Membro da IV IPCG, missionária ligada a Missão Novas Tribos do Brasil, prega o evangelho entre os Indios Kanamari, no Amazonas. Formada pelo Seminário Betel Brasileiro, em João Pessoa. Nesta entrevista a Missionária Du Carmo fala sobre sua conversão, o chamado para missões transculturais, a Missão Novas Tribos do Brasil, Indios Kanamari e muitos outros assuntos.
1 – Conte-nos um pouco sobre sua conversão e como se deu o chamado para missões transculturais?
Bem, quando completei dez anos de idade meu pai deixou a casa e foi morar com outra mulher. Assim, minha mãe ficou sozinha com seis filhos para cuidar. Desde então, tudo em nossas vidas mudou, mas em meio a tudo isso, minha avó por parte de mãe e uma tia já haviam conhecido o Senhor e nos levava pra igreja. Eu não gostava, pois eu era muito envolvida com a igreja católica, mas lá na igreja congregacional eu conheci a missionária Dione e achava muito bonito ela falando, e lá eu tive a oportunidade de ter uma boa instrução na escola dominical. Mas depois disto eu comecei a me rebelar e me envolver com álcool e não queria ir pra igreja de jeito nenhum. Mas já morando nas Malvinas, eu conheci a congregação da igreja presbiteriana central, a qual hoje é a IV Igreja, e fui convidada a conhecer. Nesta época era bem pequena e não tinha nenhum adolescente ou jovem. E na escola eu evangelizava algumas amigas que foram se convertendo e indo para IV igreja, mas eu mesmo não queria nada com Jesus. Então, uma dessas minhas amigas me convidou pra ir ao batismo dela e eu nem acreditei, mas era época de são João e eu queria ir para o parque do povo. E realmente fui. Depois de um tempo lá ouvi uma voz que me dizia aqui não é seu lugar. Eu não entendi, pensei que já estava embriagada, mas eu não tinha bebido naquele dia, e aquilo se repetiu. Então resolvi visitar o cantinho da paz, o qual eu havia participado da fundação, e lá eu percebi que precisava mudar de vida. Eu resolvi ir para o batismo da Sandra e da Josenilda e foi assim que ao vê-las se batizando eu pensei que poderia ser o meu. Não contei conversa, procurei o Rev. José Alves e lhe falei que queria entregar minha vida pra Jesus. Eu não lembro mais o dia, mas já tinha 15 anos. Desde então, sirvo ao Senhor e depois todos da minha casa foram entregando suas vidas pra Jesus.
QUANTO AO CHAMADO:
Deu-se logo depois que me converti. Eu tinha um desejo muito grande de fazer mais pela igreja, pois na época sofríamos muito sem um pastor fixo e eu queria saber mais para poder ajudar mais. Um dia eu tive sonho colhendo trigo e muitas frutas, mas o caminho pra isso era bastante difícil e eu sofria muito e me machucava bastante, mas eu não entendi nada do sonho e para mim era apenas um sonho. Mas um dia, indo para uma visita junto com Elizângela, uma irmã da Assembleia de Deus que eu nunca tinha visto nos parou no caminho e me disse: - Deus mandou eu te dar este verso da palavra dele. É uma confirmação pra você era o verso de Isaias 43:6. Nessa época eu estava de namorado e estávamos orando pra casarmos. Então pensei: é a confirmação do meu casamento. Mas que nada. Quando li o verso não entendi nada. Procurei no domingo o seminarista, hoje Rev.Fabio Brasileiro pra conversar e ele me falou que Deus estava me chamando pra obra missionária. Eu não entendia nada sobre missões, mas eu disse pra Deus que eu estava disposta a dar a minha vida em sua obra e assim começou o processo de renuncias. Terminar o namoro, sair de casa, deixar a igreja, os meus planos pessoais. Mas tudo valeu a pena e eu faria tudo de novo se preciso fosse. Em seguida começou o processo de avaliação junto ao conselho da igreja mãe, a IPB CENTRAL. Fui aprovada e no ano de 1994 fui pra o Seminário Betel Brasileiro com o apoio da mesma. Lá no Seminário eu ouvi a necessidade de tradução de Bíblia entre os povos tribais quando eu dava uma aula sobre a Guatemala. Lá havia apenas um casal da Sil trabalhando com os descendentes dos Ikas e Maias. Diante desta situação, eu falei pra Deus que estava me dispondo para esta obra. Assim deu-se meu chamado transcultural quando eu ainda fazia meu segundo ano de seminário. E não esquecendo: meu pai voltou pra casa depois de 16 anos fora, chegou no dia da minha formatura do seminário e se converteu em 2004. O nosso Deus é fiel ele sempre cuida dos seus.
