quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Reflexões sobre o Namoro Cristão


             Há aproximadamente um mês atrás, estivemos com alguns casais de namorados e noivos da 4.ª Igreja Presbiteriana de Campina Grande que acabou ensejando estas poucas e mal escritas linhas, sobre o tema “NAMOROS SUPERFICIAIS”. Nosso objetivo será então, longe de exaurir o assunto, trazer apenas uma breve reflexão sobre a realidade dos relacionamentos de namoro na hodiernidade, ressalvando algumas características do namoro cristão.

            Introdutoriamente, convém situar a temática na realidade dos relacionamentos dos nossos dias (porque já não sei mais se semanticamente deve ser tratado como modernidade, pós-modernidade ou contemporaneidade, o que só reafirma a tese de que é um tempo relativizado na própria definição). O fato é que os relacionamentos afetivos assemelhados aos vínculos familiares ou tendentes a esses, são marcados pela superficialidade. Segundo os psicólogos de plantão na net, registra-se que o tempo médio de duração dos namoros é de 1 semana a 3 meses. A espécie da moda nesses frágeis e efêmeros relacionamentos é o de “ficar” e/ou de “pegar”, que revelam tão somente a falta de compromisso das partes, ou alguma necessidade de autoafirmação pautada num hedonismo incontrolável.

            A primeira verdade que é necessário fique bem gravada nos bits da rede, e no íntimo dos corações do jovem cristão, que passa por essa fase de paquera, namoro e noivado é que Deus se agrada de compromisso, posto que família é o projeto de Deus para o homem. No ato da criação, após avaliar toda a sua obra como efetivamente algo “muito bom” (Gn 1.31), o criador percebeu que algo não era bom naquele cenário, alguma coisa gravitava destoando de toda a harmonia primitiva, que era o simples fato do homem estar só (Gn 3.18). Deus então institui a família como união de homem e mulher, numa atmosfera de responsabilidade (“deixa o home pai e mãe”), compromisso (“se une à sua mulher”) e união (“tornando-se os dois uma só carne”, Gn 3.24).

            Em contraposição a esta verdade, o “ficar” ou o “pegar” acabaram por se consolidar como alguma forma de diversão entre os relacionamentos, cujo objetivo é satisfazer a libido ou algum outro desejo utilitarista de usar o corpo do outro, beijar muito, e quem sabe ao final poder contar alguma vantagem de tudo isso numa espécie de autoafirmação social. Parece óbvio que Deus não criou o homem e mulher para ser usado como objeto de pretensões sexuais, mas para uma disposição mútua de servir um ao outro, buscando através da experimentação da vontade de Deus juntos, a construção de um projeto comum que redunde em louvor e glória para Ele, que é a verdadeira definição do amor entre um homem e uma mulher.

            Gostaria, portanto, de arrolar algumas características do namoro cristão, que julgamos sejam pautadas em valores bíblicos que apontam para esse padrão de família que o homem historicamente tem tentado distorcer, para dar evasão as suas concupiscências e inclinações pecaminosas:

a) Interesse no bem-estar e realização do outro. Diante do que está exposto nos papéis de cada membro da família nas cartas de Paulo aos efésios e aos colossenses, me parece hialino que o interesse maior na constituição da família não é uma espécie de realização pessoal, uma busca pela felicidade como podemos vislumbrar nos contos e fábulas de príncipes e princesas. Antes, o jovem cristão que busca constituir família está numa busca racional e focada em construir um projeto com outra pessoa e sua prole por vir, no intuito que sua contribuição seja decisiva na realização do outro e dos filhos, como pessoas, profissionais, cristãos, etc. A busca fantasiosa pela felicidade na realidade é uma busca sacrificial de serviço que traz ao seguidor de Cristo a realização de sua própria identidade de servo;

b) O namoro cristão não é exclusivista. Há uma tendência separatista quando nos apaixonamos, de nos afastarmos das pessoas que mais nos amam (pais, irmãos, amigos) e nos isolarmos com nosso namorado(a), dentro de uma redoma intangível. Por inferência lógica, se a família é o projeto de Deus para o homem (sentido lato) então este deve priorizar a sua, até porque a experiência familiar atual (relacionamento com pais e irmãos) revela muito da perspectiva da família que se está querendo constituir. Além do que, não se pode olvidar do princípio bíblico dos filhos quanto aos pais à medida que aqueles amadurecem (Sl 127.5);

c) O namoro cristão é tempo de conhecimento e não sinônimo de intimidades físicas. Devemos, a bem da coerência de nossa pregação, e da autenticidade de um evangelho que faz diferença em meio a uma sociedade corrompida, aprender no namoro a demonstrar carinho com respeito, buscando a familiaridade, sem necessariamente defraudar o outro. (Ef 5. 25-28). Brinco nas palestras sobre namoro que por causa da máxima que “o amor é cego” é que nossos jovens namoram em braile! Há na realidade, no meio de uma juventude que acostumou-se a consumir e a receber a informação pronta sem muitos questionamentos, um erro de definição relativo ao namoro. Todos aproveitam o sentimento e a oportunidade do namoro para “dar uns amassos”, e “curtir” ao máximo a efusão de hormônios, salivas e outras excreções possíveis nos contatos físicos entre namorados. A verdade é que o modelo de namoro que copiamos de filmes, novelas, seriados, revistas, etc., distancia-se a passos largos daquele que seria conveniente para o jovem cristão que assume seu lugar na história de fazer diferença no meio da sociedade. Namoro, como um primeiro nível de compromisso, baseado num vínculo mais frágil que o noivado e consequentemente casamento, deve caracterizar-se principalmente pelo momento de conhecer o outro, suas afinidades, gostos, convicções, valores, família e principalmente sua fé, propósitos de construírem um projeto juntos e ainda sobretudo, os defeitos com os quais se terá de conviver até que a morte os separe.

d) Amizade e companheirismo é fundamental! Se alguém me pergunta quem é a pessoa com que deveria casar, eu oriento que comece ampliando o leque de suas opções passando a considerar como potencial namorado(a), seu melhor amigo(a). Não há como imaginar a constituição de uma família entre duas pessoas que não se estimem, que não se admirem e que tenham um sincero desejo de ver o outro bem sucedido. Esses valores são construídos em amizades sinceras e perduram durante longos anos de casado, consolidando-se quando a beleza, o viço da juventude não mais existirem. Isso evita que você venha a se enganar com pessoas interesseiras que se aproximam muitas vezes tirando levar vantagem de você em alguma situação. Para desenvolver uma grande amizade é necessário demonstrar carinho, respeito, manter um canal de comunicação fulcrado na sinceridade e companheirismo.

            Para finalizar porque minha prolixia fica logo evidente, deixo para outras oportunidades discutirmos alguns outros valores para o namoro cristão, bem como da necessidade de com paciência e direção do Espírito Santo observarmos o tempo de Deus para cada etapa em nossas vidas.  Gostaria ainda de deixar registrado aos amados que tiveram paciência de ler até este ponto que minha oração para essa juventude evangélica é de que entendam que liberdade e responsabilidade não são duas linhas de sentidos opostos, mas precisam conviver paralelamente na mente e corações da nossa mocidade como marcas de uma geração comprometida com Deus e com os valores do reino.

Que Deus abençoe aos amados.

Nossa gratidão especial a Deus e ao irmãos da 4.ª IPCG que oportunizaram essa experiência.

Pelos laços do Calvário.

Itiel Alves
Igreja Presbiteriana do Catolé
Campina Grande - PB

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