Houve
um tempo em que tolerância era sinônimo de respeito á liberdade de expressão. O
tolerante era aquele defendia o direito que todos se manifestassem acerca de
suas crenças e opiniões, de forma livre e respeitosa. Neste o tempo muitos
seguiam Voltaire em sua afirmação que poderia discordar de alguém, mas lutaria
sempre que esta pessoa tivesse o direito de se expressar. Este era o
significado antigo de tolerância.
Neste
sentido, os protestantes historicamente, apesar de haverem algumas oscilações,
se posicionaram a favor desta postura, pelo fato de surgirem como uma oposição
à igreja hegemônica e valer-se da liberdade para defender a fé reformada.
Alguns historiadores chegam ao ponto de afirmar que o calvinista era antes de
tudo um fanático por liberdade. Deste modo, o legado protestante, salvo exceções,
é sim tolerante, ao defender a liberdade de expressão e crença, tendo sido isto
evidenciado, por exemplo, durante a ocupação holandesa durante o período
colonial no Brasil, onde houve uma inédita liberdade religiosa, enquanto durou
aquela ocupação.
Entretanto,
houve uma sútil mais significativa transição do valor atribuído à palavra tolerância.
Se no passado o tolerante era aquele que apoiava manifestações ainda que contrariasse
suas convicções, no mundo pós-moderno, o tolerante é aquele que não tem
convicção alguma. Aquele que defende suas ideias como absolutas, ainda que
respeite os que pensam de modo diverso são tidos como intolerantes. Como fazer
em tolerância sem diversidade de pensamento? Esta é a atual realidade
contraditória no qual o conceito de tolerância encontra-se situado.
Desta
forma os que outrora eram tidos como tolerantes, são vistos como intolerantes
só por terem convicções firmes, ainda que sejam favoráveis à liberdade de
expressão. Na verdade, os “novos tolerantes” é que afligem à liberdade alheia
ao agirem com perseguição a todos que tem crenças definidas e absolutas,
esquecendo-se de aplicar sua pretensa tolerância a estes. Em nossa sociedade
distorcida e incoerente, o intolerante é recebido por tolerante, enquanto
fustiga a liberdade de expressão e escraviza mentes mediante um discurso disfarçado
de pluralista, mas que na verdade é aniquilacionista de qualquer verdade ou
certeza.
Em alguns casos a desonestidade intelectual é tamanha ao ponto de alguns intelectuais compararem as posturas de alguns cristãos à radicais islâmicos, sem levar em conta o fato de que aqueles se opõe de forma legítima e não-violenta a certas bandeiras, e isto é lícito. O contraditório deve ser tolerado. Ou todos podem ter espaço, menos as posições bíblicas? Que tipo de tolerância seletiva é esta? Comparar aqueles que se opõe a determinadas práticas com homens que utilizam de violência para impor suas crenças é simplesmente inapropriado, além de denotar manifesta má-fé.
No
que cabe a nós, povo de Deus, devemos lutar por uma igreja e sociedade
tolerante, no sentido clássico, pregando a verdade do evangelho, mas
valorizando a liberdade dos outros, visto que outrora também já fomos estrangeiros,
escravizados pelo pecado como estes hoje são (Lv. 19.33-34). Devemos ser
tolerantes, não tendo como base uma filosofia pluralista, mas sim como uma
teologia de misericórdia.
De
igual modo a igreja de Cristo deve se opor de forma constante e inabalável
contra todos os que desejam perverter a verdadeira tolerância, agindo de forma
truculenta e nada tolerante contra todos que não abrem mãos de suas opiniões,
em nome de um falso pluralismo, que na verdade não respeita os diferentes, mas
deseja que todos sejam igualmente nulos em seus pensamentos.
Sejamos
tolerantes, mas que saibamos exatamente que tipo de tolerância devemos ter e
qual devemos rejeitar.
Rodrigo
Ribeiro
@rodrigolgd
Este texto foi baseado na aula nº 11 da
revista Nossa Fé – O que é isso?, publicada em 2012 pela Editora Cultura Cristã.
Excelente texto! Apoio totalmente sua argumentação!
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