Nesta reflexão, pretendemos abordar a situação dos idosos na sociedade racionalizada, tomando como referência os seguintes aspectos: a solidão, a ausência de afetividade, a exclusão social e o preconceito, abordando-os a partir de uma construção de uma ética do cuidado e de uma abordagem sociológica, teológica e histórica.
O contexto atual é marcado pelo estímulo a comportamentos sociais que separam as experiências cotidianas dos jovens e dos idosos, como se necessariamente eles vivessem realidades divergentes e conflituosas. Isso é acentuado pela negligência dos adultos em dialogar com os filhos sobre a necessidade da troca de experiências entre as diversas faixas etárias.
Conforme expressou o sociólogo Elias (2000, p.08), “o isolamento tácito dos velhos e dos moribundos da comunidade dos vivos, o gradual esfriamento de suas relações com pessoas a que eram afeiçoados, a separação em relação aos seres humanos em geral” são atitudes penosas para os idosos que estão sujeitos à solidão. Este isolamento da comunidade dos vivos expressa a dificuldade que os indivíduos têm de identificar-se com os idosos. Dessa forma, eles são banidos para os bastidores da vida social, bem como, cercados por sentimentos intensos de constrangimentos, sejam eles verbais ou práticos.
É relevante destacar que nem todas as sociedades trataram os seus idosos dessa maneira. A história da sociedade israelita demonstra um tratamento respeitoso com essa faixa etária, devido às suas experiências. Os idosos participavam da “Assembleia dos anciãos”, que tinha um status privilegiado na hierarquia social, pois a ele cabia o papel de aconselhar o rei sobre como proceder diante de determinadas situações envolvendo a comunidade (Salmos 107:32; Deuteronômio 27:01; 32:07; Ezequiel 08:01).
Os israelitas estimulavam nas pessoas de todas as gerações o “sentimento de pertencimento” à comunidade e, ao mesmo tempo, imprimiam um status diferenciado aos idosos, mostrando que eles também faziam parte da história daquele povo, o que se diferencia, substancialmente, da visão que se tem dos idosos na sociedade atual, marcada pelo desprezo, isolamento e exclusão social.
A hipótese que levantamos é de que esse tratamento, por parte dos israelitas, reflete à compreensão da limitação e da finitude humana e, ao mesmo tempo, da convicção da infinitude e Soberania do Deus criador do universo. Ao entender que dependiam em tudo de Deus e ao vislumbrar no idoso um acúmulo de sabedoria, baseada na palavra de Deus, os israelitas assumiam uma postura diferenciada diante da vida e do envelhecimento. Dessa forma, as pessoas não isolavam os seus idosos, pois não tinham medo de identificar-se com eles, como o fazem a maioria dos homens que vivem na sociedade racionalizada. A confiança em Deus, dos israelitas, estava presente nas suas ações cotidianas, pois a ética teocêntrica, os estimulava a viver o sentido do amor e da vida entre os irmãos, que superava o preconceito e a solidão.
O Novo Testamento relata uma situação em que Isabel, mesmo estando na velhice, concebe o precursor do Mestre Jesus Cristo, João Batista, o que demonstra que os propósitos divinos perpassam todas as faixas etárias. O Senhor transformou o ventre estéril de uma mulher senil num manancial de vida, cujo fruto veio pregar o arrependimento e anunciar a esperança naquele que é a expressão maior do Amor de Deus para com a Humanidade, Jesus Cristo: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).
Repensar a situação do velho na sociedade racionalizada, que deixou de lado a ética cristã, implica em perceber a velhice de forma mais ampliada, tendo a consciência de que todas as pessoas, caso consigam a longevidade, necessariamente, passarão pelo processo de envelhecimento, e esperarão o cuidado e o respeito dos próprios membros de sua comunidade. Tais atitudes são expressões do ser cristão, estando contidas no maior mandamento divino: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lucas 10:27).
Portanto, jovem, você já sentiu O CALOR DAS MÃOS DOS IDOSOS que frequentam a sua igreja, e principalmente, daqueles que dividem o seu convívio familiar? Lembre-se que você será o idoso do amanhã.
Profa. Dra. Silvana Eloisa da Silva Ribeiro
Profa. Me. Andrea Grace Souza de Almeida
@SilvanaEloisa
@andregrace_
REFERÊNCIAS
ELIAS, Norbert. A solidão dos moribundos, seguido de envelhecer e morrer. Plínio Dentzien ( trad.). Jorge Zahar. Rio de Janeiro, 2001
HOFF, Paul. Os livros históricos. A poderosa ação de Deus no meio de seu povo. São Paulo, Editoria Vida, 1996
MATOS, Alderi Souza de. O presbiterato – Panorama Bíblico e histórico. Disponível em:
http://www.mackenzie.br/6925.html. Acesso em: 21/05/2009
Cada idoso que nos é concedida a oportunidade de conviver é na verdade uma demonstração da Graça de Deus. Devemos honrar esta oportunidade e tratá-los da melhor forma possível, absorvendo suas experiências valiosas. Tudo que se opor a esta verdade é fruto do pecado do homem, e desta sociedade cheia de valores distorcidos.
ResponderExcluirParabéns pelo ótimo texto Andréa e Tia Vânia, com uma mensagem bastante relevante para todos nós!
Forte abraço!
Vocês só me orgulham. :)
ResponderExcluir