quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Expiação Limitada



“[...] isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para a remissão de pecados.” Mateus 26.28

                Dentre os cinco pontos do calvinismo, talvez o mais difícil de entender pela sua complexidade. Roger Nicole, teólogo batista prefere chamá-la de expiação definida, já o Rev. Ronald Hanko usa o termo expiação particular. As diferentes formas de abordar o tema nos remetem a uma concepção restrita do termo, porém as perguntas que norteiam a nossa discussão devem ser Por quem Jesus Cristo morreu? e A expiação de Cristo foi limitada em que sentido? São a partir desses questionamentos que irá se argumentar sobre o tema bastante controverso chamado expiação limitada.
                Segundo Sproul[1] Quer sejam calvinistas ou arminianos, há consentimento em acreditar que o sacrifício de Cristo na cruz foi único e suficiente para remir os pecados de todos os homens. Há também concordância que aquele que tem fé que Jesus é o Cristo, prometido em Isaias 53 e descrito no novo testamento, será salvo da ira divina inteiramente merecida. Mas a discordância inicia-se no ponto da limitação ou ilimitação do sacrifício de Cristo.
                Na bíblia encontramos muitos textos que explicitam o sacrifício expiatório de Cristo como sendo a favor de muitos, por exemplo, Is 53.11, Mt 20.28 e 26.28, Hb 9.28. Contudo encontramos textos em que se tem a idéia de um sacrifício a favor de todos. Exemplo claro o conhecido texto do evangelho de João 3.16 : “ Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". Para alguns a palavra ‘mundo’ , contida no texto significa toda a humanidade, por outro lado Hanko[2] afirma que tais passagens mostram que Cristo morreu por todos os homens de forma indistinta (raça, tribo, nação etc.), mas não por todos os homens sem exceção. Porém a passagem da segunda epistola de Pedro 3.9 é bem mais usada para contradizer a expiação limitada, vejamos: “... pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento". Nessa passagem Pedro, está escrevendo para os que ele mesmo define como os que “obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e salvador Jesus Cristo” (2 Pe 1.1). Ele designou seus leitores como cristãos [3], ou seja, o todos que ele se refere são os eleitos incondicionalmente e não ao conjunto de todos os homens moradores da Terra. Faz-se então, necessária o uso da hermenêutica bíblica.
                Jesus foi chamado de Cristo por ter como missão salvar o povo dos seus pecados (Mt 1.21) e sua missão na Terra é a própria vontade de Deus que o enviou “E a vontade de quem me enviou é esta: Que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.39). A missão de Cristo se restringiu aos eleitos, caso contrário Jesus teria morrido na cruz sem efeito e sem medo de errar, estaríamos falando do sacrifício mais frustrado de todos os tempos. Cristo morreu pelos escolhidos do Pai, pois “o Bom Pastor dá sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.15), assim pela sua perfeita obediência e pelo sacrifício de si mesmo, sacrifico que, pelo Eterno Espírito, ele ofereceu a Deus uma só vez, satisfez plenamente a justiça do Pai. [4]
                Entender a expiação limitada vai além de uma simples distinção entre os que acreditam ser a salvação “para todos” e os que acreditam ser “para muitos”, vai além, de forma que a mesma faz alusão a mais profunda da intenção do Pai e do Filho na cruz, revela que a missão e morte de Jesus foi restrita a um número limitado — a seu povo, suas ovelhas.

[1] SPROUL, R. C.: Jesus morreu por todos? Eleitos de Deus. Ed. Cultura Cristã, 2002.
[2] HANKO, Ronald: Expiação Limitada. Traduzido por Felipe Sabino de A. Neto. www.monergismo.com. Acesso dia 23 de agosto de 2011.
[3] Bíblia de Estudo de Genebra. 2ª edição. Pág. 1691. Ed Cultura Cristã, 2009.
[4] Confissão de Fé de Westminster, capitulo VII parágrafo 5.

Felipe Medeiros
@felipe_ipb

Comentários
1 Comentários

1 comentários:

  1. O que mais impede o entendimento dessa doutrina pela maioria dos cristãos, é o fato deles não aceitarem um Deus que é pleno em amor escolher apenas alguns para salvação e separar o restante para danação eterna!Um outro fato não menos importante é a pouca leitura bíblica,o pouco estudo e má interpretação dos textos sagrados citados no artigo,por isso cabe a nós a tempo e a fora de tempo propagarmos as antigas doutrinas da graça que são bíblica e verdadeiras!!!Artigo muito bom!!!

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