2 – Qual o grande desafio da Igreja hoje no tocante a missões?
Eu acredito que a igreja precisa atentar para sua tarefa suprema que é a realização de missões. Ela precisa cumprir o que está escrito em Mt.28:18-20, Mc.16:15, e isto se dá quando ela conscientiza a cada salvo da sua responsabilidade de falar de Jesus aonde ele estiver, pois lá é o seu campo missionário. Outro desafio é que a igreja precisa tirar os olhos de dentro de si mesma e olhar pra os campos, que estão brancos pra ceifa. Hoje a preocupação está em construções monumentais, grandes reformas, placas denominacionais e na aparência da igreja. Não que essas coisas não sejam importantes. Os membros precisam de conforto, um lugar agradável. Mas deixar missões por isto é onde está o erro de muitas igrejas hoje. Precisamos lembrar que o rebanho precisa ser pastoreado de todas as maneiras e a necessidade de alimento espiritual genuíno está gritante em nossas igrejas. Precisamos primeiro cuidar dos nossos e desenvolver neles a visão missionária. Isto também é realizar missões. Outro desafio da igreja hoje é preparar a próxima geração para dar continuidade a visão e execução no que diz respeito à realização de missões. Como será o futuro de missões se esta geração não for preparada e se a mesma não tem a visão correta de missões? Outro desafio que a igreja tem é de enxergar o trabalho dos missionários de base, pois pra que haja um retorno do missionário que está no campo, é preciso que outros estejam na cidade trabalhando para eles, fazendo suas compras, pagando suas contas, sendo a ponte entre seus familiares e igrejas e etc. Eles são tão missionários e precisam de apoio quanto os que estão no campo. Outro desafio da igreja hoje está em realizar missões de maneira simultânea. Ela precisa despertar para esta realidade, e que ele pode sim fazer isto de forma responsável. Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da terra podem sim ser alcançado pela igreja hoje através das orações, contribuições e no envio daqueles que recebem um chamado específico. Eu sempre falo que não é difícil fazermos missões. O que nos falta é a visão das coisas do alto. Enxergarmos a necessidade das almas perdidas, o anseio pela volta de Cristo e a motivação correta em nossos corações para obedecermos ao IDE. A igreja tem a ordem, ela tem a mensagem, ela tem os chamados e ela conta com Aquele que arregimentou. Outro desafio em minha opinião que é um dos principais é a igreja ter a visão que, investindo em missões, ela está investindo no Reino de Deus. E a igreja que não realiza missões é uma igreja morta, pois ela está fora da visão de Deus, que é todas as etnias diante do trono e do cordeiro.
3 – Conte-nos sobre as angústias e alegrias de ser uma missionária longe da família, de amigos, da igreja local.
A alegria é de ser privilegiada por Deus de fazer parte daqueles que estão indo em busca dos perdidos e poder vê-los se rendendo a Cristo. O estar longe da família, amigos e irmãos é muito doloroso, mas com isto aprendemos a depender do nosso Deus em tudo e termos a consciência que faz parte do nosso trabalho a renúncia. Mas não é fácil não. E tudo é superado quando você traz à memoria o objetivo de estar lá entre o povo. A solidão e o isolamento são muito difíceis de encarar, mas a GRAÇA do nosso Deus é bem maior e é presença constante conosco. Sou grata a Deus por tudo que tenho aprendido durante estes quatro anos aqui.
