quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O sabor amargo do Festival Promessas



Que mundo construímos? Quem é o inimigo?
Qual é a nossa religião? Não aprendemos a lição!
Como estamos longe de Deus... caminhamos para trás...
A cada vida ceifada por bombas lançadas daqueles que se dizem cristãos!
Não se engane!
(Musica De Deus não se zomba, Banda Fruto Sagrado, CD O que na verdade somos)

                No ultimo dia 10 de dezembro, a Rede Globo de Televisão realizou o chamado Festival Promessas, que se tornou um dos especiais de final de ano da emissora no dia 18 também de dezembro. O festival foi, digamos, a comemoração do premio Troféu Promessas, também promovido pela emissora. Reunindo cerca de 20 mil pessoas, 10% do esperado, o festival foi gravado no aterro do Flamengo, zona sul da cidade do Rio de Janeiro, contando com a participação de Pregador Luo, Diante do Trono, Eyshila, Fernandinho, Damares, Fernanda Brum e outros. O festival foi alvo de muitas criticas e o povo evangélico brasileiro esteve (e está) dividido quanto a aprovação do mesmo.

                Falando um pouco do público, que não foi o esperado. Especulou-se que a ausência de grandes nomes como o de Aline Barros e Cassiane foi o grande motivo da ausência das 200 mil pessoas esperadas. Argumento rebatido pelo fato de que o próprio Diante do Trono costumeiramente reúne publico até maior em seus shows a céu aberto. Outro ponto para justificar o baixo número foi a acessibilidade ao local, haja vista que o publico que o festival atinge é majoritariamente da classe B, C, D e E [1].  Isto é, como o aterro do flamengo é área nobre, a maioria das pessoas teria dificuldade para chegar ao local. Porém, se lembrarmos do show de Roberto Carlos ano passado na praia de Copacabana, que levou cerca de 1 milhão de pessoas em forte chuva, disto entendemos que quem gosta comparece.

                Ao que parece, as razões para a não aceitação da proximidade dos conhecidos globais são outras além de condições sociais, de infra estrutura ou de gosto musical. Das quais listo algumas:

1º - A globo realizou uma premiação quase que totalmente desvinculada das grandes denominações evangélicas, organizando o Troféu Promessas e o Festival Promessas;
2º - Digamos, o pé atrás que os mais conhecedores da palavra possuem com a globo;  
3º - O uso do apelo espiritual e gírias "gospeis" de origem doutrinária neopentecostal (totalmente duvidosas e questionáveis) enfaticamente usadas em todo o marketing dos eventos.

                O primeiro ponto por si só é esclarecedor, pois para quem acessou o site do evento, viu  no regulamento do troféu que um Comitê Gestor, responsável escolher os indicados, era composto pelas principais gravadoras e mídias gospeis[2]. Por aí se imagina que os critérios de indicações foram totalmente desvinculados das tendências de moda musical gospel atual (risos tendenciosos).

                Sobre esse segundo e terceiro ponto vamos observar a partir do próprio site do evento, afirmando que
 “Mais do que uma simples premiação, o Troféu Promessas torna-se instrumento para honrar a vida daqueles que se dedicam a exaltar fielmente o Senhor por meio da musica [...] Gerações foram impactadas pelas letras inspiradas de inúmeros cantores e grupos de louvor que iniciaram, há anos, uma história que se perpetua ao longo do tempo. As promessas de Deus têm se cumprido da musica evangélica. Prova disso são as composições inovadoras, mostrando que inspiração e unção fazem, sim, diferença na vida das pessoas.” [3]

Poder-se-ia argumentar facilmente que as justificativas para que a premiação exista são de caráter econômico e intere$$e no mercado fonográfico gospel, haja vista que com toda pirataria, os evangélicos ainda são um segmento que valoriza a compra de CDs originais. Ainda admitindo que a Globo teve a melhor das intenções com a criação do premio e exibição do festival, os que ainda estudam a bíblia e sabem distinguir o que é musica de qualidade e mesmo não tendo nascido há muitos anos, conseguimos lembrar do tempo em que cantávamos “distante de ti Senhor, não posso viver, não vale a pena existir” ou “pai eu me rendo diante da tua vontade”.

Ah! bons tempos em que se fazia ao menos um esforço para expressar o amor e submissão a Deus e sua vontade, mas os tempos mudaram e o que se vê hoje é “vão dizer que você nasceu pra vencer, que já sabiam que você tinha mesmo cara de vencedor ... quem te viu passar na prova e não te ajudou, quando ver você na benção vai se arrepender, vai estar entre a platéia e você no palco...” e não para por aí “minhas palavras liberam minha fé e o que declaro muda situações”.

