1 Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.
2 Vocês podem reconhecer o Espírito
de Deus deste modo: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne
procede de Deus;
3 mas todo espírito que não
confessa a Jesus não procede de Deus. Esse é o espírito do anticristo, acerca
do qual vocês ouviram que está vindo, e agora já está no mundo.
4 Filhinhos, vocês são de Deus e os
venceram, porque aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no
mundo.
6 Nós viemos de Deus, e todo aquele
que conhece a Deus nos ouve; mas quem não vem de Deus não nos ouve. Dessa forma
reconhecemos o Espírito da verdade e o espírito do erro.
7 Amados, amemo-nos uns aos outros,
pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.
9 Foi assim que Deus manifestou o
seu amor entre nós: enviou o seu Filho Unigênito ao mundo, para que pudéssemos
viver por meio dele.
10 Nisto consiste o amor: não em que
nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como
propiciação pelos nossos pecados.
( 1ª João, capítulo
4.1-10)
A primeira carta do Apóstolo João foi provavelmente
escrita em algum ponto das últimas décadas do século I (85 – 95 d.C.), possivelmente
antes do exílio na Ilha de Patmos (Apocalipse 1.9), mas em um contexto onde
Jerusalém já havia sido destruída (70 d.C.), os cristãos estavam espalhados por
quase todo o Império Romano e provavelmente todos os outros apóstolos e Paulo já
estavam mortos, ou seja, toda uma geração tinha se passado. O público original
da carta é desconhecido, provavelmente seriam cristãos com quem João tinha
relação próxima e em termos gerais, 1ª João foi escrita para transmitir os
frutos do trabalho da vida dos apóstolos e advertir e instruir sobre falsos
ensinos. [1]
No capítulo 4 de 1ª João estão presentes as advertências e
instruções acerca de alguns dos falsos mestres no meio dos cristãos do século
I. Observe o que diz no verso 1 “examinem os
espíritos para ver se eles procedem de Deus”. A palavra espíritos tem
significado de ‘pessoas’ e não almas vagantes e a palavra examinar (do grego dokimazō , palavra sinônima de
‘provar’ ou ‘testar’) tem
relação com um termo usado na metalurgia para avaliar a pureza do metal. Isto faz
referencia o fato de que não devemos acreditar em tudo o que ouvimos de alguém como palavra inspirada por Deus. João
tenta expor a ideia que podemos associar aos bereanos (Atos 17.11), que
examinavam, nas escrituras, tudo o que os apóstolos pregavam e também esta
associada à ideia contida no texto “Não tratem com desprezo as profecias, mas
ponham à prova [dokimazo] todas as coisas e fiquem com o que é bom” (1ª
Ts 5.20 e 21).
Tais advertências e fazem
referencia ao ensino chamado de “docetismo”, uma crença afirmava de várias
vertentes, uma delas dizia que uma divindade passou a habitar em Jesus após seu
batismo e o deixou momentos antes da crucificação. Outro ramo dessa crença
afirma que Jesus era um espírito que parecia um ser humano, passando por
experiências humanas (sofrimento e morte). Após uma geração de apóstolos e
outros seguidores que andaram literalmente com o Deus Filho, chamado Jesus, este geração a qual João escreve mais ou
menos aos 100 anos de idade é “nova” e havia se envolvido com esses falsos
ensinamentos a cerca da divindade de Jesus. A preocupação com tais ensinos é simples:
constituem Heresia. João sabia disto e argumenta, com a autoridade que possui
como apostolo ensinado diretamente por Cristo, nos versos 2 e 3 do capítulo 4,
que os cristãos podem
discernir entre aqueles falam pelo Espírito de Deus e aqueles que não falam de
maneira simples e direta: todos os que professam fé que Jesus Cristo veio como
carne fala pelo Espírito de Deus, mas os que negam falam pelo espírito do
anticristo.
Nos versos 4 e
5, João confirma que aqueles que creem na verdade do Evangelho de Cristo, assim
o fazem por possuírem o maior dos espíritos,
contudo aqueles que estavam sendo guiados pelo mundo, ouviam as coisas do
mundo. Aqueles que eram de Deus acreditariam nas palavras de João e dos demais
verdadeiros cristãos acerca desse ensino. Vejam o verso 6: “Nós viemos de Deus, e todo aquele que conhece a Deus
nos ouve, mas quem não vem de Deus não nos ouve” . A
seguir, nos versos 7, 8, e 9, João fala
a respeito do amor de uns para com os outros e fecha reafirmando o amor de Deus
para com os homens no final do verso 10 “... enviou seu Filho como propiciação pelos
nossos pecados” . João queria novamente enfatizar que Cristo não
somente veio como homem, mas também morreu como homem, pelos nossos pecados. A
crença do docetismo punha em xeque não somente a encarnação, mas também
validade do sacrifício e da ressurreição. Lembremos do que Paulo diz em 1ª
Corintios 15.14 “se
Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como também é inútil a fé
que vocês têm” .
Para que o leitor entenda
onde quero chegar e entenda a gravidade deste assunto, Segundo Franklin
Ferreira,
Para os docetas [...] Cristo não foi
plenamente encarnado na carne, pois a matéria é intrinsecamente má. As
epístolas de Colossenses e João argumentam contra esta noção pré-gnóstica. Esta
posição tem reaparecido atualmente no ensino dos evangelistas da prosperidade.[2]
O atual pseudoevangelho da
prosperidade não somente tem maculado a igreja no que se refere às bênçãos materiais,
financeiras e relativas à cura, mas os pregadores neopentecostais tem negado a
divindade de Cristo. Esses tais têm adequado a verdadeira Palavra às suas palavras e não às de Deus. Eles vem construindo
discursos a seu gosto corrupto, pois eles não são de Deus. Fujamos destes, eles não falam em nome de Deus!
[1] Bíblia de Estudo de Genebra. 2. ed. Barueri, SP:
Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2009. pág. 1696.
[2] FERREIRA. Franklin, MYATT. Alan, Teologia
Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova. 2008. P. 487.
Felipe
Medeiros
www.facebook.com/felipealexandremedeiros
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