4 – Você é ligada a Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB) e atua junto aos índios Kanamari. Fale-nos um pouco sobre o trabalho que você realiza.
O trabalho entre o povo Kanamari existe há mais de 40 anos e já houve uma igreja forte entre eles. Hoje não mais. Por isso estamos começando tudo do zero no que diz respeito ao aprendizado da língua e cultura do povo para, assim, podermos ensinar a palavra de Deus na língua que lhes fala ao coração. Meu trabalho é no estudo da língua e cultura, mas auxilio dando aulas de português e trabalho com a saúde também. Eu precisei me preparar melhor nesta área, por termos uma região endêmica de malária. Então hoje eu sou microscopista lá entre o povo também. Como é do conhecimento dos irmãos, a situação lá na área de saúde é bem precária e nós missionários é quem damos assistência quando a CASAI OU FUNASA não estão presentes. Eu trabalho junto ao Erick e Marita, um casal de alemães. Graças a Deus são ótimos colegas e juntos estamos desenvolvendo um bom relacionamento com o povo, visando cumprir o nosso alvo de vê-los salvos, pois cremos que o nosso Deus tem os seus em meio aos Kanamari. Também trabalho ajudando ao povo na construção das suas roças e quando fazem farinha. Ensino as mulheres a fazerem pão e bolo com aquilo que elas têm na roça. Sempre estamos ensinando como manter a higiene pessoal e coletiva na aldeia, e no ano passado nós os incentivamos a fazer roçados comunitários. Foi muito bom ver o resultado. E quando estamos na cidade, os ajudamos com documentação, aposentadorias, compras e até nos médicos, servindo de interpretes às vezes.
5 – Muitos dos nossos leitores são membros da IV Igreja Presbiteriana de Campina Grande que não te conhecem, pois vieram para a igreja após sua ida pro Amazonas. Deixe então uma mensagem para estes, e para os leitores em geral do nosso blog. Desde já, agradecemos a tua participação.
Minha mensagem é que eles amem ao Senhor e busquem ser fiéis a Ele e viver uma vida de acordo com o que a palavra nos ensina, lembrando sempre de quem são em Cristo: mais que vencedores. E que em meio aos desafios da vida busquem olhar pra Jesus, pois no final tudo dará certo.
A saudade de vocês é grande, mas ameniza quando lembro que vocês estão juntos comigo através das orações e apoio.
Continuem firmes no Senhor, pois vale apena servi-lo.
Eu agradeço a oportunidade e o privilegio da entrevista e espero que ajude a muitos que se sentem desafiados para obra missionária.
Miss. Du Carmo.
Entrevista feita pelo Presb. Cícero Pereira
@ciceroeiris
Bom não deixaria de comentar sobre a entrevista feita com a MIss.Maria do Carmo, bom pra mim é um privilégio ter com irmã,que admiro pela sua coragem e determinação pra fazer a obra do Senhor.Quanto a seu chamado pra trabalhar com Missões transcultural a cada dia a confirmação do nosso Deus.Dando sabedoria,graça e a misericórdias do senhor se renovando em sua vida.Vejo a mão do senhor sobre sua vida a cada experiencias ,aprendizado,amor e fé,dedicação a obra do senhor.Que o nosso Deus abençõe abundantemente sua vida,pra mi é um privilégio ser sua irmã admiro muito e que me espelho nela pela sua determinação,coragem e fé!!. Um grande xero a Miss: Ducarmo.
ResponderExcluirMuito boa a entrevista, nos fazendo conhecer mais desta mulher que é um exemplo de amor e dedicação à obra de Cristo. Continue sempre firme Do Carmo, que nos sempre estaremos juntos com vocês nas orações e no carinho!
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