Tenho-vos
dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom
ânimo, eu venci o mundo.
João 16:33
e eis que eu
estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.
Mateus 28:20
b
Desde o
capítulo 13 até o 17, existe um longo discurso de Cristo que tem por objetivo
preparar os discípulos para a sua partida eminente, sendo necessário
consola-los e prometer um outro consolador, uma parte do Pai que estaria com
eles a ensina-los, fazendo lembrar de tudo o que Ele os havia ensinado (cap.
14:26). É interessante, como a presença de Jesus por todo aquele tempo, todas
as suas palavras e ensinamentos de maneira repentina seria tomada e os
discípulos de repente se viram às vésperas da partida daquele que significava
tudo para eles.
É imaginável que o sentimento solidão
os inundava ao entenderem a notícia da partida de Jesus. Eles estariam órfãos e
não somente isto, além de se verem numa situação da predição da morte do
Mestre, ainda são informados que passariam por aflições enquanto estivessem
nesse mundo. Embora tenha sido mais uma notícia que provavelmente os
entristeceu, antes disto Cristo havia ensinado várias lições que os ajudariam
em sua nova caminhada cristã.
No capítulo 13, Cristo deu exemplo de
humildade ao cumprir uma tarefa que era dever dos empregados do cenáculo: lavar
os pés dos discípulos. John MacArthur comentando um texto da última ceia[1],
diz que lavar os pés dos discípulos foi além de um exemplo de humildade, foi
também um exemplo da verdadeira santidade, de forma que:
A lavagem externa nada vale o coração
estiver contaminado. E o orgulho é uma prova segura da necessidade de uma
limpeza do coração. Cristo tinha feito uma observação semelhante para os
fariseus em Mateus 23.25-28. Agora ele lavou os pés dos discípulos, ilustrando
que até mesmo crentes com corações regenerados precisam ser lavados
periodicamente da corrupção externa
do mundo.
Na intensificação
da preparação para os discípulos para a sua ida, Cristo os lembra que as
aflições do mundo podem ser superadas com humildade e santificação. Nesse
processo de santificação, era necessário vigiar e estar periodicamente se
lavando de todo o pecado. Porque o que é o pecado se nada mais do que
considerar que a minha forma de fazer algo é melhor que a de Deus? Isto é de
longe humildade. A santificação passa por um processo de cotidianamente negar a
si mesmo. Cristo afirma que mesmo sendo Mestre e Senhor (cap. 13:14-15) lavou
os pés para que ele fosse tomado como exemplo. Cristo é Senhor, mas foi o menor
servo, negando a si mesmo como exemplo. Em sua partida, todos os seus não
estariam órfãos desse exemplo, pois o Consolador estaria com eles para os
lembrar disto tudo.
Após o lava-pés
os discípulos voltam a ceiar e Jesus indica que será traído por um dos próprios
discípulos. O verso 22 conta que os discípulos olharam uns para os outros, como
quem analisa, mas não foram capazes de saber sobre quem Jesus se referia. Porém
a lição aqui talvez fosse mais pessoal, semelhante ao que Paulo escreve na
primeira carta aos Coríntios (11:28-32), Cristo estava promovendo um exame
introspectivo, um julgamento que cada um deveria fazer de si mesmo sobre seus
pecados ao lembrar que o Salvador de suas vidas houvera deixado aquele
sacramento como lembrança de que ele voltaria para buscar os que são realmente
seus. Essa análise deve ser diária, contudo sabemos que ela ganha mais
intensidade quando nos lembramos do sacrifício do nosso Senhor na cruz.
Na continuação do discurso, Cristo enfatiza o
escrito de Levítico 19.18 sobre o amor ao próximo. Algumas bíblias tem o título
dessa passagem como “o novo mandamento”, mas aqui não há nada de novo, o texto
de Levítico é bem claro: “Não te vingarás
nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a
ti mesmo. Eu sou o Senhor”. Aqui é ensinado
que os que amam uns aos outros são reconhecidos como discípulos de Cristo,
porém não é qualquer amar com qualquer amor, talvez o sentido de “novo
mandamento” seja no sentido de amar “assim como eu vos amei” (verso 34). O
padrão aqui se torna mais elevado, pois o vinculo do amor é uma obrigação aos
que fazem parte do Corpo de Cristo, a prova desse elevado padrão pode ser
melhor entendida quando consola os seus discípulos no capítulo 15:13, Ele diz
que ninguém tem amor maior do que dar a própria vida pelos seus amigos. Isso é
magnífico, pois a comunhão com o irmão é um meio de graça para que as aflições
do mundo possam ser vencidas. Cristo está conosco através de todos que são
juntamente Corpo!
Chegando no capítulo 16, há um conforto para
todos os cristãos, prometendo o Espírito Santo, o consolador, aquele que
convenceria o mundo do pecado, da justiça e do juízo (verso 8). Era necessário
que Ele morresse para que sua presença fosse oferecida a todos que cressem na
Sua justiça. Para que muitos de todas as tribos, povos e raças pudessem
partilhar das mesmas bênçãos que os apóstolos desfrutaram durante a presença de
Cristo encarnado. Agora, era necessário que Ele fosse para que todos os salvos
fossem confortados com a promessa “eis que estou convosco todos os dias até a
consumação dos séculos” (Mt 28:20b). Seu corpo físico seria morto, mas Ele
mesmo estaria com cada cristão até a sua volta triunfal, mesmo em meio às
garantidas aflições que todos, sem exceção, haverão de viver. Contudo veja,
mesmo no caminho de sua morte, Jesus já sabia que a sua vitória estava
garantida. Que esplêndido! Era a morte da morte na morte de Cristo!
Ele esteve conosco, está e sempre estará como
prometeu. Ele é digno de toda honra e poder, venceu a morte e virá para nos
buscar. É este Cristo que ensinou tudo isto para que tenhamos paz nele, nós
nunca passamos por aflições sozinhos porque Deus está sempre em ação, e mesmo
que pareça que Ele não está respondendo, Ele está ao seu lado dando força nas
mais diversas situações, através da sua Palavra, da comunhão dos santos, do seu
Espírito. Ele está vivo, Ele ressuscitou!
[1] MACARTHUR, John. A morte de Jesus. Cultura Cristã, p. 36-53.
Felipe Medeiros
felipealexandremedeiros@outlook.com
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