sexta-feira, 20 de julho de 2012

Alguém pode realmente saber quem são os salvos? Com a Palavra João Calvino




Só Deus sabe realmente quais são, de fato, santos e eleitos seus, conseqüentemente, até onde nos era do interesse conhecê-la por sinais seguros, e como que marcas, no-la assinalou o Senhor. Esta é, na verdade, singular prerrogativa do próprio Deus: saber quem são os seus, como Paulo cita [2Tm 2.19]. E, com efeito, para que a esse ponto a temeridade dos homens se não se arrojas, foi de antemão visualizado, reiterando-o diariamente a própria eventuação, quão longe seus juízos secretos nos superam o entendimento. Ora, também aqueles que pareciam inteiramente perdidos, e haviam sido pranteados como além de toda esperança, são por sua bondade recambiados ao caminho; e os que acima de outros pareciam estar de pé amiúde se prostram arruinados. Sendo assim, segundo a predestinação secreta de Deus, como diz Agostinho, “muitas são as ovelhas do lado de fora, muitos são os labos do lado de dentro”. Pois Deus conhece, e os tem marcados, os que não conhecem nem a ele, nem a si próprios. Mas, daqueles que trazem às claras sua marca, unicamente seus olhos vêem os que não apenas são santos sem dissimulação, mas também hão de perseverar até o fim [Mt 24.13], o que é, afinal, o clímax da salvação.
Por outro lado, entretanto, porque previa ser-nos até certo ponto conveniente que soubéssemos quem fosse de nos ter por seus filhos, nesta parte ele se acomodou a nossa capacidade de entendimento. E porque não era necessária a certeza da fé, pôs em seu lugar um como que juízo da afeição, mediante o qual reconheçamos por membros da Igreja aqueles que pela confissão de fé, pelo exemplo de vida e pela participação dos sacramentos, professam conosco o mesmo Deus e Cristo. Mas o conhecimento do próprio corpo, quanto mais sabia ser necessário para nossa salvação, tanto mais o recomendou por certas marcas.

CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã: capítulo 1, Livro IV, pag. 34


Felipe Medeiros

@felipe_ipb

 

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