quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Deus, o Criador da mais bela obra de arte!


Ao viajar pelo interior da Paraíba com um grupo de amigos, em determinado momento de nosso percurso, nos deparamos com uma bela paisagem, a qual palavra alguma escrita neste texto poderá trazer a real dimensão de sua beleza. Olhar até o fim do horizonte e só perceber o verde, a vegetação ainda resguardada do asfalto e do concreto, a brisa suave que sopra sem que seja atrapalhada por prédio algum e o suave calor do sol que parecia acariciar nossa pele, nos faz crer que não há como não notar o agir do Criador nesta cena tão simples, porém linda e repleta de significado.

Por mais belas e excelentes que sejam as obras de artes que os homens se proponham a fazer, jamais alcançaram o esplendor da criação de nosso Deus.  A vigorosa e inexplicável obra de Arte da criação, a natureza, está posta para todos os homens, indiscriminadamente, ensinamento explícito nas santas escrituras: “porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” [1]. Em outra passagem também, observamos Paulo afirmando ao povo de Listra que Deus: nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos; contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria [2]. Assim sendo, classificamos os elementos naturais como frutos da graça comum, já vistos em outro texto deste blog.

Tal beleza estando às vistas de todos, é certo que muitos acabam revelando aspectos desta beleza em suas obras, como músicas, artes plásticas e poemas. Destaco uma dessas produções como exemplo, o bastante notório poema Canção do Exílio de Gonçalves Dias, da qual transcreverei um trecho:

"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores. [3]

Nestes versos, o poeta exalta as qualidades naturais de sua pátria, quando estava distante, em Portugal, revelando traços marcantes da escola literária do Romantismo, como o ufanismo, a nostalgia e o valor dado à natureza. A verdade está presente nesta obra quando ela valoriza os belos atributos naturais que descreve. Deus se revela através da natureza, e essa é a revelação geral que alcança a todos e faz-se refletir nestas composições, assim como em várias outras, haja vista “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” [4]. Este é um dos motivos que tornam os homens indesculpáveis diante Dele.

Entretanto, tais visões são limitadas, ainda que belas. A graça comum que os inspira, não é suficiente para apreender todo o significado da criação, esta só é completamente entendida através da graça salvadora. Por isso, apesar de lindas, as descrições citadas não alcançam o potencial da beleza divina, pois o desconhecem. Apontam em uma direção que eles próprios não sabem onde vai dar, entretanto os eleitos de Deus o sabem, pois apontam para a glória manifesta do próprio criador do universo. Enquanto as manifestações inspiradas pela graça comum são parciais, e muitas vezes apontam até para caminhos distorcidos, como o panteísmo, muito presente no Romantismo, segundo alguns críticos literários, a graça salvadora nos remete ao significado amplo e completo da natureza. Podemos notar isto claramente no relato do salmista, que entende a quem pertence tais belezas naturais: “Porque o SENHOR é Deus grande, e Rei grande sobre todos os deuses. Nas suas mãos estão as profundezas da terra, e as alturas dos montes são suas. Seu é o mar, e ele o fez, e as suas mãos formaram a terra seca “ [5].

É nosso dever e privilégio, como filhos alcançados pela graça de nosso Pai, contemplar e valorizar a beleza de sua criação, e jamais renega-la ou tornamo-nos indiferentes a ela, como se isso não fosse importante. Abraham Kuyper, no livro Calvinismo, afirma categoricamente que a Glória de Deus não é antagônica à salvação, pois “certamente a nossa salvação é de valor substancial, mas não pode ser comparada com o valor muito maior da glória de nosso Deus, que tem revelado sua majestade em sua maravilhosa criação” [6]. Ressalta ainda que uma concepção dualista da regeneração também é um equivoco, posto que a obra redentora não se limita a salvação individual, mas abrange toda a criação, e jamais poderemos contemplar de modo exclusivo as coisas celestiais, e abandonar o mundo da criação de Deus.

Por fim, retorno a lembrança inicial do momento que tive no último fim de semana, e compartilho mais uma reflexão que fizemos naquele momento singelo, mas muito especial preparado por Deus para nós: se Deus fez tão belas as coisas que são passageiras, imagine o quanto será lindo aquilo que ele tem preparados para nós na eternidade? Louvado seja o nome deste Deus tão maravilhoso para todo o sempre!

Rodrigo Ribeiro
@rodrigolgd


Citações:
[1]MATEUS: In: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. Barueri, São Paulo, 1993. O Evangelho segundo Mateus, capítulo 5, versículo 45. 855p.

[2]PAULO: In: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. Barueri, São Paulo, 1993. Atos dos Apóstos, capítulo 4, versículos 16 e 17. 989p.

[3]DIAS, Antônio Gonçalves. Poemas de Gonçalves Dias. São Paulo: Cultrix, 1968.

[4]DAVI: In: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. Barueri, São Paulo, 1993. O Livro dos Salmos, capítulo 19, versículo 1. 518p.

[5]DAVI: In: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. Barueri, São Paulo, 1993. O Livro dos Salmos, capítulo 93, versículo 3 a 5. 561p

[6]KUYPER, Abraham; O Calvinismo - Tradução por Ricardo Gouveia e Paulo Arantes. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, 126 p.


Comentários
4 Comentários

4 comentários:

  1. Deus é perfeito em todos os aspectos do seu ser...e a graça comum é inerente ao seu ser,sendo assim me pego a pensar no grande puritano Jonathan Edwards que por muitas vezes contemplava a criação divina e sentia o "gosto inefável" da graça de Deus em sua criação!Indico o livro de John Piper: A paixão de Deus por sua glória!!!Vale mais do que a pena ler!!!

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  2. Se as coisas criadas são belas assim, ainda "como que em dores de parto", imagino quão belas serão quando tudo for criado novo, na Nova Jerusalém.

    Deus seja louvado, parabéns pelo texto, muito bom!

    Leandro Teixeira
    Editor do blog Liberdade é Pensar
    http://liberdadeepensar.blogspot.com

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  3. Que venha o porvir! Se aqui, suas maravilhas são insondáveis, o que vem por aí é inconcebívelmente maravilhoso!

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  4. Quero parabenizar-lhe uma vez mais pelo seu texto. É muito bom vermos cristãos jovens como você com uma maturidade que muitos senhores (idade e tempo de evangelho) não têm.

    Parabéns pela obra! Desejaria, se permitir-me, fazer uma colocação quanto ao final do seu texto, quando você faz a citação de I Co.2.9: "Nem olhos viram..." Não sei se é uma interpretação do texto ou apenas uma aplicação do mesmo, pois a interpretação mais fidedigna de I Co.2.9 seria que Paulo se refere a Cristo, a salvação e não aos céus (eternidade).

    P.s. Desculpe a intromissão e reitero os meus parabéns pela elucidação!

    GRANDE abraço!!!

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