A primeira
vez que atentei para os versículos de Hb 3.12-13 foi há algum tempo atrás
através de um irmão em Cristo muito querido e muito santo que recitou tal
passagem para mim. Ele havia decorado tal trecho porque julgava ser algo
importante que deveria anunciar ao próximo e que ele mesmo deveria recitar para
si afim de não ser ele mesmo desqualificado. Naquela ocasião fiquei maravilhado
ao contemplar a gentileza daquele querido amigo ao me ensinar tais palavras,
além de contemplar nelas tão grande princípio para a minha vida. E desde então,
às vezes Deus me faz lembrar seu ensino e a relevância dele para a igreja
atual.
Essa passagem que lemos traz a solene advertência de jamais haver em
qualquer de nós “perverso coração de
incredulidade que nos afaste do Deus vivo”. Uma advertência que penso ser
de total importância, visto que se afastar do Deus vivo é a maior desgraça que
podemos realizar na vida. Fazer isso é caminhar para a morte eterna e sofrer a
justa ira de Deus. Todavia, o ensinamento dessa passagem que naquela ocasião me
chamou a atenção não foi esse, mas sim o mandamento “exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama hoje,
a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado”.
Tenho observado com tristeza que perdemos completamente qualquer noção
de discipulado e vida comunitária. Os mandamentos recíprocos de amar, cuidar,
sujeitar, servir, suportar, etc, não fazem mais parte da nossa vida cotidiana.
E destes mandamentos recíprocos temos negligenciado um poderoso instrumento
para vencermos o pecado, que é a prática de nos exortarmos mutuamente. E quando
falamos em exortação, não me refiro à noção de nossos dias de uma repreensão
dura, mas sim do verdadeiro significado da palavra que tem mais a ver com
estimular, animar e incentivar. Ao entender isso, fica evidente que aquilo que
deveríamos fazer todos os dias era nos preocupar em ajudarmos uns aos outros a
vencer o pecado, por meio da pregação mútua e do encorajamento a perseverar na
luta pela santidade.
O grande problema é que não fazemos isso. Definitivamente, nem sempre
somos caracterizados por sermos uma igreja que conversa sobre o reino dos céus,
sobre a vontade de Deus para a nossa vida e sobre os nossos próprios pecados. Às
vezes conversamos mais sobre futebol, luta livre, filmes, livros, do que sobre
a palavra de Deus. Tenho observado que até mesmo entre os mais estudiosos das
Escrituras, isto é, àqueles dedicados ao estudo teológico, nem sempre há
exortação mútua. Não porque não conversam sobre a bíblia, mas porque conversam
sobre o que lhes dá satisfação intelectual ao invés daquilo que lhes era
necessário para crescimento mútuo.
Para ilustrar o que seria exortarmo-nos mutuamente, tomarei a liberdade
de contar uma história pessoal. Lembro-me de alguns preciosos momentos que tive
nos primeiros anos de minha fé, onde eu nutria com alguns bons amigos o hábito
de nos reunirmos para bons momentos de comunhão. Fazíamos isso todo mês,
reunindo-nos na casa de um de nós para conversarmos sobre a bíblia, orar e
assistir algumas boas pregações de Paul Washer. Frequentemente aquelas reuniões
terminavam com bons momentos de confissão, quebrantamento e estímulo para
vivermos a vida Cristã. O resultado delas era um inevitável vigor espiritual
durante a semana, que nos capacitava para, com alegria, cumprir aquilo a qual
nos desafiávamos para cumprir. Hoje, infelizmente, temos mais dificuldades para
nos reunir, pois o tempo passou e as responsabilidades nos sobrevieram. Mas
ainda assim os frutos permanecem, pois amadurecimento não se perde. Além disso,
ainda nos restam aquela boa amizade, muitas conversas edificantes e a certeza
de que temos, uns nos outros, uma confiança para a qualquer momento reviver um
pouco daqueles dias e pedirmos ajuda nos momentos de dificuldade e fraqueza.
Por fim, quero enfatizar que precisamos resgatar na nossa vida uma visão
mais ampla de vida comunitária e viver mais o que descrevi. Nos falta mais comunhão
verdadeira, onde o centro é a palavra de Cristo e o objetivo é a glória de Deus
por meio da vitória sobre o pecado. Devemos ter momentos preciosos, com amigos
chegados, confidentes, para juntos orarmos, lermos as Escrituras contra nós
mesmos, confessarmos os nossos pecados e nos quebrantarmos. Assim, Deus nos
livrará de sermos endurecidos pelo engano de muitos pecados.
Luiz Augusto Medeiros
Que exortação preciosa,Deus seja louvado e nos ajude a voltarmos com urgência a essa prática!
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