "flash backs" alucinógenos e lamenta pelas promessas arquivadas. [3]
E
a principal questão é que não precisamos de “Bíblias para ignorantes”! Todo
cristão, por mais humilde que seja, tem acesso à Deus, por intermédio do
Espírito e da mediação de Cristo, e pode encontrar as respostas e direções na
Bíblia Sagrada. Não precisamos depender do clero, e ficar contentes com as
migalhas da arte sacra. Podemos e devemos ir direto a fonte. É conhecimento que
nos falta? Que sejamos instruídos pelos mestres e pastores fiéis à palavra, mas
que acima de tudo, possamos recorrer diretamente à escritura, confiando no
poder do Espírito, o que de modo nenhum anula nosso dever de estudar com
dedicação a fim de compreender cada vez melhor a revelação de Deus para nossas
vidas.
Como
protestantes devemos zelar pela “sola scriptura”, não aceitando as muletas do
mundo gospel com sua teologia fajuta, que coloca palavras na boca de Deus as quais ele nunca disse. Que possamos investir na educação, a fim de que
libertemos a Escrituras do exílio da ignorância e da letargia espiritual.
Rodrigo Ribeiro
@rodrigolgd
Notas:
[1]
MATOS, Alderi de Souza. In: A caminhada cristã na história: A Bíblia, a igreja
e a sociedade ontem e hoje. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2005. 72p.
[2]
No inicio do Século 4, o bispo Ário, que pregava a heresia que Cristo não era
Deus e que havia sido criado por este, popularizou sua doutrina através de
pequenas canções populares, com estruturas simples e cativantes, que foram
dissiminadas por todo o império romano. (MACARTHUR JR, John. F: In: A Guerra
pela Verdade. São José dos Sampos, SP: Editora Fiel, 2007. 137p.
[3] Este texto não se propõe a explicitar os problemas da nova canção de Thalles Roberto, apesar de citá-la como exemplo, e inclusive a imagem do mesmo foi também utilizada na postagem. O faço tão somente á título de exemplo, mas existem tantas outras canções iguais e até mesmo piores teologicamente à esta do referido cantor. A crítica é feita à todo um movimento e não a ninguém pessoalmente. Só fiz referências a ele pelo fato dele estar em grande evidência e ser um legítimo representante do movimento a qual faço referência no texto. Entretanto, caso alguém deseje dissecar a badala canção deste artista gospel, indico o texto de nosso amigo-parceiro Antognoni Misael: http://www.artedechocar.com/2013/05/deus-corre-atras-oferece-promessa-arquivada-leva-porta-na-cara-e-chora-como-assim-thalles/). Não teria como fazer uma análise mais preciso do esta. A quem interessar, está ai a indicação.
E ponto final.
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