terça-feira, 26 de novembro de 2013

Mortificação Total

  Conversando um tempo atrás com um amigo-irmão, entramos num assunto interessante sobre pecado. Falávamos sobre a dificuldade de sermos cristãos em meio aos ataques constantes do inimigo e confessávamos alguns pecados em busca de ajuda. No desenvolver do diálogo, lembrei-me de uma frase muito forte e verdadeira: “Você não mortificará nenhum pecado a não ser que, sincera e diligentemente, busque lidar com todo pecado.” (Tentação e Mortificação do Pecado- John Owen), essas palavras ampliaram a nossa visão sobre como vencer a carne e mortificar nossas vontades.

     Infelizmente, muitos de nós agimos como reféns de nossas fraquezas e pecados, mesmo sabendo que não somos mais escravos do pecado: “Se pois o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8:36); muitas vezes caímos em tentação e sentimos o gosto amargo do peso na consciência e a tristeza gerada pela desobediência. Queremos de uma vez por todas estar livres daquilo que nos maltrata, seja uma mentira, uma tentação, uma preguiça, uma fofoca, uma falha de caráter e etc. Queremos o fim de certas coisas que fazem parte muitas vezes do nosso dia a dia, nos cerca quando estamos a sós e nos perturba, aquilo que é a nossa pedrinha no sapato, “espinho na carne”.   

     Embora tenhamos liberdade em Cristo, não nos foi dado o direito de escolher qual pecado mortificar. Como cristãos, precisamos fazer morrer tudo que é pecado e querer viver uma vida em santidade em Cristo Jesus. Portanto, é justamente aqui que John Owen entra, com uma explicação excepcional que nos ajudará a entender como de fato precisamos fazer morrer o pecado:

     “Um cristão é provado por um desejo pecaminoso. Este desejo pecaminoso (pense naquele que melhor se aplica a você) perturba o cristão. Está sempre derrotando-o e rodeando-o de modo que ele aspira por uma libertação completa. Não apenas isso, ele luta, na verdade, contra esse pecado, ora e lamenta quando é derrotado por ele. Ao mesmo tempo, contudo, há outros deveres da vida cristã que ele não leva muito a sério. Pode passar dias sem desfrutar de verdadeira comunhão com Deus. Pode ler sua Bíblia de um modo casual, negligenciando a meditação na Palavra de Deus e gasta pouco ou nenhum tempo em oração.
Estes deveres negligenciados ou executados de modo indiferente na sua vida cristã são pecados (pecados de omissão), mas não o perturbam como o pecado do qual deseja ser liberto. Bem, o ponto que estamos procurando enfatizar é que o cristão não deve esperar obter libertação do pecado que o perturba enquanto não começar a tratar os outros pecados com a mesma seriedade.”

     Quem quiser mortificar qualquer forma perturbadora de lascívia na sua vida, de modo completo e aceitável, deve cuidar de ser igualmente diligente na obediência a todos os deveres aos quais Deus o chama. Deve, também, saber que todo desejo pecaminoso, toda omissão no cumprimento do dever, entristece a Deus.
Enquanto houver um coração enganoso, que esteja preparado para negligenciar a necessidade de lutar pela obediência em cada área, haverá uma alma fraca que não está permitindo que a fé execute toda sua obra. Qualquer alma que se encontre numa condição tal de fraqueza, não tem o direito de esperar o sucesso na obra da mortificação.  

     Na continuação do livro, Owen fala sobre esse desejo em “mortificar o pecado”, como algo egoísta e falho, isso mesmo, egoísta porque o que queremos é apenas um momento de paz interior e um alívio para nossa consciência. Por esse motivo, não ganhamos a guerra contra a carne. Tememos as conseqüências de tal pecado, mas não observamos o amor de Cristo na Cruz, nem muito menos nos achegamos a um relacionamento sincero com Ele. Vivemos em função de uma libertação parcial, e não de uma cura total em nossa vida espiritual. Potencializamos o nosso pecado de estimação e esquecemos-nos dos pecados de negligencia com a palavra e oração.  Essa negligência leva a frieza e ao individualismo, nos faz esquecer princípios básicos, e como uma planta que, quando não regada vai desfalecendo, assim são todos os que negligenciam a observar a palavra e vida de Cristo.

     Se ficarmos bitolados a um pecado, em algum momento, as nossas forças não irão suportar e cairemos nele, ficaremos arrasados por ele e poderemos até mesmo, nos entregar a esse pecado. Não somos fortes o suficiente para vencermos se não estivermos com a vida alicerçada em Cristo e sua Palavra.

     Portanto, assim como Cristo se entregou por completo, para nos salvar por completo, precisamos fazer morrer o nosso homem completo! Nossas orações precisam ser direcionadas para toda uma vida, “para toda uma morte”, pois assim teremos a verdadeira vida. "purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus" (2 Cor. 7:1).

     Que Deus nos ajude a deixar de lado o que maltrata a nossa alma, para que possamos identificar tudo que maltrata ao Espírito Santo. Que Deus nos ajude, por meio do Espírito a chorarmos e ficarmos tristes, todas as vezes que passamos o dia sem ao menos falar com Ele e que isso tenha o mesmo peso, sintamos o mesmo arrependimento por esse pecado, assim como de outros.

     Termino aqui, com o mais um trecho do livro de Owen: “Pense nas muitas maravilhosas manifestações da providência de Deus na sua vida. Pense nas provações que Ele transformou em bênçãos para você e nas provações das quais Ele o poupou. Pense em todas as maneiras como Deus o tem abençoado. Depois de todas estas manifestações da graça de Deus por você, poderia continuar a permitir que os desejos pecaminosos endureçam seu coração contra tal graça? Perturbe sua consciência com a ajuda de tais pensamentos, e não pare enquanto seu coração não estiver profundamente tocado pela sua culpa. Enquanto isso não se der, nunca fará esforços vigorosos para mortificar estes desejos pecaminosos.”.


   

Gustavo Abreu



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