terça-feira, 4 de setembro de 2012

Estão julgando o Mensalão. E eu com isso?


Desde o mês de Agosto, o julgamento da ação penal 470, que tramita no Superior Tribunal Federal, vem causando bastante repercussão. Isto se deu a partir de uma ampla divulgação de todos os atos deste julgamento, que trata do que se convencionou chamar do caso “mensalão”, grande escândalo político que eclodiu entre os anos 2005 e 2006, no governo do presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores. Diante da amplitude deste fato jurídico-político, muitos se envolvem, procuram debater o assunto e participar deste momento histórico, mas outros ficam alheios a isto tudo, como se estivessem perguntando-se: e eu com isso?

Antes de responder esta pergunta retórica, algumas considerações precisam ser feitas: este julgamento é sim um marco na história de nossa república. Seja pela magnitude da engrenagem que fora revelada, seja pelo tamanho do processo, pois os autos da AP 470 são compostos de 235 volumes e 500 apensos, somando cerca de 50.508 folhas, com 38 réus. De fato, este momento histórico é mais uma página importante de nossa recente democracia. No entanto, seria ingenuidade pensar que neste julgamento, a partir de uma sentença condenatória, seria extirpado de nossa sociedade o ranço pernicioso da corrupção, que a moralidade reinaria em nosso processo político-eleitoral e todos viverão felizes para sempre.

Esta ideia messiânica do julgamento, assim como dos ministros (vide a imagem de herói que tem pairado sobre alguns deles), não se adequa a uma leitura sincera de nossa realidade, haja vista que a corrupção não se veste apenas de vermelho, nem usa somente as vias abertas pelo “mensalão” para se propagar. Ela está ali, presente em todos os poderes, nas licitações, nos concursos fraudulentos, etc. Nós cristãos, que conhecemos o estado na da natureza humana pós-queda, assim como o efeito ampliador que o poder costuma causar naqueles que o possuem, não podemos seguir este caminho ilusório. Devemos sempre nos manter alerta, sem idolatrar qualquer político, partido ou qualquer ideologia. A nossa função profética, nos impõe uma distância que nos permita uma avaliação crítica segura, de todos os que governam, tanto situação e oposição, seja qual for a sua cor partidária.

Diante desta análise otimista, porém realista, precisamos refletir o nosso papel dentro desta tela que se desenhou: estaríamos de fora, somente contemplando, ou também somos partícipes? Uma das causas deste esquema, além de avidez dos homens por poder e dinheiro, se encontra no financiamento das campanhas, que dá vazão ao caixa 2, e vários outros procedimentos ilegais. Neste instante, devemos perceber nosso papel em todo este enredo. As campanhas caras, a compra de voto, ou a troca deste por favores pessoais, tudo isto são pequenas notas que por fim acabam se ampliando e formando a orquestra da corrupção. Quando escolhemos maus representantes, por conta de interesses ilegítimos e tão somente particulares, somos corresponsáveis pelos atos que estes praticam. Uma ação penal com 38 réus pode parecer algo espantoso, mas a bem da verdade, todos os que vendem o seu voto, e traem a sua consciência no período eleitoral, deveriam figurar no polo passivo desta ação.

Todo este julgamento deve produzir uma profunda reflexão em nós, como eleitores, e principalmente como cristãos. Não devemos confiar de maneira cega e idolatra em nenhum político, e principalmente, não devemos negociar o nosso voto. Devemos valorizá-lo, sabendo que seremos responsáveis pelos desmandos praticados em nosso nome. Reconhecer que temos tudo haver com o “mensalão” é o primeiro passo para construirmos uma nova visão política, pautadas em valores elevados do Reino de Deus, que visem o bem-estar da sociedade como um todo.

Rodrigo Ribeiro
@rodrigolgd

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