Muita gente pensa que Deus concede super poder aos novos convertidos, algo como o raio de Zeus para os mortais. “A oração tem poder” é um jargão evangélico arcaico e mais poderoso que a própria oração, pois ao mesmo tempo que é, de fato, apenas um instrumento para invocar os desejos de Deus, nós, através deste provérbio, a transformamos em um “feitiço contra o feiticeiro”, pois a usamos rotineiramente para encurralar Deus no octógono, com o propósito de retirar o cinturão de Sua vontade.
Esta queda de braço é antiga, porém se tornou mais tangível com o advento do neopentecostalismo. Determinar a bênção, marcar hora para o milagre e requerer direitos supostamente adquiridos, é, sem margem de erro, se posicionar como quem é superior à divindade invocada, que passa a ser serva e funcionária de quem esfrega a lâmpada. A oração, neste sentido, é um método intelectual para manipular um deusinho bom e submisso. Não os pedidos, mas as imposições realizadas são melhores para quem está do outro lado da linha.
Isto acontece por todos os oito lados do octógono espiritual, local onde desafiamos Deus. Mas a verdade é que Ele não se presta, como o gênio da lâmpada, a realizar os nossos desejos e nem está à nossa disposição. A oração é um ato de humildade para se dizer a Deus que nada podemos fazer, que não podemos nem mesmo terminar a mesma oração sem o agir constante dele. “Contudo, não se faça a minha vontade, mas a Tua” [Lc 22.42], foi o que o próprio Jesus disse em angústia e aflição no caminho de sua morte. Apesar do sofrimento efêmero, ele tinha a certeza de que o Pai, dotado de uma eternidade de experiências, conhecia o final derradeiro daquela história, pois era ele mesmo o seu próprio designer. A evidência incontestável é que o Cristo ressuscita ao terceiro dia.
Deu certo com Jesus! Sempre dará certo quando agirmos como o mesmo e aprender com ele. A vontade de Jesus era que aquele cálice de sofrimento passasse de fato. E se Deus o atendesse naquele momento? Meus pecados não estariam perdoados e, portanto, este texto nunca seria escrito por mim. Você jamais leria um artigo no qual estivesse a palavra “Deus” em seu título. Portanto, a vontade de Deus é a única coisa à qual devemos identificar e considerar diante do que queremos. Nossa ilusão é pensar que estamos observando uma lógica em nossos projetos, de tal forma que não haverá falhas ou surpresas, de maneira que não precisamos de outra vontade além da nossa, e de modo com que os nossos caminhos e pensamentos fossem maiores que os de Deus [Rm 11.33]. Depois, olhamos para trás, e percebemos que nada poderia ser diferente do que Ele queria.
Às vezes, Ele parece demorado e tardio em nos defender [Lc 18.7], mas tal fato é apenas fruto do nosso ponto de vista. O único motivo pelo qual Ele sabe o futuro, não é porque ele é Deus, mas sim pelo fato de que é Ele quem o cria, e que por isso, “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que o amam” [Rm 8:28]. Então apenas ame, chore, peça, clame e se derrame perante a Sua grandeza. Deus não é manipulável, nem convencível, não pode ser usado em nosso favor. Chega de chamá-lo ao octógono para dizer o que deverá ser feito. Você não faria isto com o Anderson Silva, não é mesmo?!
Marlon Bruno
ARTIGO PUBLICADO ORIGINALMENTE EM: http://ultimato.com.br/sites/jovem/2012/12/10/deus-no-octogono/
Intercâmbio feito por Rodrigo Ribeiro
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