Esses são apenas alguns exemplos das musicas do cenário gospel atual. Elas são as composições inovadoras relatadas na citação [3] acima, essas sim mostram os efeitos da inspiração e unção dos compositores fazem diferença na vida das pessoas... Realmente, o premio está justificado! Com a devida licença, vou fazer uso de um comentário que vi no facebook sobre o festival:

“O Evangelho foi pregado? Através de músicas como "Agora é só Vitória", "Sabor de Mel", "Sonhos de Deus" etc? Músicas antropocêntricas não evangelizam. Na verdade, trazem uma mensagem agradável ao ego humano! E não interessa aos seus intérpretes se utilizam textos descontextualizados para escrever canções tão tolas!
"Desde que pregue o Evangelho..." O de Jesus ou que foi inventado por aqueles que não querem se dobrar diante das imutáveis verdades das Escrituras!
[4]

                Deus é o que é, ele é o EU SOU!  Suas palavras e feitos serão conhecidos por todos, a própria natureza já o revela. O verdadeiro evangelho não precisa da Globo. Os cantores, músicos e compositores do evangelho da cruz visam a gloria de Deus e não reconhecimento. A Rede Globo precisa dos evangélicos, porém a recíproca não é verdadeira. Deus não é exaltado por festivais ou prêmios, nem tão pouco sua palavra é eficazmente pregada através de grandes ajuntamentos, mas é pregada eficazmente pela vida de quem traz as boas novas, o que na minha opinião, não condiz com a Globo.
               
                 O grande problema não é somente o evento em si ou as músicas entoadas, pois outros como este já aconteceram em outros momentos e vão acontecer como também ainda ouviremos muitos outros CDs no mesmo estilo antropocêntrico. O grande problema é a divulgação, em rede nacional, de um evento que NÃO REVELA o autêntico sentido de ser um cristão evangélico como também NÃO REVELA o autêntico evangelho da cruz e isto dá espaço uma imensidão de heresias além das que já existem. Ou seja, ao falar ou cantar atrocidades e besteirol gospel em nome de Deus está se prestando um desserviço ao reino de Deus e assim, servindo de pedra de tropeço para os fracos desconhecedores da palavra, que nesse Brasil imenso, não são poucos.

                Em poucas palavras, não considero o Festival Promessas como uma autêntica manifestação de um verdadeiro evangelho. Os argumentos estão acima. Leia e confirme-os na palavra!

Soli Deo Gloria
                

 por Felipe Medeiros - @felipe_ipb              



[1] ______________________. Economia das Religiões: Aspectos locais e ascensão social. Fundação Getulio Vargas. Agosto de 2011.
[3] Disponível em http://www.trofeupromessas.com.br/o-trofeu/ . Acesso dia dia 19 de dezembro de 2011.
[4] Disponível em http://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=206047472812293&id=100002211256528 . Acesso dia 19 de dezembro de 2011.

Comentários
8 Comentários

8 comentários:

  1. Explanação esclarecedora. A Deus toda a glória!

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  2. Concordo em partes, Concordo que a intenção de que a globo só quer faturar muito, como diria o meu pastor: ser crente ta virando modinha, e outra coisa que ele sempre fala, que: as pessoas que estão no ministério não podem ficar cobrando pra ir pregar ou cantar/tocar, quando as comunidades acharem por bem levantam ofertas pra que eles sigam com o ministério, eles não devem querer enriquecer as custas da igreja, pois a palavra de Deus é gratuita, quando Deus achar necessário sempre serão abençoados. Concordo tbm que estão perdendo a essência nas composições das musicas, pois a Bíblia diz adorai a Deus, então as letras tem que ser de adoração a Ele. o ponto em que não concordo com a matéria é que na minha opinião temos Sim que ter eventos gospel, pois a igreja tem que ter "lugares" fora dos seus prédios habituais pra se divertir e aproveitar pra evangelizar, pois ai fora está cheio de "baladas" e atrações que o mundo oferece. mas tbm concordo é que não se pode perder a oportunidade de falar do amor de Jesus, principalmente quando estão na televisão ou em algum evento deste porte.

