terça-feira, 11 de março de 2014

Examinando os espíritos: do docetismo ao neopentecostalismo





1
 Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.
2 Vocês podem reconhecer o Espírito de Deus deste modo: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne procede de Deus;
3 mas todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus. Esse é o espírito do anticristo, acerca do qual vocês ouviram que está vindo, e agora já está no mundo.
4 Filhinhos, vocês são de Deus e os venceram, porque aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo.
5 Eles vêm do mundo. Por isso o que falam procede do mundo, e o mundo os ouve.
6 Nós viemos de Deus, e todo aquele que conhece a Deus nos ouve; mas quem não vem de Deus não nos ouve. Dessa forma reconhecemos o Espírito da verdade e o espírito do erro.
7 Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.
8 Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.
9 Foi assim que Deus manifestou o seu amor entre nós: enviou o seu Filho Unigênito ao mundo, para que pudéssemos viver por meio dele.
10 Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.

( 1ª João, capítulo 4.1-10)

A primeira carta do Apóstolo João foi provavelmente escrita em algum ponto das últimas décadas do século I (85 – 95 d.C.), possivelmente antes do exílio na Ilha de Patmos (Apocalipse 1.9), mas em um contexto onde Jerusalém já havia sido destruída (70 d.C.), os cristãos estavam espalhados por quase todo o Império Romano e provavelmente todos os outros apóstolos e Paulo já estavam mortos, ou seja, toda uma geração tinha se passado. O público original da carta é desconhecido, provavelmente seriam cristãos com quem João tinha relação próxima e em termos gerais, 1ª João foi escrita para transmitir os frutos do trabalho da vida dos apóstolos e advertir e instruir sobre falsos ensinos. [1]
No capítulo 4 de 1ª João estão presentes as advertências e instruções acerca de alguns dos falsos mestres no meio dos cristãos do século I. Observe o que diz no verso 1 “examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus”. A palavra espíritos tem significado de ‘pessoas’ e não almas vagantes e a palavra examinar (do grego dokimazō , palavra sinônima de provar’ ou ‘testar’) tem relação com um termo usado na metalurgia para avaliar a pureza do metal. Isto faz referencia o fato de que não devemos acreditar em tudo o que ouvimos  de alguém como palavra inspirada por Deus. João tenta expor a ideia que podemos associar aos bereanos (Atos 17.11), que examinavam, nas escrituras, tudo o que os apóstolos pregavam e também esta associada à ideia contida no texto Não tratem com desprezo as profecias, mas ponham à prova [dokimazo] todas as coisas e fiquem com o que é bom” (1ª Ts 5.20 e 21).
Tais advertências e fazem referencia ao ensino chamado de “docetismo”, uma crença afirmava de várias vertentes, uma delas dizia que uma divindade passou a habitar em Jesus após seu batismo e o deixou momentos antes da crucificação. Outro ramo dessa crença afirma que Jesus era um espírito que parecia um ser humano, passando por experiências humanas (sofrimento e morte). Após uma geração de apóstolos e outros seguidores que andaram literalmente com o Deus Filho, chamado Jesus, este geração a qual João escreve mais ou menos aos 100 anos de idade é “nova” e havia se envolvido com esses falsos ensinamentos a cerca da divindade de Jesus. A preocupação com tais ensinos é simples: constituem Heresia. João sabia disto e argumenta, com a autoridade que possui como apostolo ensinado diretamente por Cristo, nos versos 2 e 3 do capítulo 4, que os cristãos podem discernir entre aqueles falam pelo Espírito de Deus e aqueles que não falam de maneira simples e direta: todos os que professam fé que Jesus Cristo veio como carne fala pelo Espírito de Deus, mas os que negam falam pelo espírito do anticristo.
Nos versos 4 e 5, João confirma que aqueles que creem na verdade do Evangelho de Cristo, assim o fazem por possuírem o maior dos espíritos, contudo aqueles que estavam sendo guiados pelo mundo, ouviam as coisas do mundo. Aqueles que eram de Deus acreditariam nas palavras de João e dos demais verdadeiros cristãos acerca desse ensino. Vejam o verso 6: “Nós viemos de Deus, e todo aquele que conhece a Deus nos ouve, mas quem não vem de Deus não nos ouve” . A seguir, nos versos 7, 8, e 9,  João fala a respeito do amor de uns para com os outros e fecha reafirmando o amor de Deus para com os homens no final do verso 10  “... enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” . João queria novamente enfatizar que Cristo não somente veio como homem, mas também morreu como homem, pelos nossos pecados. A crença do docetismo punha em xeque não somente a encarnação, mas também validade do sacrifício e da ressurreição. Lembremos do que Paulo diz em 1ª Corintios 15.14 se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como também é inútil a fé que vocês têm .
Para que o leitor entenda onde quero chegar e entenda a gravidade deste assunto, Segundo Franklin Ferreira,
Para os docetas [...] Cristo não foi plenamente encarnado na carne, pois a matéria é intrinsecamente má. As epístolas de Colossenses e João argumentam contra esta noção pré-gnóstica. Esta posição tem reaparecido atualmente no ensino dos evangelistas da prosperidade.[2]
               
                O atual pseudoevangelho da prosperidade não somente tem maculado a igreja no que se refere às bênçãos materiais, financeiras e relativas à cura, mas os pregadores neopentecostais tem negado a divindade de Cristo. Esses tais têm adequado a verdadeira Palavra às suas palavras e não às de Deus. Eles vem construindo discursos a seu gosto corrupto, pois eles não são de Deus. Fujamos destes, eles não falam em nome de Deus!


[1] Bíblia de Estudo de Genebra. 2. ed. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2009. pág. 1696.
[2] FERREIRA. Franklin, MYATT. Alan, Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova. 2008. P. 487.



Felipe Medeiros

www.facebook.com/felipealexandremedeiros

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