terça-feira, 5 de março de 2013

Uma Reflexão sobre Tolerância


Houve um tempo em que tolerância era sinônimo de respeito á liberdade de expressão. O tolerante era aquele defendia o direito que todos se manifestassem acerca de suas crenças e opiniões, de forma livre e respeitosa. Neste o tempo muitos seguiam Voltaire em sua afirmação que poderia discordar de alguém, mas lutaria sempre que esta pessoa tivesse o direito de se expressar. Este era o significado antigo de tolerância.

Neste sentido, os protestantes historicamente, apesar de haverem algumas oscilações, se posicionaram a favor desta postura, pelo fato de surgirem como uma oposição à igreja hegemônica e valer-se da liberdade para defender a fé reformada. Alguns historiadores chegam ao ponto de afirmar que o calvinista era antes de tudo um fanático por liberdade. Deste modo, o legado protestante, salvo exceções, é sim tolerante, ao defender a liberdade de expressão e crença, tendo sido isto evidenciado, por exemplo, durante a ocupação holandesa durante o período colonial no Brasil, onde houve uma inédita liberdade religiosa, enquanto durou aquela ocupação.

Entretanto, houve uma sútil mais significativa transição do valor atribuído à palavra tolerância. Se no passado o tolerante era aquele que apoiava manifestações ainda que contrariasse suas convicções, no mundo pós-moderno, o tolerante é aquele que não tem convicção alguma. Aquele que defende suas ideias como absolutas, ainda que respeite os que pensam de modo diverso são tidos como intolerantes. Como fazer em tolerância sem diversidade de pensamento? Esta é a atual realidade contraditória no qual o conceito de tolerância encontra-se situado.

Desta forma os que outrora eram tidos como tolerantes, são vistos como intolerantes só por terem convicções firmes, ainda que sejam favoráveis à liberdade de expressão. Na verdade, os “novos tolerantes” é que afligem à liberdade alheia ao agirem com perseguição a todos que tem crenças definidas e absolutas, esquecendo-se de aplicar sua pretensa tolerância a estes. Em nossa sociedade distorcida e incoerente, o intolerante é recebido por tolerante, enquanto fustiga a liberdade de expressão e escraviza mentes mediante um discurso disfarçado de pluralista, mas que na verdade é aniquilacionista de qualquer verdade ou certeza.

Em alguns casos a desonestidade intelectual é tamanha ao ponto de alguns intelectuais compararem as posturas de alguns cristãos à radicais islâmicos, sem levar em conta o fato de que aqueles se opõe de forma legítima e não-violenta a certas bandeiras, e isto é lícito. O contraditório deve ser tolerado. Ou todos podem ter espaço, menos as posições bíblicas? Que tipo de tolerância seletiva é esta? Comparar aqueles que se opõe a determinadas práticas com homens que utilizam de violência para impor suas crenças é simplesmente inapropriado, além de denotar manifesta má-fé. 

No que cabe a nós, povo de Deus, devemos lutar por uma igreja e sociedade tolerante, no sentido clássico, pregando a verdade do evangelho, mas valorizando a liberdade dos outros, visto que outrora também já fomos estrangeiros, escravizados pelo pecado como estes hoje são (Lv. 19.33-34). Devemos ser tolerantes, não tendo como base uma filosofia pluralista, mas sim como uma teologia de misericórdia.

De igual modo a igreja de Cristo deve se opor de forma constante e inabalável contra todos os que desejam perverter a verdadeira tolerância, agindo de forma truculenta e nada tolerante contra todos que não abrem mãos de suas opiniões, em nome de um falso pluralismo, que na verdade não respeita os diferentes, mas deseja que todos sejam igualmente nulos em seus pensamentos.

Sejamos tolerantes, mas que saibamos exatamente que tipo de tolerância devemos ter e qual devemos rejeitar.


Rodrigo Ribeiro
@rodrigolgd

Este texto foi baseado na aula nº 11 da revista Nossa Fé – O que é isso?, publicada em 2012 pela Editora Cultura Cristã.

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