O primeiro os dez mandamentos nos dirige ao reconhecimento da exclusividade de Deus: "Não terás outros deuses diante de mim" (Êx 20.3). Observe o contexto em que o mandamento foi dado. "Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão" (Êx 20.2). Até este ponto da narrativa bíblica, Deus é revelado como o Criador, aquele que fez tudo e todos. Como Criador, ele é o Deus a quem temos que prestar contas, o Deus de quem somos dependentes, o Deus que nos dá vida e respiração, saúde e força e tudo mais. Isso é verdade quanto a todos os seres humanos. Mas, nesse texto de Êxodo, o foco está no que Deus fez por alguns seres humanos específicos, os descendentes de Abraão. Deus os tirou da escravidão. Por consequência dessa libertação, Deus disse: "Não terás outros deuses diante de mim" (Êx 20.3)
Este é um tema reiterado constantemente na Bíblia. Tanto por ser criador como por ser libertador do povo da aliança, há uma repetida exigência de lealdade ao Deus presente. Dois capítulos à frente, lemos: "Quem sacrificar aos deuses e não somente ao Senhor será destruído" (Êx 22.20). Um capítulo depois deste, lemos: "Do nome de outros deuses nem vos lembreis, nem se ouça de vossa boca" (Êx 23.13). Onze capítulos depois, lemos: Não adorarás outro deus; pois o nome do Senhor é Zeloso; sim, Deus zeloso é ele" (Êx 34.14). Ou, novamente: "Eu sou o Senhor, e não há outro" (Is 45.5). "Só contigo está Deus, e não há outro que seja Deus" (Is 45.14).
Talvez a princípio fiquemos inquietos quanto à noção de um Deus zeloso ou ciumento. Você quer que seu cônjuge seja constantemente ciumento? Mesmo no contexto de casamento, certamente você deseja que haja um pouco de ciúme, não deseja? Ou seu casamento será do tipo aberto, em que ambos os cônjuges tem permissão de fazer sexo com várias pessoas, sem repercussões - todos são felizes com isso? Não há um senso de que, se vocês estão realmente comprometidos um com o outro, certo tipo de ciúme, que preserva o relacionamento, é bom e saudável, uma reação sábia? E essa reação existe entre pares, entre amigos íntimos. Agora pense em Deus, o Deus que criou todas as coisas. Retornamos à situação que descobrimos em Gênesis 3. A natureza da primeira rebelião foi idolatria. O que Deus deveria ter dito? "Oh! desenvolvam a espiritualidade de vocês à medida que vivem. Inventem seu próprio deus. Eu realmente não me importo". Esse tipo de reação nega o caráter de Deus. Nega o seu papel como Criador. nega a sua função exclusiva como sustentador soberano da vida. Em Êxodo 20, ele é o Deus que resgatou seu povo da escravidão. Poderia ele dizer: "Vocês podem fingir que outro deus os livrou, se quiserem. Podem fazer seus próprios deuses"?
Ele é o Senhor, cujo nome é Zeloso.
Na verdade, esse assunto também visa ao bem do povo. Se Deus dissesse: "Vocês podem fazer o que quiserem", eles simplesmente cairiam em incessante autojustificação, amor próprio e egoísmo. Eles se tornariam indistintos dos pagãos que viviam ao seu redor. Logo ofereceriam seus filhos a Moloque. Por que não? Os seus vizinhos faziam isso. Essa insistência na centralidade em Deus visava o bem dos israelitas. Na verdade, era um ato de amor, de grande generosidade. "Eu sou o Senhor teu Deus, que tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. (Êx 20.2-3). O primeiro dos Dez Mandamentos nos ordena a reconhecer a exclusividade de Deus.
Trecho do livro O Deus Presente, publicado pela Editora Fiel, 2012
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Presb. Cícero da Silva Pereira
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