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  3. E aí, pessoal! Paz :)
    Curti muito o texto, Felipe! Soli Deo Gloria MESMO! \o/ Estava conversando com uma amiga sobre esse problema do antropocentrismo. Agora, parece que as coisas partem de nós, sabe? A verdadeira adoração é aquela que vem o próprio Deus faz brotar nos nossos corações. Só podemos adorá-lo porque Ele nos inspira e nos estimula a fazer isso. Sinto MUITA falta da época boa do Diante do Trono, sinto muita falta de musicas que sejam realmente boas e edificantes, tanto na técnica musical quanto no conteúdo. Infelizmente, vemos uma defasagem enorme. A começar pelos ministérios de louvor das igrejas. Creio no que a Bíblia diz: '...louvai-o com arte e com júbilo.". Tem que ter alegria e espontaneidade? LÓGICO! A adoração é dinâmica! Mas não displicente. É para o Rei. Portanto, é preciso arte: é preciso estudo. E o principal: é preciso CONHECIMENTO! Uma visão distorcida do Deus SOBERANO resulta em músicas que colocam o homem no centro. Quanto aos eventos, Rafael... Acho que devemos sim aproveitar para evangelizar, mas, no meu ver, o grand eproblema dos eventos é que eles produzem um efeito "cometa": é intenso, mas passa rápido. Um evento só terá efeitos realmente eficazes quando for resultado de uma obra que foi desenvolvida gradualmente, sabe? E creio que devemos utilizar os meios de comunicação, mas com limites. Como Felipe disse, não é o caso da Rede Globo. Temos muitos veículos além da TV que podemos utilizar para espalhar o evangelho. Basta termos a vontade e a sabedoria ;) É isso, galerinha! Curti mesmo, viu? Deus abençoe.
    Crendo no Eterno.

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  4. Na minha humilde opinião, fiquei muito feliz com o evento, ignorei a Globo e foquei somente em todas aquelas pessoas que podem ter sido impactadas pelo Espírito Santo através dos louvores. "Não julguei, para não serem julgados".

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  5. Rafael, a questão da diversão é um tanto controversa. Acho muito complicado alguém se divertir ouvindo uma música totalmente desmantelada. É melhor um bom show de Toquinho, Chico Buarque, Vander Lee. Noâmbito cristão temos Gladir Cabral, João Alexandre, Jorge Camargo, Nelson Bomilcar e outros. Aí sim é diversão com qualidade.

    Outra coisa: não vi nenhum evangelho sendo pregado. Apenas uma ideia de evangelho diluido e centralizado no homem.

    Unknown, na minha humilde opinião, se alguém foi tocado pelo Espírito Santo, não foi através dos "louvores", mas apesar deles.

    Vejam o nosso texto sobre o Trófeu Promessas.
    http://ump-da-quarta.blogspot.com/2011/11/and-oscar-goes-to.html

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  6. Rafael em resposta a você faço minhas as palavras do Pastor Renato Vargens :

    "Afirmar que seus shows fazem parte de um ministério cristão é no mínimo afrontar o conceito bíblico de serviço."

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  7. Carol Acioli

    Só o seu comentário já renderia um ótimo texto ... Agradeço a visita ao blog !

    Soli Deo Gloria !

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  8. Roseli Mel ( Unknown )

    Eu sinceramente fico bastante triste com o evangeliquês atual, sinceramente me dói toda essa volta ao passado. Vende-se indulgencias outra vez, pratica-se superstições, unções apostólicas ... Sinceramente estou farto !

    Martinho Lutero se sentiu assim há 494 anos, publicando 95 teses que expressavam sua insatisfação com o cristianismo do século XVI.

    Eu sou uns dos Martinhos Luteros da atualidade, considero-me discípulo do Deus altíssimo, porém isto você pode questionar... Agora questionar a palavra não, certo ? Nas entrelinhas você questiona a palavra, sabe de que forma? Deixando de ser um ouvinte e espectador ávido de tudo que chega a seu ouvido.

    Lembra dos bereianos ? Eles eram ávidos em ouvir e experimentar na palavra a veracidade de tudo. Eles não separavam o espiritual do secular, nem nós o devemos !

    E quer mais uma marca do evangelho diluído atual? Eu te digo: Uso de textos fora de contexto! Foi assim que as maiores heresias do mundo começaram. O " não julguei par anão seres julgados " é como se fosse quase um imposição gospel. É como se quando eu ouvisse ou lesse isto de algum cristão contra mim, fosse motivo de " é , vou ficar na minha "

    Paulo em Atos 13, não teve papas na língua para falar que Barjesus (do grego, filho de Jesus) também chamado de Elimas, era filho do diabo ( Atos 13:10) por pregar um falso evangelho. À luz da palavra não é difícil, aos que se dedicam a uma leitura apurada da palavra, enxergar o falso evangelho pregado na maioria das musicas do festival e o sincretismo global, agora alcançando os evangélicos. Daqui a pouco estaremos fazendo culto ecumênico com as baianas da umbanda, lavando as calçadas de várias igrejas evangélicas do Brasil e vai ter gente dizendo que isto é uma genuína forma de evangelizar. Embora muitos já estejam fazendo coisas parecidas (ungir objetos ou cômodos, peças de roupas abençoadas, sal grosso etc).

    Com muita dor no coração,

    Felipe Medeiros - @felipe_ipb

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