Calvinistas ouvem seus amigos arminianos fazerem essa pergunta o tempo todo. Normalmente, há a intenção de ser uma pergunta retórica. Em outras palavras, esta é, na verdade, uma afirmação: Se você crê que seu amigo incrédulo está morto em pecado até que Deus unilateralmente o regenere e que Deus incondicionalmente escolheu quem salvará, então qual o sentido?Que sera, sera: O que será, será.
É claro, essa é uma objeção extraordinária ao hipercalvinismo, mas falha em atingir o alvo reformado. Nossas confissões ensinam que Deus trabalha por meios. Embora o Pai tenha escolhido incondicionalmente alguns de nossa raça condenada para a vida eterna no Filho, os eleitos não foram redimidos até que Deus enviou seu Filho “na plenitude do tempo”, e eles não são justificados até que o Espírito lhes dê fé em Cristo por meio do Evangelho. Invocando o argumento do Paulo (que vem logo após o ensino sobre eleição incondicional), “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?… De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. (Rm 10.14-15,17)
Por anos, inverto esta questão retórica, perguntando “Por que alguém oraria pela conversão de seus queridos se Deus não é soberano em dispensar sua graça?”. Arminianos não deveriam orar para Deus salvar seus amados, porque Deus poderia responder: “Olha, eu já fiz minha parte; agora é a vez de vocês”. Todavia, eu percebo que os arminianos tipicamente não são menos zelosos ao orar pela salvação dos perdidos que os calvinistas. Estamos juntos em oração.
Não tão rápido, diz Roger Olson, famoso professor batista e escritor do livro Arminian Theology [Teologia Arminiana]. Os meus leitores talvez saibam que eu e meu amigo Roger nos envolvemos em discussões sobre esses assuntos. Ele escreveu o livro Against Calvinism [Contra o Calvinismo] e eu escrevi For Calvinism [Pelo Calvinismo] e tratamos desses assuntos pessoalmente como parte de uma série do meu site, White Horse Inn. Estamos tentando entender caridosamente a visão um do outro, ainda que criticamente. Neste espírito, prosseguimos.
Em um texto recente, Roger cutucou o vespeiro ao sugerir que os “arminianos não deveriam orar para que Deus salve seus amigos e entes queridos”. Pode ser que alguém esteja usando “salve” de maneira diferente. No entanto, “uma interpretação de texto normal me parece indicar que pedir que Deus salve alguém, sem alguma qualificação, é o mesmo (não importa a intenção) de pedir que Deus faça o impossível (a partir de uma perspectiva arminiana)”.
Ele acrescenta: “Assim, se uma pessoa me pergunta sobre esse tipo de oração, eu a levaria a uma discussão com ‘O que você deseja que Deus faça?’. Se a pessoa disser ‘estou pedindo que Deus intervenha na vida deles ao forçá-los a arrepender-se e crer’, eu diria que ‘Isto não é possível’ e explicaria por quê”.
(Porém, Roger, devo divagar aqui: Quem na terra, incluindo o calvinista mais inflexível, iria dizer ‘‘estou pedindo que Deus… force-os a arrepender-se e crer”? Mais uma vez, você deve observar nossas confissões para nossas perspectivas sobre o assunto e todas elas unanimemente ensinarão que ao, nos chamar eficazmente, o Espírito não força nossa vontade, mas a liberta da escravidão do pecado e da morte. A fé é inteiramente o dom de Deus e inteiramente a resposta livre de um ser humano que foi revivido pelo Espírito por meio do Evangelho).
O argumento de Roger é que um arminiano que ora esse tipo de oração está agindo como um calvinista, porém, na verdade, pedir que Deus “force-os a arrepender-se e crer” não é uma forma calvinista de oração.
Dito isso, creio que Roger tem a consistência ao seu lado quando se trata de sua própria posição. “’Senhor, salve meu amigo’ (sem qualificação) normalmente reflete o monergismo, não o sinergismo”. (Como Paulo disse que sua“oração a Deus por Israel é para sua salvação” [Rm 10.1], me alegro em descobrir que esse é mais outro texto-prova do monergismo!)
O professor Olson não está sendo preciosista ao sair por aí falando que seus companheiros arminianos não devem orar pelas pessoas; ele só quer que sua oração seja consistente com sua teologia. Ele explica: “Se eu escutar meu pastor, meu professor da EBD ou um aluno orarem algo como ‘Deus, por favor salve fulano e sicrano’, provavelmente irei até aquela pessoa, perguntarei o que ela quis dizer e darei a sugestão de mudar as palavras no futuro para que ela alcance o sentido pretendido. Por quê? Porque orações públicas também ensinam. As pessoas que ouvem um pastor, um professor de EBD ou um estudante orando tal oração provavelmente entenderão errado (a não ser que a intenção da oração seja monergística)”.
Fico feliz porque a maioria dos arminianos não são consistentes nesse ponto. Como Deus usa meios (incluindo nossas orações) para cumprir seus propósitos, é verdadeiramente bom que cristãos de qualquer linha estejam pedindo que Deus traga seus queridos – e os nossos – à fé salvífica em Cristo, assim como Deus usou a oração de todo tipo de pessoas em nosso caso. E é bom que Deus possa de fato responder essa oração, certo?
Traduzido por Josaías Jr | iPródigo.com | Original aqui
Intercâmbio feito por Walber Arruda
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