Desde o mês de
Agosto, o julgamento da ação penal 470, que tramita no Superior Tribunal
Federal, vem causando bastante repercussão. Isto se deu a partir de uma ampla
divulgação de todos os atos deste julgamento, que trata do que se convencionou
chamar do caso “mensalão”, grande escândalo político que eclodiu entre os anos
2005 e 2006, no governo do presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores.
Diante da amplitude deste fato jurídico-político, muitos se envolvem, procuram
debater o assunto e participar deste momento histórico, mas outros ficam
alheios a isto tudo, como se estivessem perguntando-se: e eu com isso?
Antes de responder
esta pergunta retórica, algumas considerações precisam ser feitas: este
julgamento é sim um marco na história de nossa república. Seja pela magnitude
da engrenagem que fora revelada, seja pelo tamanho do processo, pois os autos
da AP 470 são compostos de 235 volumes e 500 apensos, somando cerca de 50.508
folhas, com 38 réus. De fato, este momento histórico é mais uma página
importante de nossa recente democracia. No entanto, seria ingenuidade pensar
que neste julgamento, a partir de uma sentença condenatória, seria extirpado de
nossa sociedade o ranço pernicioso da corrupção, que a moralidade reinaria em
nosso processo político-eleitoral e todos viverão felizes para sempre.
Esta ideia messiânica
do julgamento, assim como dos ministros (vide a imagem de herói que tem pairado
sobre alguns deles), não se adequa a uma leitura sincera de nossa realidade,
haja vista que a corrupção não se veste apenas de vermelho, nem usa somente as
vias abertas pelo “mensalão” para se propagar. Ela está ali, presente em todos
os poderes, nas licitações, nos concursos fraudulentos, etc. Nós cristãos, que
conhecemos o estado na da natureza humana pós-queda, assim como o efeito
ampliador que o poder costuma causar naqueles que o possuem, não podemos seguir
este caminho ilusório. Devemos sempre nos manter alerta, sem idolatrar qualquer
político, partido ou qualquer ideologia. A nossa função profética, nos impõe
uma distância que nos permita uma avaliação crítica segura, de todos os que governam,
tanto situação e oposição, seja qual for a sua cor partidária.
Diante desta análise
otimista, porém realista, precisamos refletir o nosso papel dentro desta tela
que se desenhou: estaríamos de fora, somente contemplando, ou também somos partícipes?
Uma das causas deste esquema, além de avidez dos homens por poder e dinheiro,
se encontra no financiamento das campanhas, que dá vazão ao caixa 2, e vários
outros procedimentos ilegais. Neste instante, devemos perceber nosso papel em
todo este enredo. As campanhas caras, a compra de voto, ou a troca deste por
favores pessoais, tudo isto são pequenas notas que por fim acabam se ampliando
e formando a orquestra da corrupção. Quando escolhemos maus representantes, por
conta de interesses ilegítimos e tão somente particulares, somos corresponsáveis
pelos atos que estes praticam. Uma ação penal com 38 réus pode parecer algo
espantoso, mas a bem da verdade, todos os que vendem o seu voto, e traem a sua consciência
no período eleitoral, deveriam figurar no polo passivo desta ação.
Todo este julgamento deve
produzir uma profunda reflexão em nós, como eleitores, e principalmente como
cristãos. Não devemos confiar de maneira cega e idolatra em nenhum político, e
principalmente, não devemos negociar o nosso voto. Devemos valorizá-lo, sabendo
que seremos responsáveis pelos desmandos praticados em nosso nome. Reconhecer
que temos tudo haver com o “mensalão” é o primeiro passo para construirmos uma
nova visão política, pautadas em valores elevados do Reino de Deus, que visem o
bem-estar da sociedade como um todo.
Rodrigo
Ribeiro
@rodrigolgd
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